Walking Dead Romero: O que ‘The Walking Dead’ deve a George A. Romero?

A conexão entre ‘The Walking Dead’ e George A. Romero é um debate central no universo zumbi. Explore como o mestre Romero revolucionou o gênero com ‘A Noite dos Mortos-Vivos’, a polêmica sobre a dívida de ‘The Walking Dead’ devido à falha de direitos autorais, as inovações da série focadas no drama humano, e a complexa visão do próprio Romero sobre o sucesso da franquia.

Se você é fã de filmes de zumbi e de séries que te prendem do começo ao fim, com certeza já mergulhou no universo de ‘The Walking Dead’. Mas já parou para pensar de onde veio toda essa inspiração? A conexão entre ‘The Walking Dead’ e o mestre George A. Romero é um tema que rende muita discussão, e a gente aqui no Cinepoca vai desvendar essa relação para você. Prepare-se para descobrir se a ligação é pura homenagem, inspiração ou algo mais profundo na polêmica em torno de Walking Dead Romero!

George A. Romero: O Padrinho dos Zumbis Modernos

Antes de ‘The Walking Dead’ dominar as telas, houve um filme que mudou tudo para sempre: ‘A Noite dos Mortos-Vivos’, de George A. Romero, lançado lá em 1968. Pense bem: antes dele, os zumbis eram mais ligados ao folclore haitiano, muitas vezes controlados por vodu. Romero simplesmente virou a mesa, transformando essas criaturas em monstros cambaleantes e famintos por carne, que surgem de uma epidemia apocalíptica.

Foi ele quem estabeleceu a estética que conhecemos hoje: mortos-vivos lentos, implacáveis e uma ameaça constante que força os poucos sobreviventes a se confrontarem não só com eles, mas também com a própria natureza humana. Embora Romero nunca tenha usado a palavra “zumbi” no filme (ele os chamava de “ghouls”), sua visão se tornou o modelo para praticamente todas as obras do gênero que vieram depois. Claro, nenhuma obra nasce do nada; o próprio Romero se inspirou em clássicos como ‘I Am Legend’, de Richard Matheson. Mas o que ele fez foi uma reinvenção completa.

A Voz Crítica: O Que Joe Hill Pensa da Conexão ‘Walking Dead Romero’

Essa discussão sobre a origem da inspiração em ‘The Walking Dead’ ganhou um tempero a mais com a opinião de ninguém menos que Joe Hill. Para quem não sabe, ele é filho do lendário Stephen King e um escritor de terror de mão cheia, conhecido por obras como ‘O Telefone Preto’ e ‘Locke & Key’. E Hill não poupa palavras quando o assunto é a dívida de ‘The Walking Dead’ para com Romero.

No prefácio de seu livro ‘Full Throttle’, de 2019, Joe Hill relembra sua paixão pelo terror e suas experiências ao lado de seu pai e outros ícones do gênero, incluindo George A. Romero. Ele até trabalhou com Romero em ‘Creepshow: Arrepio do Medo’, de 1982, onde interpretou uma criança. Foi nesse contexto que Hill fez um comentário que ecoou por todo o universo do terror:

“Romero era o autor rebelde e desgrenhado que meio que inventou o apocalipse zumbi com seu filme ‘A Noite dos Mortos-Vivos’, que meio que esqueceu de registrar os direitos autorais, e que, como resultado, meio que não ficou rico com isso. Os criadores de ‘The Walking Dead’ serão eternamente gratos a Romero por ser tão bom em dirigir e tão ruim em proteger sua propriedade intelectual.”

Essa declaração de Hill não é só uma observação casual. Ela levanta uma crítica sincera e direta. Será que os criadores de ‘The Walking Dead’, Robert Kirkman e Tony Moore, se aproveitaram da falha de Romero em proteger sua obra? Ou isso é apenas a forma natural como a cultura pop se inspira e evolui? A provocação de Hill é um convite para a gente mergulhar ainda mais fundo nessa complexa relação.

De Onde Veio a Inspiração? ‘The Walking Dead’ e Suas Raízes Romeroanas

Não dá para negar: ‘The Walking Dead’ segue à risca o “manual” deixado por Romero. A série e os quadrinhos nos mostram um surto apocalíptico de mortos-vivos cambaleantes e famintos por carne, exatamente como em ‘A Noite dos Mortos-Vivos’. Os próprios criadores da franquia, Robert Kirkman e Tony Moore, sempre admitiram abertamente que foram muito inspirados pelas ideias de Romero. Mas a coisa vai muito além de uma simples inspiração.

