‘Sarah Connor Chronicles’ é a sequência que ‘O Exterminador 3’ deveria ter sido

A série da Fox ignorou ‘A Rebelião das Máquinas’ e construiu a verdadeira continuação de ‘T2’: uma história que entende que a franquia sempre foi sobre os Connors, não sobre robôs maiores. Lena Headey encontrou sua própria Sarah, e o resultado merecia mais do que duas temporadas.

Quando ‘Sarah Connor Chronicles’ estreou na Fox em 2008, a série tomou uma decisão corajosa: fingir que ‘O Exterminador do Futuro 3: A Rebelião das Máquinas’ simplesmente não existia. E essa escolha, que poderia parecer arrogante, acabou sendo a mais acertada que a franquia fez desde que James Cameron deixou o comando.

A lógica era simples. ‘T2: Judgment Day’ terminou com Sarah e John Connor destruindo o chip e o braço do T-800, supostamente impedindo a criação da Skynet. Era um final fechado, esperançoso, que sugeria que o futuro podia ser mudado. Aí veio ‘A Rebelião das Máquinas’ e disse: “Não, o Dia do Julgamento é inevitável, Sarah morreu de leucemia entre os filmes, e John Connor é um cara perdido que precisa ser salvo por uma Terminadora de couro”. Obrigado por nada.

Por que ignorar ‘A Rebelião das Máquinas’ foi a decisão certa

O problema do terceiro filme não era apenas qualidade — era filosofia. James Cameron construiu os dois primeiros filmes sobre a premissa de que “não há destino além daquele que criamos”. Era uma mensagem de agência humana, de que nossas escolhas importam. ‘A Rebelião das Máquinas’ jogou isso fora em favor de um fatalismo preguiçoso: o apocalipse vai acontecer de qualquer jeito, então relaxa.

‘Sarah Connor Chronicles’ entendeu o que fazia a franquia funcionar. Sim, a série revela que os esforços de Sarah em ‘T2’ apenas adiaram a criação da Skynet — mas isso é diferente de dizer que foram inúteis. Adiar o apocalipse significa tempo. Tempo para se preparar, para recrutar aliados, para encontrar outras formas de lutar. A série transforma Sarah e John em membros ativos da resistência, não em vítimas passivas do destino.

Lena Headey encontrou sua própria Sarah Connor

Substituir Linda Hamilton era um risco enorme. Hamilton não apenas definiu Sarah Connor — ela transformou a personagem de garçonete assustada em guerreira paranoica ao longo de dois filmes. Qualquer atriz que assumisse o papel estaria competindo com uma das performances mais icônicas do cinema de ação.

Lena Headey não tentou imitar Hamilton. Em vez disso, ela encontrou sua própria versão de Sarah: uma mulher que carrega o peso de saber o futuro, mas que ainda não se endureceu completamente. A Sarah de Headey ainda sente medo, ainda duvida de si mesma, ainda luta para equilibrar ser mãe e ser soldado. Há uma cena no episódio piloto em que Sarah observa John dormindo — e você vê nos olhos de Headey o terror silencioso de quem sabe que está criando um filho para a guerra. Hamilton fazia Sarah como aço temperado; Headey a faz como aço ainda sendo forjado.

A química entre Headey e Thomas Dekker, que interpreta John Connor adolescente, dá à série seu coração emocional. Diferente do filme de 2003, onde John era um adulto genérico interpretado por Nick Stahl, aqui vemos a dinâmica complicada de uma mãe que precisa preparar o filho para liderar a humanidade enquanto tenta, desesperadamente, deixá-lo ter alguma normalidade. É território que os filmes nunca exploraram direito.

Cameron e a pergunta que a franquia evitava fazer

Cameron e a pergunta que a franquia evitava fazer

Summer Glau interpreta Cameron, uma T-900 enviada do futuro para proteger John. À primeira vista, parece a fórmula de ‘T2’ repetida. Mas a série faz algo que os filmes nunca ousaram: questiona genuinamente se uma máquina pode desenvolver algo além de programação.

