O Screen Awards 2025 estreia sua categoria de melhor ator coadjuvante com cinco performances que redefinem o trabalho de suporte: de Benicio del Toro e Sean Penn em Paul Thomas Anderson a Jacob Elordi desaparecendo sob próteses no ‘Frankenstein’ de Guillermo del Toro.
O Screen Awards 2025 estreia sua categoria de melhor ator coadjuvante com uma seleção que funciona quase como um tratado sobre o que significa roubar cena sem dominar o filme. São cinco performances que, cada uma à sua maneira, demonstram que o trabalho de apoio no cinema exige uma calibragem precisa — saber quando avançar, quando recuar, e como deixar marca permanente em tempo de tela limitado.
A lista reúne veteranos com duas estatuetas do Oscar no currículo, um astro em ascensão escondido sob dez horas diárias de próteses, e talentos europeus que Hollywood frequentemente subestima. O que conecta todos eles é a capacidade de transformar papéis que poderiam ser funcionais em presenças que assombram o filme mesmo quando não estão em quadro.
Benicio del Toro em ‘Uma Batalha Após a Outra’: o mestre do suporte calculado
Existe um tipo de ator que entende instintivamente a temperatura de cada cena. Benicio del Toro é esse ator há três décadas, e seu trabalho como Sergio St. Carlos no novo filme de Paul Thomas Anderson confirma que ele continua no auge dessa habilidade. Del Toro interpreta o aliado improvável de Bob (Leonardo DiCaprio) em sua missão de proteger a filha Willa — e faz isso com aquela mistura de excentricidade e precisão que se tornou sua assinatura.
O histórico de del Toro na categoria fala por si: Oscar por ‘Traffic: Ninguém Sai Limpo’ (2001) e indicação por ’21 Gramas’ (2004), ambas em papéis coadjuvantes. Ele entende que o trabalho de suporte não é sobre competir com o protagonista, mas sobre criar uma presença que complementa e eleva. Em ‘Uma Batalha Após a Outra’, seus trejeitos calculados e timing cômico roubam cenas de DiCaprio sem nunca parecer que está tentando fazer isso — a marca de um veterano que sabe exatamente quanto espaço ocupar.
Jacob Elordi em ‘Frankenstein’: vulnerabilidade sob dez horas de próteses
Guillermo del Toro fez algo corajoso com sua adaptação de Mary Shelley: ignorou completamente a iconografia de Boris Karloff. Nada de parafusos, nada de costuras grotescas, nada do monstro monossilábico que o cinema popularizou desde 1931. O que sobra é espaço para Jacob Elordi construir uma criatura que é, acima de tudo, devastadoramente humana.
O desafio técnico aqui é absurdo. Elordi passava mais de dez horas por dia no processo de maquiagem — tempo suficiente para drenar qualquer ator de energia criativa. Mesmo assim, ele entrega uma performance de arco completo: da inocência inicial à raiva compreensível, da curiosidade infantil à consciência trágica de sua própria condição. A criatura de Elordi sabe que não pode morrer, mas também sabe que não pode viver. Essa contradição existencial atravessa cada cena, comunicada menos por diálogo e mais por uma fisicalidade desajeitada que sugere um corpo que seu ocupante ainda não aprendeu a habitar.
Depois de ‘Saltburn’ (2023), onde Elordi já havia demonstrado disposição para papéis que exigem transformação física e emocional, ‘Frankenstein’ consolida algo importante: ele não é apenas um rosto bonito que Hollywood está tentando empurrar. É um ator com instintos sérios e coragem para desaparecer dentro de personagens monstruosos — literalmente, neste caso.
Paul Mescal em ‘Hamnet’: Shakespeare em segundo plano
Há algo quase perverso em escalar um dos atores mais magnéticos de sua geração para interpretar William Shakespeare e depois pedir que ele fique em segundo plano. Mas é exatamente isso que Chloe Zhao faz em ‘Hamnet’, sua adaptação do romance premiado de Maggie O’Farrell. O filme pertence a Jessie Buckley como Anne Hathaway (a esposa de Shakespeare, não a atriz), e Mescal aceita essa hierarquia com uma generosidade rara em atores de seu calibre.
Durante a maior parte do filme, seu Shakespeare é uma presença ausente — o marido que conquistou Londres enquanto a família lidava com perdas em Stratford. Mescal comunica essa distância com economia, sugerindo um homem dividido entre ambição artística e responsabilidade doméstica. Mas quando o terceiro ato chega e vemos a encenação da nova peça de Shakespeare, Mescal lembra a todos por que é considerado um dos atores mais poderosos em atividade. É uma demonstração de contenção seguida de explosão controlada — o tipo de modulação que separa atores competentes de atores excepcionais.
Sean Penn em ‘Uma Batalha Após a Outra’: sátira sem piscar
Paul Thomas Anderson construiu ‘Uma Batalha Após a Outra’ como um termômetro da América contemporânea, e Sean Penn como Coronel Lockjaw é o mercúrio que marca a febre. O filme gira em torno de uma pergunta aparentemente simples — quem é o pai de Willa? — mas usa essa questão para explorar divisões ideológicas que definem o país atual.
