O retorno de Chris Evans como Steve Rogers em ‘Vingadores: Doomsday’ coloca em xeque o final perfeito de ‘Ultimato’. Analisamos os riscos de transformar um arco encerrado em fan service e como os Irmãos Russo podem salvar o legado do Capitão América.
Existe um tipo de encerramento narrativo que não deveria ser tocado. Não por ser sagrado, mas porque ele alcançou uma resolução temática completa. O plano final de Steve Rogers em ‘Vingadores: Ultimato’ — aquele homem envelhecido, sentado em um banco de parque sob uma luz outonal, com o brilho de uma aliança no dedo — é o encerramento de um arco de dez anos. Sem o escudo, sem o soro pulsando em destaque, apenas a paz de quem finalmente ‘voltou para casa’.
E agora, a Marvel Studios parece disposta a transformar esse ponto final em uma reticência comercial.
Com a confirmação de que Chris Evans retorna em ‘Vingadores: Doomsday’, o estúdio entra em um campo minado. O teaser sugere que não veremos uma variante descartável, mas sim o próprio Steve que conhecemos. A questão central não é se Evans ainda tem o carisma para o papel — ele tem —, mas se essa volta acrescenta algo à alma do personagem ou se é apenas uma manobra de emergência para estancar a crise de bilheteria do MCU.
A quebra da promessa narrativa de ‘Ultimato’
A Marvel já provou que consegue reabrir túmulos com dignidade. Em ‘Deadpool & Wolverine’, o Logan de Hugh Jackman foi preservado através do Multiverso, permitindo que a despedida melancólica do filme de 2017 continuasse intacta em sua própria linha temporal. O truque foi o distanciamento. No entanto, os rumores e materiais preliminares de ‘Doomsday’ apontam para uma direção mais arriscada: o retorno do Steve original, possivelmente motivado por uma ameaça à sua família.
O risco aqui é a contaminação retroativa. Se Steve Rogers abandona sua aposentadoria conquistada a duras penas para lutar contra uma variante de seu antigo aliado (Tony Stark/Doutor Destino), a cena do banco em ‘Ultimato’ perde sua gravidade. Ela deixa de ser a recompensa final de um soldado e passa a ser apenas um intervalo entre batalhas. Quando o ‘para sempre’ se torna ‘até o próximo evento’, o peso emocional das escolhas passadas é diluído.
Nostalgia: ferramenta criativa ou muleta de marketing?
Robert Downey Jr. como vilão. Hugh Jackman de volta ao amarelo e azul. Chris Evans empunhando o escudo novamente. O padrão é claro: a Marvel está recuando para a sua era de ouro para sobreviver ao presente incerto. Mas há uma linha tênue entre celebrar o legado e depender dele para esconder a falta de novas ideias.
Para que o retorno de Steve em ‘Doomsday’ funcione, ele precisa subverter a fórmula do ‘herói relutante’. Se a motivação for apenas ‘família em perigo’, caímos em um clichê de ação que ignora a complexidade do Capitão América que os Irmãos Russo construíram. Steve Rogers sempre foi sobre o conflito entre o dever e o desejo pessoal; em ‘Ultimato’, ele finalmente escolheu o desejo. Tirá-lo de lá exige uma justificativa filosófica, não apenas um gatilho de roteiro genérico.
O fator Russo: a última linha de defesa
Se há um motivo para otimismo, é o retorno de Joe e Anthony Russo à direção. Eles foram os arquitetos da transição de Steve: de um símbolo patriota bidimensional em ‘O Primeiro Vingador’ para o rebelde pragmático de ‘O Soldado Invernal’. Eles entendem que o Capitão funciona melhor quando está em desacordo com o sistema, e a dinâmica de enfrentar uma versão distorcida de Tony Stark oferece um potencial dramático que poucos diretores saberiam explorar.
Contudo, o desafio técnico é imenso. ‘Doomsday’ precisa equilibrar dezenas de personagens e ainda dar a Steve Rogers o tratamento que um ícone merece. Não basta uma participação especial para gerar aplausos em salas de cinema; o filme precisa provar que a história de Steve precisava desse novo capítulo. Caso contrário, estaremos assistindo a um desfile de luxo de fan service que prioriza o lucro imediato sobre a integridade da obra.
O veredito do legado
Um retorno que ‘vale a pena’ é aquele que, ao terminar, faz o final anterior parecer ainda mais poderoso. Se ‘Doomsday’ usar Steve Rogers como uma peça de xadrez funcional para derrotar o Doutor Destino, o legado estará manchado. Mas se o filme explorar o custo de um homem de paz sendo forçado a encarar o fantasma de seu melhor amigo em uma escala multiversal, podemos ter algo especial.
A Marvel está jogando com suas joias da coroa. Steve Rogers foi o coração moral do MCU por uma década. Ele merece uma continuação que respeite seu silêncio final, ou um retorno que seja tão monumental quanto o sacrifício que ele evitou fazer para poder, enfim, dançar com Peggy Carter.
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Perguntas Frequentes sobre Steve Rogers em Vingadores: Doomsday
Chris Evans está confirmado em ‘Vingadores: Doomsday’?
Sim, o retorno do ator foi confirmado pela Marvel Studios, marcando sua volta ao papel de Steve Rogers após a despedida em 2019.
Steve Rogers será uma variante ou o original em ‘Doomsday’?
Embora o Multiverso permita variantes, os primeiros detalhes sugerem que veremos o Steve Rogers que envelheceu ao final de ‘Ultimato’, agora enfrentando novas ameaças.
Qual a data de estreia de ‘Vingadores: Doomsday’?
O filme tem previsão de estreia nos cinemas para maio de 2026, sendo dirigido pelos Irmãos Russo.
Robert Downey Jr. e Chris Evans estarão juntos no filme?
Sim, o grande atrativo de ‘Doomsday’ é o embate entre o Steve Rogers de Evans e a versão do Doutor Destino interpretada por Robert Downey Jr.