Aqui está o ponto crucial: ‘The Walking Dead’ quase foi um spin-off oficial de ‘A Noite dos Mortos-Vivos’. Sim, é isso mesmo! A ideia original de Kirkman era criar uma série de quadrinhos que continuasse a história do filme de Romero, inclusive usando a mesma transmissão de notícias sobre os mortos que se levantavam. Isso foi possível porque ‘A Noite dos Mortos-Vivos’ caiu em domínio público devido a um erro na inclusão dos avisos de direitos autorais nas cópias do filme. Basicamente, qualquer um poderia usar as ideias de Romero sem problemas legais.

Apesar de ter recebido o sinal verde para usar o nome de ‘A Noite dos Mortos-Vivos’, o editor Jim Valentino aconselhou Kirkman a lançar ‘The Walking Dead’ como um conceito original. Isso daria a Kirkman maior controle sobre a franquia. Foi assim que a ideia do Rick Grimes acordando em um hospital surgiu, ao invés da cena inicial com a família em casa, que era a proposta original. Embora ‘The Walking Dead’ não compartilhe personagens com o filme de Romero, as semelhanças estéticas são inegáveis. Uma delas, por exemplo, é o fato de o quadrinho original ser em preto e branco, uma escolha que remete diretamente ao clássico de 1968 e que também permitia explorar a violência gráfica sem grandes impedimentos.

Então, a pergunta não é se ‘The Walking Dead’ se baseia na obra de Romero – ele se baseia, e os criadores nunca esconderam isso. A questão é: Kirkman, Moore e o artista Charlie Adlard criaram uma história original, ou estão simplesmente “aproveitando” o trabalho de Romero que não tinha proteção legal?

Além da Inspiração: A Inovação de ‘The Walking Dead’

Embora a base de ‘The Walking Dead’ seja inegavelmente Romero, a franquia conseguiu trilhar seu próprio caminho e se tornar um fenômeno global. Robert Kirkman, o cérebro por trás dos quadrinhos, sempre deixou claro suas intenções e as escolhas que fez para diferenciar sua obra. Por exemplo, ele explicou em ‘The Walking Dead Deluxe #55’ que nunca quis que seus zumbis evoluíssem ou aprendessem. Por quê? Porque isso o aproximaria demais do que Romero fez em seus filmes posteriores, onde os mortos-vivos começaram a apresentar algum tipo de inteligência.

Kirkman afirmou: “Nunca tentei esconder o quanto os filmes de Romero foram uma inspiração para mim nesta série. Sempre defenderei que não haveria ‘Walking Dead’ sem o padrinho do zumbi moderno. Dito isso, acho que esta série é pelo menos uma pequena inovação para o gênero… Senti que evoluir ou mudar nossos zumbis de qualquer forma teria se aproximado demais de sua obra sagrada.”

Essa é uma perspectiva interessante. Enquanto Romero explorava a evolução dos zumbis como uma metáfora para a sociedade, Kirkman preferiu manter seus “caminhantes” como uma ameaça constante e inerte. Isso permitiu que o foco principal da história recaísse sobre os personagens humanos. E é aqui que ‘The Walking Dead’ realmente brilha e se diferencia. A série nunca foi apenas sobre zumbis; ela usa o apocalipse como pano de fundo para explorar a complexidade da natureza humana, os dilemas morais e as relações interpessoais sob extrema pressão.

É por isso que, para muitos fãs, os verdadeiros vilões de ‘The Walking Dead’ não são os mortos-vivos, mas sim outros sobreviventes, como o icônico Negan ou o brutal Beta. As interações, os conflitos e as alianças entre os humanos são o coração da trama. Essa ênfase nos personagens e na construção de um mundo pós-apocalíptico com suas próprias regras e comunidades é o que solidificou a identidade única de ‘The Walking Dead’, transformando-o em algo muito mais do que uma simples cópia.

O Que George A. Romero Pensava de ‘The Walking Dead’? Uma Relação Complexa

Apesar da admiração dos criadores de ‘The Walking Dead’ por George A. Romero, a relação não era exatamente de mão dupla. Romero, antes de sua morte em 2017, fez várias críticas públicas à forma como o sucesso de ‘The Walking Dead’ (e de filmes como ‘Guerra Mundial Z’) impactou o gênero zumbi e, consequentemente, seus próprios projetos futuros.

Em uma entrevista ao IndieWire, Romero lamentou que, por causa do sucesso dessas franquias, “você não podia [fazer] um filme de zumbi que tivesse algum tipo de substância. Tinha que ser um filme de zumbi apenas com zumbis causando estragos. Não é isso que eu faço”. Ele deixou claro que seu interesse era o comentário sociopolítico, algo que se tornou difícil de vender após o boom de zumbis mais voltados para a ação.

Romero também não quis se envolver diretamente com a produção de ‘The Walking Dead’. Greg Nicotero, produtor executivo da série, revelou à Entertainment Weekly que Romero recusou um convite para dirigir um episódio. Segundo Nicotero, Romero disse: “Não, ouça, vocês têm o mundo de vocês, e eu tenho o meu mundo”. Ele ainda tinha a intenção de desenvolver seus próprios projetos de zumbi, com a substância e o comentário social que ele tanto valorizava.

