SNL usa música para satirizar ‘Stranger Things’ e obsessões digitais

O SNL Weekend Update com Josh O’Connor apostou em números musicais para satirizar a ascensão do elenco de ‘Stranger Things’ e nossa relação problemática com apps de delivery. Analisamos os esquetes que funcionaram — e os que não sobreviveram ao formato.

O SNL Weekend Update desta semana decidiu que piadas faladas não eram suficientes — era preciso cantar sobre nossos medos mais irracionais. E funcionou. O episódio com Josh O’Connor como apresentador trouxe uma energia musical que transformou o tradicional segmento de notícias em algo entre crítica social e cabaret do absurdo.

Jane Wickline subiu ao palco ao lado de Colin Jost e Michael Che para entregar o que pode ser o alerta mais específico já cantado na televisão americana: o elenco de ‘Stranger Things’ vai roubar todos os empregos de Hollywood. Parece piada — e é — mas a forma como o número foi construído revela o SNL em sua melhor forma: usando o ridículo para expor uma ansiedade real da indústria.

O terror (musical) de ser substituído pelo elenco de ‘Stranger Things’

O terror (musical) de ser substituído pelo elenco de 'Stranger Things'

A premissa de Wickline é simples e genial: agora que os atores mirins de ‘Stranger Things’ cresceram e a série está chegando ao fim, eles estão livres para dominar Hollywood. Finn Wolfhard, Millie Bobby Brown, todos eles — prontos para roubar papéis de atores estabelecidos. Wickline chegou a chamar Wolfhard de “o diabo” em sua performance, com uma convicção cômica que só funciona porque há um grão de verdade ali.

O que torna o número eficaz não é apenas o absurdo da paranoia, mas como ele espelha conversas reais nos bastidores da indústria. Atores de franquias massivas realmente têm vantagem competitiva desproporcional. O SNL pegou essa ansiedade e a transformou em três minutos de comédia musical que você não consegue tirar da cabeça.

Josh O’Connor e a rejeição mais estranha de Hollywood

O monólogo de abertura trouxe uma história que só poderia acontecer na era das redes sociais. O’Connor — conhecido por ‘The Crown’ e pelo recém-lançado ‘Wake Up Dead Man: A Knives Out Story’ — cometeu o erro de mencionar que ‘Ratatouille’ era um de seus filmes favoritos. A internet fez o resto.

Fãs começaram uma campanha insistente para que ele interpretasse Alfredo Linguini em uma adaptação live-action. A pressão foi tão intensa que a Disney precisou emitir um comunicado oficial dizendo que o filme nunca aconteceria. O’Connor descreveu a situação com o timing cômico perfeito: a estranheza de ser publicamente rejeitado para um trabalho que ele nunca pediu, nunca quis, e que nem sequer existia como projeto.

É o tipo de história que só faz sentido em 2024, quando a relação entre celebridades e fãs se tornou uma negociação constante de expectativas impossíveis.

Uber Eats Wrapped: o espelho que ninguém pediu

Uber Eats Wrapped: o espelho que ninguém pediu

Se o Spotify Wrapped já causa crises existenciais anuais sobre nosso gosto musical questionável, imagine receber um relatório detalhado de tudo que você pediu no delivery durante o ano. O SNL imaginou — e o resultado foi dolorosamente reconhecível.

O esquete mostrou membros do elenco confrontados com seus hábitos alimentares: quanto dinheiro gastaram, quanta comida processada consumiram, quantas vezes pediram às 2h da manhã. A graça vem do reconhecimento. Todos nós sabemos, em algum nível, que nossos apps de delivery guardam dados que preferíamos não ver compilados. O SNL apenas materializou esse pesadelo em formato de paródia corporativa.

É sátira que funciona porque não exagera tanto assim. A realidade já é absurda o suficiente.

Personagens natalinos em terapia de grupo

O esquete ‘Characters on Characters’ — uma paródia do formato ‘Actors on Actors’ da Variety — reuniu ícones do Natal para conversas que nunca deveriam acontecer. Tiny Tim de ‘Os Fantasmas de Scrooge’ entrevistando o Little Drummer Boy. O Grinch discutindo carreira com Scrooge. Marcello Hernández, Kenan Thompson, Mikey Day e James Austin Johnson deram vida a personagens que existem no imaginário coletivo há décadas, mas nunca interagiram.

