‘Street Fighter’ 2026 repete erros de 1994 — e pode dar certo

O novo ‘Street Fighter’ filme 2026 abraça o visual exagerado dos games — exatamente como a versão de 1994 que fracassou. Analisamos por que a mesma estratégia pode funcionar 32 anos depois, num contexto onde fidelidade virou virtude e não vergonha.

Existe um tipo de fracasso que envelhece como vinho. O ‘Street Fighter’ filme 2026 parece ter entendido isso — e está apostando que a mesma receita que afundou a adaptação de 1994 pode ser exatamente o que o público quer agora.

O teaser do novo filme chegou e deixou uma coisa clara: ninguém está tentando fazer ‘Street Fighter’ parecer realista. Blanka é verde e monstruoso. Guile tem aquele cabelo impossível que desafia a gravidade. Chun-Li usa os coques icônicos. É tudo exagerado, colorido, fiel aos jogos — e, honestamente, meio ridículo. Exatamente como o filme de Jean-Claude Van Damme.

A diferença? Em 1994, isso foi considerado um erro. Em 2026, pode ser a jogada certa.

O que o filme de 1994 fez de errado (e de certo)

O que o filme de 1994 fez de errado (e de certo)

Vamos ser justos com o ‘Street Fighter’ original: ele tentou. Os figurinos eram fiéis aos personagens. Raul Julia entregou uma performance de M. Bison tão over-the-top que virou cult — foi, aliás, seu último papel antes de falecer, o que adiciona uma camada de melancolia a cada rewatching. Ming-Na Wen fez uma Chun-Li digna. O problema nunca foi a fidelidade visual — foi tudo ao redor dela.

O filme colocou Guile como protagonista em vez de Ryu. Ignorou completamente o torneio de artes marciais que é a espinha dorsal de todo jogo da franquia. Tentou contar uma história de guerra genérica com personagens que claramente pertenciam a um universo de pancadaria arcade. O resultado foi um Frankenstein tonal: sério demais para ser diversão pura, bobo demais para ser levado a sério.

Os 11% no Rotten Tomatoes não mentem. Mas também não contam a história completa.

Porque existe uma geração inteira — a minha, se estamos sendo honestos — que assistiu aquele filme dezenas de vezes no VHS. Não apesar das falhas, mas por causa de um certo charme que só filmes genuinamente comprometidos com sua própria loucura conseguem ter. Raul Julia gritando “Game over!” não é cinema de qualidade. É memória afetiva cristalizada.

Por que a mesma estratégia pode funcionar 32 anos depois

O contexto mudou completamente. E isso muda tudo.

Em 1994, adaptações de videogame eram território inexplorado. O público não sabia o que esperar, e os estúdios não sabiam o que entregar. A fidelidade ao material original era vista como limitação, não como virtude. O instinto era “traduzir” os jogos para uma linguagem cinematográfica mais convencional — e, no processo, perder exatamente o que tornava aquelas propriedades especiais.

Hoje? O jogo virou. Literalmente.

‘The Last of Us’ provou que fidelidade funciona na TV. ‘Sonic’ mostrou que abraçar o absurdo dos jogos pode render bilheteria — o redesign do personagem após backlash dos fãs foi um ponto de virada na relação estúdio-público. ‘One Piece’ da Netflix — uma adaptação que todo mundo jurava que seria impossível — conquistou público ao não ter vergonha do material original. ‘Mortal Kombat’ de 2021 entregou fatalities sangrentos e ninguém reclamou que não era “realista o suficiente”.

O público de 2026 não quer que você peça desculpas pelo seu material. Quer que você o abrace.

O que o novo filme está fazendo diferente

O que o novo filme está fazendo diferente

Pelos primeiros indícios, a produção de 2026 aprendeu com os erros específicos do antecessor enquanto mantém o espírito certo.

Primeiro: os protagonistas corretos. Ryu, Ken e Chun-Li estão no centro da história, não Guile. Isso não é apenas mais fiel aos jogos — é narrativamente mais interessante. Ryu é o coração da franquia, o lutador em busca de propósito que carrega o peso do Satsui no Hado (a energia sombria que ameaça consumi-lo). Chun-Li tem a história de vingança mais compelling do roster. Ken é o contraponto perfeito — talento natural contra disciplina forjada. Guile pode aparecer, mas como coadjuvante.

Segundo: o torneio existe. O World Warrior Tournament, que deveria ter sido o plot do filme original, finalmente será o centro da trama. Parece óbvio, mas em 1994 alguém decidiu que um torneio de luta não era interessante o suficiente para um filme de luta. Vai entender.

