Um filme LGBTQ+? ‘Quem vai ficar com Mário?’

Cinema: Trazendo debates a respeito da homofobia, do machismo e de famílias conservadoras, o filme “Quem vai ficar com Mário?” traz um elenco já conhecido para o público brasileiro em uma trama bem divertida, porém, rodeada de assuntos polêmicos.

O filme começa com o retorno de Mário (Daniel Rocha) à sua cidade natal após alguns anos, no Rio Grande do Sul, após alguns anos de sua saída da cidade para supostamente cursar administração e adquirir seu MBA. Ao chegar na cidade, já cheio de conflitos e com a vontade de assumir para a família sua orientação sexual, além de sua real escolha vocacional – ao invés de cursar administração, se formou dramaturgo e agora escreve e dirige peças teatrais -, Mário encontra-se com seu irmão Vicente (interpretado por Rómulo Arantes Neto), o primeiro a saber de sua homossexualidade.

Os Brüderlich – nome também da cervejaria da qual são donos – são uma família tradicional gaúcha, onde o conservadorismo se sobrepõe às novas ideias do século XXI, com pensamentos que hoje são considerados machistas, homofóbicos, etc. Levando em conta a necessidade de atualização no mercado, Vicente, que auxilia seu pai na direção da cervejaria, decide contratar uma coach para alavancar os lucros da empresa. Aqui vai um destaque para a atuação de Letícia Lima, a coach Ana, que, já na primeira aparição no filme, se mostra uma mulher forte e resistente à submissão comum nas cidades mais conservadoras de interior: para seu carro no meio da rua e rabisca um slogan que afirmava que “lugar de mulher é na cozinha”, trocando para a frase “lugar de mulher é onde ela quiser”, famosa frase feminista, trazendo para o filme esse debate contemporâneo.

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Quem vai ficar com Mário? Fonte: Reprodução

Em meio a uma discussão entre Antônio (pai de Mário), e Ana (Letícia Lima), na qual o tema principal era o machismo, Vicente resolve se antecipar ao irmão e assume sua homossexualidade, o que causa uma enorme surpresa em todos – inclusive no público -, cena que resulta em seu pai o expulsando de casa. Sobra até para a neta de Antônio, que dá uma lição de moral no avô, falando que esse discurso não combina com a época vivida. Porém, Antônio não aguenta e acaba sofrendo um infarto. Assim, Mário acaba ficando responsável por assumir a direção da empresa, aumentando ainda mais seu conflito e dificuldade em assumir quem realmente é. 

Dois personagens que não são tão importantes dentro da trama são o casal Salvador (Marcos Breda) e Bianca, cunhado e irmã do personagem principal, respectivamente. Salvador é um típico personagem brasileiro, fazendo piadas que só conseguem fazer rir por serem demasiadas ruins, bajulando seu sogro, o qual insiste em chamar de “papai”, contribuindo para a criação de um humor um tanto quanto pastelão, clássico do cinema brasileiro. 

Paralelo ao cenário do Rio Grande do Sul, o marido de Mário, Fernando (Felipe Abib), aparece desconsolado na companhia de teatro a qual os dois fazem parte acompanhado de Lana (Nany People) e Kiko e Bellboy, com ciúmes de seu companheiro com Ana, e preocupado que ele não tenha coragem de se assumir para a família. Inicia-se aí, um dos principais conflitos: Mário começa a se apaixonar por Ana. Os dois se envolvem, começam a conversar, saem juntos…Tudo indica que vai ser aquele clássico romance de filme, só com um detalhe: um dos personagens é gay.

A história se desenrola com o grupo de teatro todo indo para a cidade gaúcha e se hospedando na casa da família conservadora, onde se concentra a parte cômica do filme: com algumas piadas toscas homofóbicas, com tom crítico as tais, além da teatralidade envolvendo os personagens LGBTQ+, tendo que se passarem por pessoas héteros.

Um detalhe que também chama a atenção é a trilha sonora do filme, principalmente formada por músicas de pop-rock brasileiro, trazendo elementos da nossa cultura tanto na parte musical quanto nas referências ao povo gaúcho mostradas em alguns momentos.

Pra não dar muito spoiler vou apenas dizer que aí começam as principais confusões…Uma história de amor pra cá, uma piada pra lá e tudo vai se encaminhando para a história ser concluída na festa anual da empresa, onde seria inaugurada uma cerveja pink – fazendo referência ao pink money e produtos focados na população LGBTQ+-. 

Apesar de tratar de temas que são espinhosos para a sociedade, tais como o conservadorismo das famílias, a homossexualidade, o machismo, o poliamor, e até mesmo sobre a educação das crianças -a única do filme passa quase todo o tempo em que aparece no celular, gravando cenas e postando em redes sociais -, o filme acabou sendo odiado por alguns e amado por outros. Há quem afirme que o filme acabou sendo mais homofóbico do que trazendo mensagens positivas para a sociedade – principalmente pelas piadas clichês, mesmo que em tons críticos, e pelo estereótipo do homossexual trazido pelo filme, apesar de em algumas falas ser contrário a essa postura -, porém, existe também a parcela que tirou o chapéu para os debates trazidos, mencionando a importância de hoje em dia conversarmos sobre quem realmente somos e conseguirmos assumir essa verdadeira identidade para as pessoas que amamos.

E aí, você tem coragem de ser feliz?

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