O formato funcionou porque subverteu expectativas. Em vez de figuras natalinas sendo simplesmente fofas ou inspiradoras, elas discutiam suas “carreiras” com a mesma seriedade afetada de atores promovendo filmes de prestígio. A justaposição entre a solenidade do formato e o absurdo dos participantes criou uma comédia que não dependia de punchlines óbvias.

Nem tudo que brilha é ouro (ou funciona em sketch)

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O episódio não foi perfeito — e seria desonesto fingir que foi. Um número musical sobre um brunch onde todos os personagens cantam seus pensamentos arrastou demais sem encontrar um ângulo cômico que justificasse a duração. Um esquete sobre uma despedida de solteira com strippers excessivamente sensíveis tinha potencial, mas a execução ficou aquém da premissa.

É o risco inerente ao formato do SNL: nem todo experimento funciona, mas a disposição de arriscar é o que permite que os acertos sejam tão memoráveis. Nesta semana, a balança pendeu para o positivo, especialmente nos segmentos musicais.

O que este episódio diz sobre o SNL atual

Lily Allen como convidada musical completou um episódio que apostou forte em performance. A decisão de transformar o Weekend Update em palco para números cantados não é nova, mas a execução de Wickline mostrou que o formato ainda tem fôlego quando o material é afiado.

O SNL de 2024 parece mais confortável misturando formatos — talk show, musical, paródia corporativa — do que se prendendo a estruturas tradicionais de comédia. Quando funciona, como no caso do alerta sobre ‘Stranger Things’ ou da sátira ao Uber Eats, o resultado é comédia que comenta cultura de forma que monólogos convencionais não conseguem.

Este episódio não será lembrado como um dos grandes da história do programa. Mas os momentos que funcionaram — especialmente a paranoia cantada de Wickline — demonstram que o SNL ainda sabe transformar ansiedades contemporâneas em entretenimento que ressoa. Às vezes, a melhor forma de processar o absurdo do mundo é cantando sobre ele às 23h30 de um sábado.

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Perguntas Frequentes sobre o SNL Weekend Update

Quem apresentou o SNL desta semana?

Josh O’Connor foi o apresentador do episódio exibido em 14 de dezembro de 2024. O ator é conhecido por ‘The Crown’ e recentemente estrelou ‘Wake Up Dead Man: A Knives Out Story’.

Quem foi a convidada musical do SNL com Josh O’Connor?

Lily Allen foi a convidada musical do episódio, complementando uma noite que apostou forte em performances cantadas.

Onde assistir ao SNL Weekend Update no Brasil?

O Saturday Night Live é exibido nos EUA pela NBC. No Brasil, clipes do Weekend Update e esquetes costumam ser disponibilizados no canal oficial do SNL no YouTube. Episódios completos podem ser encontrados no Peacock, serviço de streaming da NBCUniversal.

O que é o Weekend Update no SNL?

O Weekend Update é um segmento fixo do Saturday Night Live que parodia telejornais. Apresentado atualmente por Colin Jost e Michael Che, o quadro comenta notícias da semana com humor satírico e frequentemente recebe participações especiais do elenco.

Qual foi o esquete sobre ‘Stranger Things’ no SNL?

Jane Wickline apresentou um número musical no Weekend Update satirizando a ideia de que o elenco de ‘Stranger Things’, agora adulto, vai dominar Hollywood e “roubar” papéis de outros atores. A performance brincou com a ansiedade real da indústria sobre atores de franquias massivas.

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Lucas Lobinco
Lucas Lobinco
Sou o Lucas, e minha paixão pelo cinema começou com as aventuras épicas e os clássicos de ficção científica que moldaram minha infância. Para mim, cada filme é uma nova oportunidade de explorar mundos e ideias, uma janela para a criatividade humana. Minha jornada não foi nos bastidores da produção, mas sim na arte de desvendar as camadas de uma boa história e compartilhar essa descoberta. Sou movido pela curiosidade de entender o que torna um filme inesquecível, seja a complexidade de um personagem, a inovação visual ou a mensagem atemporal. No Cinepoca, meu foco é trazer uma perspectiva única, mergulhando fundo nos detalhes que fazem um filme valer a pena, e incentivando você a ver a sétima arte com novos olhos.Tenho um apreço especial por filmes de ação e aventura, com suas narrativas grandiosas e sequências de tirar o fôlego. A comédia de humor negro e os thrillers psicológicos também me atraem, pela forma como subvertem expectativas e exploram o lado mais sombrio da psique humana. Além disso, estou sempre atento às novas vozes e tendências que surgem na indústria, buscando os próximos grandes talentos e as histórias que definirão o futuro do cinema.

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