Terceiro — e talvez mais importante — os efeitos visuais finalmente podem entregar o que os jogos prometem. O Blanka de Jason Momoa no teaser não é um cara pintado de verde com peruca. É um trabalho de CGI que captura a monstruosidade do personagem sem parecer um boneco de borracha. Hadoukens, Sonic Booms, Spinning Bird Kicks — tudo isso agora pode existir na tela de forma que não era tecnicamente possível há três décadas.

O risco que ninguém está falando

Dito isso, existe uma armadilha óbvia que o filme precisa evitar: confundir fidelidade visual com qualidade narrativa.

‘Mortal Kombat’ de 2021 é um exemplo perfeito dessa tensão. Os fatalities eram incríveis. Os personagens pareciam certos. As lutas funcionavam. Mas a história era tão genérica que você esquecia o plot cinco minutos depois de sair do cinema. Ninguém lembra por que Sub-Zero estava perseguindo aquele cara — só lembra do Sub-Zero congelando coisas.

Se ‘Street Fighter’ 2026 entregar apenas fan service visual sem uma história que sustente, vai ser um sucesso de bilheteria mediano que ninguém vai lembrar em cinco anos. Para realmente funcionar, precisa fazer o que os melhores jogos da franquia fazem: dar peso emocional às lutas.

Ryu não luta só para ganhar — luta para encontrar significado. Chun-Li não luta só para vencer — luta para vingar o pai assassinado por M. Bison. Ken não luta só por glória — luta para provar algo para si mesmo e sair da sombra do melhor amigo. Se o filme capturar isso, tem potencial real. Se for só porradaria bonita, será esquecível.

O veredito (provisório)

É cedo demais para cravar qualquer coisa. Um teaser não é um filme, e promessas de marketing raramente sobrevivem intactas até a tela.

Mas os sinais são encorajadores. A produção parece entender que o caminho não é se envergonhar do material original — é abraçá-lo com convicção. O timing cultural está certo. A tecnologia finalmente permite. O elenco parece comprometido.

O ‘Street Fighter’ de 1994 fracassou tentando fazer algo que não deveria funcionar em uma época que não estava pronta. O de 2026 pode triunfar fazendo a mesma coisa — só que agora o mundo está.

Às vezes, estar à frente do seu tempo é só outra forma de estar errado. E às vezes, repetir um “erro” no momento certo é a decisão mais inteligente possível.

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Perguntas Frequentes sobre ‘Street Fighter’ filme 2026

Quando estreia o filme ‘Street Fighter’ 2026?

O filme está previsto para 2026, mas a data exata de lançamento ainda não foi confirmada oficialmente. O teaser foi divulgado recentemente, sugerindo que a produção está em estágio avançado.

Quem está no elenco do novo filme de ‘Street Fighter’?

Jason Momoa foi confirmado como Blanka. Os atores para Ryu, Ken e Chun-Li — que serão os protagonistas — ainda não foram oficialmente anunciados até o momento.

O filme de ‘Street Fighter’ 2026 é continuação do de 1994?

Não. É um reboot completo, sem conexão com o filme de Jean-Claude Van Damme ou com ‘Street Fighter: A Lenda de Chun-Li’ (2009). A história será centrada no World Warrior Tournament.

O filme de ‘Street Fighter’ de 1994 é tão ruim assim?

Tem 11% no Rotten Tomatoes, mas desenvolveu status cult ao longo dos anos. A performance de Raul Julia como M. Bison é genuinamente memorável. É um filme “tão ruim que é bom” para muitos fãs da franquia.

Preciso conhecer os jogos para assistir ao filme?

Provavelmente não. Se seguir o padrão de adaptações recentes como ‘Sonic’ e ‘Mortal Kombat’, o filme deve funcionar de forma independente, com easter eggs para fãs mas sem exigir conhecimento prévio.

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Lucas Lobinco
Lucas Lobinco
Sou o Lucas, e minha paixão pelo cinema começou com as aventuras épicas e os clássicos de ficção científica que moldaram minha infância. Para mim, cada filme é uma nova oportunidade de explorar mundos e ideias, uma janela para a criatividade humana. Minha jornada não foi nos bastidores da produção, mas sim na arte de desvendar as camadas de uma boa história e compartilhar essa descoberta. Sou movido pela curiosidade de entender o que torna um filme inesquecível, seja a complexidade de um personagem, a inovação visual ou a mensagem atemporal. No Cinepoca, meu foco é trazer uma perspectiva única, mergulhando fundo nos detalhes que fazem um filme valer a pena, e incentivando você a ver a sétima arte com novos olhos.Tenho um apreço especial por filmes de ação e aventura, com suas narrativas grandiosas e sequências de tirar o fôlego. A comédia de humor negro e os thrillers psicológicos também me atraem, pela forma como subvertem expectativas e exploram o lado mais sombrio da psique humana. Além disso, estou sempre atento às novas vozes e tendências que surgem na indústria, buscando os próximos grandes talentos e as histórias que definirão o futuro do cinema.

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