O retorno de Steve Rogers em ‘Vingadores: Doutor Destino’ ameaça transformar Sam Wilson em um coadjuvante de sua própria jornada. Analisamos como a nostalgia comercial da Marvel pode invalidar o amadurecimento político e emocional construído desde ‘Falcão e o Soldado Invernal’.
Existe um tipo de decisão criativa que parece brilhante em uma reunião de acionistas, mas carrega um custo narrativo que poucos param para calcular. O possível retorno de Steve Rogers em ‘Vingadores: Doutor Destino’ é exatamente esse movimento — um aceno nostálgico que pode, inadvertidamente, implodir uma das jornadas mais corajosas da Saga do Multiverso.
Quando os rumores sobre a volta de Chris Evans ganharam força após o anúncio de Robert Downey Jr. como Victor von Doom, a reação foi imediata. A nostalgia é uma droga poderosa. Evans construiu o arquétipo moral do MCU ao longo de uma década. Mas, enquanto o fandom celebra, surge uma pergunta incômoda: o que sobra para Sam Wilson quando o ‘Capitão original’ entra na sala?
A construção de Sam Wilson: Quando o símbolo se torna político
Diferente de outros projetos genéricos da Marvel, ‘Falcão e o Soldado Invernal’ teve a audácia de ser específico. A série de Kari Skogland não tratou o escudo apenas como um acessório de vibranium, mas como um fardo histórico. A fotografia mais crua e o ritmo de thriller de espionagem serviram para ancorar a transição de Sam Wilson (Anthony Mackie) em algo palpável.
Lembro-me especificamente da sequência em que Sam treina com o escudo no quintal de sua família na Louisiana. Não havia trilha épica; apenas o som metálico do impacto contra a madeira e o suor de um homem que sabia que, ao aceitar aquele manto, estaria se tornando o alvo de um país que ainda não o aceitava plenamente. O arco de Sam não foi sobre herdar um título, foi sobre conquistar a legitimidade em um mundo que prefere o conforto da tradição.
O paradoxo de Chris Evans: O retorno que ninguém pediu (mas todos vão aplaudir)
Aqui reside o problema estrutural: o MCU ainda não estabeleceu Sam Wilson com a mesma gravidade narrativa de Steve Rogers. Com a bilheteria morna de produções recentes e a recepção divisiva de ‘Capitão América: Admirável Mundo Novo’ nos bastidores, a Marvel parece estar acionando o botão de pânico. Trazer Steve de volta é admitir que a sucessão falhou.
Se Steve Rogers assume a liderança contra o Doutor Destino, a dinâmica de poder é alterada instantaneamente. É o efeito do ‘CEO fundador’: não importa quão competente seja o novo líder, quando o criador da cultura retorna, todos os olhos se voltam para ele. Sam Wilson deixa de ser o Capitão América para ser, novamente, o substituto.
O risco de transformar o Multiverso em uma ‘cláusula de saída’
O que torna ‘Vingadores: Ultimato’ memorável é a finalidade. A escolha de Steve de envelhecer ao lado de Peggy Carter foi o fechamento perfeito para um homem fora de seu tempo. Ao usar o Multiverso para trazer uma versão de Steve — ou pior, rejuvenescer o original —, a Marvel sinaliza que nenhuma consequência é permanente.
Os irmãos Russo, que retornam para dirigir ‘Vingadores: Doutor Destino’, são mestres em gerenciar elencos inflados, mas sua estética tende a priorizar o ‘momento fan service’ sobre o desenvolvimento íntimo de personagem. Em um filme que já precisa lidar com o choque de RDJ como vilão, o espaço para Sam Wilson validar sua autoridade diante de Steve Rogers é quase inexistente.
O peso do legado além da ficção
Sam Wilson como Capitão América carrega um simbolismo que transcende o roteiro. A inclusão de Isaiah Bradley na série — o super-soldado negro apagado pela história — deu ao escudo uma profundidade sociológica que Steve Rogers nunca poderia ter. Quando a Marvel flerta com o retorno de Steve, ela corre o risco de dizer que a experiência de Sam foi apenas um interlúdio, um ‘filler’ antes do retorno ao status quo branco e confortável.
Não se trata apenas de preferência por ator, mas de integridade narrativa. Se o MCU quer que nos importemos com o futuro, ele precisa parar de se refugiar no passado. Sam Wilson merece enfrentar o Doutor Destino não como um coadjuvante de luxo, mas como o homem que Steve Rogers acreditou que ele poderia ser.
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Perguntas Frequentes sobre Sam Wilson e Doutor Destino
Sam Wilson ainda será o Capitão América em ‘Vingadores: Doutor Destino’?
Sim, Sam Wilson é o Capitão América oficial do MCU. No entanto, com a temática multiversal do filme, é possível que outras versões do herói apareçam, incluindo Steve Rogers.
Chris Evans está confirmado em ‘Vingadores: Doutor Destino’?
Até o momento, não há confirmação oficial da Marvel Studios sobre o retorno de Chris Evans como Steve Rogers, embora rumores indiquem negociações para participações especiais via Multiverso.
Qual a ligação entre o Doutor Destino e o Capitão América?
Nos quadrinhos, Victor von Doom é um adversário frequente dos Vingadores. No cinema, o confronto deve focar na liderança de Sam Wilson tentando unir os heróis contra a ameaça interpretada por Robert Downey Jr.
Preciso assistir à série do Falcão para entender o filme?
Sim, ‘Falcão e o Soldado Invernal’ é essencial para entender por que Sam Wilson aceitou o escudo e quais são os dilemas éticos que ele carrega como o novo Capitão América.