Penn, duas vezes vencedor do Oscar (‘Sobre Meninos e Lobos’ em 2004, ‘Milk: A Voz da Igualdade’ em 2009), faz algo que poucos atores conseguiriam: interpreta um personagem que é simultaneamente patético, hilário e aterrorizante, sem nunca ceder à tentação da caricatura. Sua caminhada rígida, quase robótica, sugere um homem que precisa de controle físico absoluto para conter seu racismo, suas contradições, sua auto-aversão. É uma escolha corporal que comunica volumes sobre o personagem antes de qualquer linha de diálogo.
O perigo de papéis como Lockjaw é o excesso. Anderson escreveu uma granada retórica, e seria fácil para Penn explodi-la em sátira óbvia. Em vez disso, ele encontra a humanidade patética sob a monstruosidade política — e isso torna o personagem infinitamente mais perturbador do que qualquer vilão de cartilha.
Stellan Skarsgård em ‘Sentimental Value’: o peso de uma carreira subestimada
Joachim Trier reuniu Stellan Skarsgård e Renate Reinsve para contar uma história sobre feridas familiares e a possibilidade (ou impossibilidade) de curá-las através da arte. Skarsgård interpreta Gustov, um diretor envelhecido que quer escalar a filha distanciada em seu filme de retorno. É o tipo de premissa que poderia facilmente descambar para pretensão ou sentimentalismo barato.
Não descamba. E o crédito vai majoritariamente para Skarsgård, que usa seu físico imponente de 1,90m para comunicar fragilidade. Gustov é um pai ausente e irascível — mas Skarsgård se recusa a deixar que o odiemos por isso. Quando o personagem finalmente confronta seu passado e a dor que causou, a vulnerabilidade que emerge é devastadora precisamente porque vem de alguém que passou o filme inteiro tentando escondê-la.
Há uma ironia na indicação de Skarsgård: ele é um daqueles atores que Hollywood consistentemente subestima, escalando-o para vilões genéricos em franquias (‘Thor’, ‘Piratas do Caribe’) ou papéis de autoridade sem profundidade. ‘Sentimental Value’ é um lembrete de que, quando recebe material à altura — como em ‘Melancolia’ de Lars von Trier ou ‘Chernobyl’ da HBO — Skarsgård entrega performances que merecem reconhecimento há décadas.
O que essa categoria revela sobre o Screen Awards 2025 ator coadjuvante
Olhando para os cinco indicados, emerge um padrão interessante. Três deles — del Toro, Penn e Skarsgård — são veteranos com carreiras que ultrapassam três décadas. Os outros dois — Elordi e Mescal — representam uma geração que está redefinindo o que significa ser leading man em Hollywood. A categoria funciona como uma conversa entre gerações sobre o ofício de atuar.
Também vale notar a diversidade de abordagens. Del Toro e Penn trabalham com PTA em um filme explicitamente político. Elordi desaparece sob próteses em uma adaptação literária de prestígio. Mescal aceita ser ofuscado por sua co-estrela em nome da história. Skarsgård carrega um drama europeu sobre paternidade e arte. São cinco definições diferentes do que significa dar suporte a um filme — e cinco argumentos sobre o que a categoria de coadjuvante deveria premiar.
Se há um favorito, os dois indicados de ‘Uma Batalha Após a Outra’ têm a vantagem de estarem em um filme de Paul Thomas Anderson — um diretor que historicamente extrai performances que rendem estatuetas (Philip Seymour Hoffman em ‘Magnólia’, Daniel Day-Lewis em ‘Sangue Negro’). Mas Elordi representa o tipo de trabalho transformacional que votantes adoram reconhecer, e Skarsgård tem a narrativa de “finalmente reconhecido” que frequentemente influencia premiações.
Qualquer que seja o vencedor, o Screen Awards 2025 estabelece um padrão alto para sua categoria de coadjuvante masculino. São cinco performances que justificam a existência da premiação — trabalhos que merecem ser lembrados além da temporada de awards.
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Perguntas Frequentes sobre Screen Awards 2025 Ator Coadjuvante
Quem são os indicados a melhor ator coadjuvante no Screen Awards 2025?
Os cinco indicados são: Benicio del Toro (‘Uma Batalha Após a Outra’), Jacob Elordi (‘Frankenstein’), Paul Mescal (‘Hamnet’), Sean Penn (‘Uma Batalha Após a Outra’) e Stellan Skarsgård (‘Sentimental Value’).
Quando será a cerimônia do Screen Awards 2025?
A cerimônia do Screen Awards 2025 acontece em fevereiro de 2025. As datas exatas e informações de transmissão serão confirmadas pela organização do evento.
O que é o Screen Awards?
O Screen Awards é uma premiação de cinema que reconhece performances e realizações técnicas. A edição de 2025 marca a estreia da categoria de melhor ator coadjuvante na premiação.
Quem é o favorito para melhor ator coadjuvante no Screen Awards 2025?
Benicio del Toro e Sean Penn, ambos de ‘Uma Batalha Após a Outra’ de Paul Thomas Anderson, são considerados favoritos pelo histórico do diretor em extrair performances premiadas. Jacob Elordi também é forte candidato pela transformação física em ‘Frankenstein’.
Quanto tempo Jacob Elordi passava na maquiagem de ‘Frankenstein’?
Jacob Elordi passava mais de dez horas por dia no processo de aplicação de próteses e maquiagem para interpretar a criatura no ‘Frankenstein’ de Guillermo del Toro.

