De Carrie Coon desvendando amizades tóxicas em ‘The White Lotus’ a Patricia Arquette aprofundando o enigma de Cobel em ‘Ruptura’, analisamos as cinco indicadas a Melhor Atriz Coadjuvante em TV no Screen Awards 2025 — e o que suas performances revelam sobre o estado da televisão atual.
Existe uma categoria de premiação que, historicamente, revela mais sobre a qualidade de uma produção do que o prêmio principal. Atuações coadjuvantes não carregam o peso do protagonismo, mas carregam algo talvez mais difícil: a responsabilidade de transformar minutos em memória. As cinco indicadas a Melhor Atriz Coadjuvante em TV no Screen Awards 2025 dominaram essa arte com precisão cirúrgica.
O que une Carrie Coon, Erin Doherty, Fiona Dourif, Katherine LaNasa e Patricia Arquette não é apenas talento — isso seria óbvio demais. O que as conecta é a capacidade de fazer o espectador esquecer que existe uma câmera. De transformar personagens secundárias em presenças que assombram a narrativa muito depois que saem de cena.
Carrie Coon em ‘The White Lotus’: quando a amizade vira campo minado
A terceira temporada de ‘The White Lotus’ trouxe Mike White para a Tailândia com seu humor negro característico e um elenco que mistura ícones e revelações. Entre os ícones, Carrie Coon entrega o que pode ser o trabalho mais complexo de sua carreira — e olha que estamos falando da mulher que definiu Nora Durst em ‘The Leftovers’.
Laurie Duffy é uma advogada corporativa recém-divorciada que chega ao resort com duas amigas de longa data: Jaclyn, atriz de TV bem-sucedida, e Kate, esposa de country club. O trio se cutuca sem parar, fofoca pelas costas uma da outra, e ainda assim permanece unido por décadas de história compartilhada. É desconfortável de assistir. É impossível desviar o olhar.
O que Coon faz com Laurie é capturar algo que poucos atores conseguem: a contradição emocional em tempo real. Intimidade que azeda em ciúme e ressentimento sem nunca apagar completamente o afeto. Cada cena dela é um estudo de microexpressões — o sorriso que não chega aos olhos, a risada que esconde veneno, o abraço que é também uma forma de controle.
E então vem o monólogo do finale. Coon é conhecida por dominar monólogos (pergunte a qualquer fã de ‘The Leftovers’ sobre aquela cena no hotel), mas o que ela entrega aqui é diferente. É exposição emocional total, cristalizando em poucos minutos tudo o que a dinâmica do trio representa. A indicação ao Emmy veio naturalmente — sua terceira, depois de ‘Fargo’ e ‘A Idade Dourada’.
Erin Doherty em ‘Adolescência’: 47 minutos de tensão ininterrupta
Se você ainda não assistiu ‘Adolescência’, prepare-se para uma experiência que vai te deixar fisicamente exausto. O drama psicológico de quatro episódios examina a violência masculina juvenil contra meninas com precisão técnica extraordinária: cada episódio é filmado em um único plano-sequência contínuo. Sem cortes. Sem respiro.
Erin Doherty aparece no terceiro episódio, o mais intenso da série. Sua Briony Ariston é uma psicóloga forense encarregada de interrogar Jamie, um garoto de 13 anos acusado de assassinar uma colega de classe. O episódio inteiro se concentra nesse interrogatório — 47 minutos de Doherty oscilando entre frieza profissional e calor emocional calculado, tentando extrair a verdade de um adolescente que pode ou não ser um assassino.
O que impressiona é a contenção. Briony mantém compostura profissional durante quase todo o episódio, e Doherty faz você sentir o peso de cada segundo dessa performance sustentada. A câmera não corta. Ela não pode errar. E não erra. Quando finalmente se permite quebrar nos momentos finais, a vulnerabilidade é devastadora precisamente porque foi represada por tanto tempo.
Doherty levou o Emmy por ‘Adolescência’, consolidando uma trajetória que começou como Princesa Anne em ‘The Crown’ e passou por ‘Mil Golpes’ ao lado de Stephen Graham, criador e protagonista de ‘Adolescência’. É uma atriz que entende que menos é quase sempre mais.
Fiona Dourif em ‘The Pitt’: a tornozeleira que redefine tudo
‘The Pitt’ chegou à Max com uma proposta ambiciosa: um drama médico em tempo real, cada episódio cobrindo uma hora de um único turno infernal em um pronto-socorro de Pittsburgh. O formato evoca ’24’, mas a execução é mais próxima de ‘ER: Plantão Médico’ em seus melhores dias — caos controlado, humanidade em crise, decisões impossíveis.
Fiona Dourif entra como Cassie McKay, aparentemente apenas mais uma profissional competente e simpática. Então a câmera captura uma tornozeleira eletrônica, e tudo muda. Cassie é uma mãe solteira recém-sóbria lutando para recuperar a guarda do filho enquanto navega uma relação complicada com o ex e a nova parceira dele.
Dourif faz algo crucial: torna Cassie instantaneamente simpática sem transformá-la em santa. Sua defesa feroz dos pacientes — seja confrontando um caso suspeito de tráfico ou entrando em atrito com um paciente jovem e volátil — vem de um lugar de trauma vivido, não de heroísmo genérico. É empatia com cicatrizes.
Para quem acompanha a carreira de Dourif, há uma ironia deliciosa aqui. Ela ficou conhecida pela franquia ‘Brinquedo Assassino’ e pela série ‘Chucky’ (descanse em paz), onde contracenou com seu pai, Brad Dourif — que, aliás, faz uma breve participação em ‘The Pitt’ como pai de Cassie. A transição de terror para drama médico poderia ser desastrosa. Em vez disso, revelou uma atriz de alcance impressionante.