Isso mostra que, embora ‘The Walking Dead’ se apoie nos ombros do gigante que foi George A. Romero, o mestre não via com bons olhos a direção que o gênero tomou. Ele sentia que a popularização dos zumbis, impulsionada por séries como ‘The Walking Dead’, diluía a mensagem mais profunda que ele sempre buscou em suas obras. É uma ironia agridoce: a franquia que mais o homenageou também foi a que, de certa forma, o impediu de continuar explorando suas próprias ideias como ele gostaria.

Walking Dead Romero: Legado, Inspiração e o Eterno Debate

Então, qual é o veredito final sobre a conexão Walking Dead Romero? Joe Hill e Robert Kirkman, no fundo, concordam em um ponto fundamental: ‘The Walking Dead’ foi construída consciente e explicitamente sobre a base de ‘A Noite dos Mortos-Vivos’, e não existiria sem ela. A falta de proteção de direitos autorais de Romero abriu uma porta gigantesca para o gênero, permitindo que outros criadores explorassem e expandissem suas ideias.

No entanto, enquanto o filho de Stephen King parece ter uma visão mais crítica sobre o que ‘The Walking Dead’ “deve” a Romero, Robert Kirkman mantém que, por mais que a franquia tenha começado com uma dívida clara, ela inovou o suficiente para ser muito mais do que uma simples cópia. ‘The Walking Dead’ pegou o conceito fundamental de Romero e o transformou, focando na complexidade humana e na construção de um universo próprio.

No fim das contas, a relação entre ‘The Walking Dead’ e George A. Romero é um lembrete fascinante de como a arte se constrói. A inspiração é a base, mas a inovação é o que garante a evolução e a criação de novas lendas. E você, de que lado está nessa discussão?

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Perguntas Frequentes sobre ‘The Walking Dead’ e George A. Romero

Quem é George A. Romero e qual sua importância para o gênero zumbi?

Romero é o diretor de ‘A Noite dos Mortos-Vivos’ (1968), que redefiniu os zumbis de criaturas de vodu para mortos-vivos cambaleantes e famintos, estabelecendo a estética moderna do gênero apocalíptico.

Qual a conexão original entre ‘The Walking Dead’ e ‘A Noite dos Mortos-Vivos’?

‘The Walking Dead’ quase foi um spin-off oficial de ‘A Noite dos Mortos-Vivos’. A obra de Romero caiu em domínio público por um erro de direitos autorais, permitindo que Robert Kirkman e Tony Moore se inspirassem profundamente nela.

O que Joe Hill pensa sobre a relação ‘Walking Dead Romero’?

Joe Hill, filho de Stephen King, criticou abertamente ‘The Walking Dead’, sugerindo que seus criadores se beneficiaram da falha de George A. Romero em proteger os direitos autorais de ‘A Noite dos Mortos-Vivos’.

Como ‘The Walking Dead’ inovou o gênero, apesar de sua inspiração em Romero?

Robert Kirkman diferenciou ‘The Walking Dead’ ao manter os zumbis como uma ameaça inerte, focando a narrativa na complexidade da natureza humana, nos dilemas morais dos sobreviventes e nos conflitos interpessoais, ao invés da evolução dos mortos-vivos.

Qual era a opinião de George A. Romero sobre ‘The Walking Dead’?

Romero expressou frustração com o sucesso de ‘The Walking Dead’ e outras franquias de zumbi, sentindo que elas diluíram o foco no comentário sociopolítico que ele buscava em suas próprias obras, tornando difícil vender seus projetos mais substanciais.

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Lucas Lobinco
Lucas Lobinco
Sou o Lucas, e minha paixão pelo cinema começou com as aventuras épicas e os clássicos de ficção científica que moldaram minha infância. Para mim, cada filme é uma nova oportunidade de explorar mundos e ideias, uma janela para a criatividade humana. Minha jornada não foi nos bastidores da produção, mas sim na arte de desvendar as camadas de uma boa história e compartilhar essa descoberta. Sou movido pela curiosidade de entender o que torna um filme inesquecível, seja a complexidade de um personagem, a inovação visual ou a mensagem atemporal. No Cinepoca, meu foco é trazer uma perspectiva única, mergulhando fundo nos detalhes que fazem um filme valer a pena, e incentivando você a ver a sétima arte com novos olhos.Tenho um apreço especial por filmes de ação e aventura, com suas narrativas grandiosas e sequências de tirar o fôlego. A comédia de humor negro e os thrillers psicológicos também me atraem, pela forma como subvertem expectativas e exploram o lado mais sombrio da psique humana. Além disso, estou sempre atento às novas vozes e tendências que surgem na indústria, buscando os próximos grandes talentos e as histórias que definirão o futuro do cinema.

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