Katherine LaNasa em ‘The Pitt’: a âncora que finalmente quebra
‘The Pitt’ funciona como ensemble verdadeiro, e Katherine LaNasa é fundamental para isso. Sua Dana Evans é enfermeira-chefe há décadas, a guardiã emocional da equipe — parte mãe ursa, parte veterana de guerra que já viu de tudo.
LaNasa constrói Dana com inteligência afiada, humor seco e compaixão profunda. É nela que os colegas confiam nos momentos de crise. É ela quem guia médicos mais jovens através do caos com mão firme. A performance é cuidadosamente contida — vislumbres ocasionais de quanto o trabalho pesa, nunca a revelação completa.
Até o episódio 9. Quando Dana se torna vítima de um paciente violento e ressentido, LaNasa transmite algo que corta: a percepção silenciosa de que mesmo os cuidadores mais fortes têm limites. Anos de acumulação emocional se manifestam não em explosão, mas em rachaduras. É formidável.
LaNasa levou o Emmy por ‘The Pitt’, coroando uma carreira de trabalhos memoráveis em ‘ER: Plantão Médico’, ‘Amor Imenso’, ‘Longmire: O Xerife’ e ‘The Deuce’. Recentemente apareceu em ‘Demolidor: Renascido’ como Artemis Sledge — prova de que versatilidade não é problema para ela.
Patricia Arquette em ‘Ruptura’: o enigma que se aprofunda
“Maaaark.” Duas sílabas arrastadas que se tornaram icônicas. Desde o momento em que Harmony Cobel (ou “Sra. Selvig”, dependendo de qual andar você está) apareceu em ‘Ruptura’, Patricia Arquette criou uma das vilãs mais perturbadoramente fascinantes da TV recente.
A primeira temporada estabeleceu Cobel como figura de autoridade gelada e devoção inquietante à Lumon Industries. A segunda temporada — mesmo após sua demissão — permite que Arquette aprofunde e adicione nuances. O episódio em destaque, “Sweet Vitriol”, leva Cobel de volta à cidade litorânea onde cresceu e se tornou devota da Lumon pela primeira vez. E estabelece uma das maiores reviravoltas da série: que Cobel esteve envolvida na criação do procedimento de separação.
O que Arquette faz é transformar Cobel em mistério para si mesma. Fria, controlada, completamente ilegível — e então, nos momentos precisos, lampejos de vulnerabilidade que duram segundos mas mudam tudo. É uma masterclass em contenção, perfeitamente adequada à narrativa de caixa de quebra-cabeças de ‘Ruptura’.
Arquette é lenda de tela: Oscar por ‘Boyhood: Da Infância à Juventude’, Emmys por ‘A Paranormal’ e ‘O Ato’. Já acumulou duas indicações ao Emmy por ‘Ruptura’. Mas há algo especial em vê-la habitar um personagem tão opaco — ela faz você querer entender Cobel mesmo sabendo que talvez nunca consiga.
O que essas indicações revelam sobre televisão em 2025
Olhando para as cinco indicadas ao Screen Awards 2025, um padrão emerge: contenção como arma. Coon, Doherty, Dourif, LaNasa e Arquette constroem performances que funcionam por acumulação, não por explosão. São atrizes que entendem que o momento de quebra só funciona se houver algo para quebrar.
Também é impossível ignorar a diversidade de gêneros representados. Comédia negra de resort de luxo. Drama criminal psicológico filmado em plano-sequência. Procedural médico em tempo real. Thriller corporativo de ficção científica. A categoria de coadjuvante em TV se tornou vitrine das possibilidades do meio — e essas cinco mulheres estão no centro dessa expansão.
Quem deveria levar? Depende do que você valoriza. Se é técnica pura sob pressão extrema, Doherty em ‘Adolescência’ é imbatível. Se é construção de personagem ao longo de uma temporada inteira, LaNasa em ‘The Pitt’ entrega com consistência impressionante. Se é a capacidade de transformar ambiguidade em magnetismo, Arquette em ‘Ruptura’ não tem rival.
Mas talvez a pergunta errada seja “quem deveria ganhar”. A pergunta certa é: quantas vezes você parou para pensar nessas personagens depois que os créditos subiram? Se a resposta for “mais do que deveria”, elas já venceram.
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Perguntas Frequentes sobre o Screen Awards 2025
Quem são as indicadas a Melhor Atriz Coadjuvante em TV no Screen Awards 2025?
As cinco indicadas são: Carrie Coon por ‘The White Lotus’, Erin Doherty por ‘Adolescência’, Fiona Dourif por ‘The Pitt’, Katherine LaNasa por ‘The Pitt’ e Patricia Arquette por ‘Ruptura’.
Onde assistir às séries indicadas no Screen Awards 2025?
‘The White Lotus’ e ‘The Pitt’ estão disponíveis na Max. ‘Adolescência’ está na Netflix. ‘Ruptura’ é exclusiva do Apple TV+.
O que é o Screen Awards?
O Screen Awards é uma premiação que reconhece as melhores performances em cinema e televisão, com categorias votadas por membros da indústria do entretenimento.
Erin Doherty ganhou Emmy por ‘Adolescência’?
Sim. Erin Doherty levou o Emmy de Melhor Atriz Coadjuvante em Série Limitada por sua performance como a psicóloga forense Briony Ariston no terceiro episódio de ‘Adolescência’.
Preciso assistir a primeira temporada de ‘Ruptura’ para entender Patricia Arquette na segunda?
Sim, é essencial. A segunda temporada continua diretamente da primeira, e a complexidade da personagem Harmony Cobel depende do contexto estabelecido anteriormente. São 9 episódios na primeira temporada.