Não é a pergunta óbvia de “robôs podem ter sentimentos?” — isso seria simplista demais. É mais sutil. Cameron imita emoções humanas para se infiltrar, mas às vezes suas reações parecem… deslocadas. Ela sorri em momentos errados. Demonstra curiosidade sobre coisas que não deveria importar para sua missão. E a série nunca confirma se isso é falha de programação, evolução genuína, ou manipulação calculada. Essa ambiguidade é mais interessante do que qualquer resposta definitiva seria.

Há um episódio da segunda temporada em que Cameron dança ballet sozinha, sem audiência, sem razão tática. É um momento que não deveria existir na lógica de uma máquina assassina. E a série deixa você decidir o que significa.

O que a série entendeu sobre Exterminador que os filmes esqueceram

Tem uma armadilha em que toda sequência de ‘Exterminador’ cai: achar que o público quer ver robôs maiores, explosões maiores, stakes maiores. ‘A Rebelião das Máquinas’ trouxe a T-X, uma Terminadora “melhorada” que podia controlar outras máquinas. ‘Salvation’ mostrou a guerra futura em escala épica. ‘Genisys’ bagunçou a linha do tempo inteira. ‘Dark Fate’ matou John Connor nos primeiros cinco minutos. Nenhum desses filmes entendeu o óbvio.

O que torna ‘Exterminador’ e ‘T2’ memoráveis não são os robôs — são os Connors. Sarah transformando-se de vítima em guerreira. John lidando com o peso de um destino que não pediu. A relação improvável entre um garoto e a máquina programada para protegê-lo. Os filmes funcionam porque nos importamos com essas pessoas, não porque os efeitos especiais são impressionantes.

‘Sarah Connor Chronicles’ coloca os Connors de volta no centro. O orçamento de TV significa menos explosões e mais conversas — e isso acaba sendo uma vantagem. Quando você não pode resolver tudo com tiroteios, precisa desenvolver personagens. A série tem tempo para mostrar Sarah tendo pesadelos, John tentando fazer amigos normais, a tensão constante de viver escondido. São os detalhes humanos que os filmes de duas horas não conseguem incluir.

Duas temporadas não foram suficientes

Duas temporadas não foram suficientes

A Fox cancelou ‘Sarah Connor Chronicles’ após 31 episódios, deixando a história incompleta. É uma das grandes injustiças da TV dos anos 2000, junto com ‘Firefly’ e ‘Pushing Daisies’. A série estava construindo algo ambicioso — uma mitologia expandida que incluía múltiplas facções de resistência, viagens temporais com consequências reais, e uma exploração genuína do que significa lutar uma guerra que você pode nunca vencer.

O cancelamento dói especialmente porque a série terminou em um cliffhanger brutal. Sem spoilers para quem ainda não viu, mas o final da segunda temporada joga John Connor em uma situação que redefiniria completamente sua jornada. Os showrunners Josh Friedman e James Middleton tinham planos para uma terceira temporada que nunca veremos. Às vezes, fãs dedicados encontram entrevistas onde eles descrevem o que viria — e só aumenta a frustração.

Vale assistir em 2025?

Se você é fã de ‘Exterminador’ e ‘T2’, ‘Sarah Connor Chronicles’ é essencial. Não é perfeita — o orçamento de TV às vezes limita as cenas de ação, alguns episódios do meio da primeira temporada arrastam enquanto estabelecem mitologia, e a série ocasionalmente tropeça em subtramas que não levam a lugar nenhum. Mas quando acerta, ela entrega a continuação que ‘A Rebelião das Máquinas’ deveria ter sido.

É uma história que respeita os personagens, expande a mitologia sem destruí-la, e entende que o coração da franquia sempre foram os Connors, não as máquinas. Lena Headey merecia mais tempo com Sarah. Summer Glau merecia resolver o arco de Cameron. Thomas Dekker merecia completar a transformação de John em líder.

Duas temporadas, 31 episódios, uma história incompleta mas ainda assim mais satisfatória do que qualquer filme pós-Cameron. Às vezes, é melhor ter algo bom interrompido do que algo medíocre concluído. E se você terminar querendo mais, bem-vindo ao clube — estamos esperando há dezesseis anos.

Para ficar por dentro de tudo que acontece no universo dos filmes, séries e streamings, acompanhe o Cinepoca também pelo Facebook e Instagram!

Perguntas Frequentes sobre ‘Sarah Connor Chronicles’

Onde assistir ‘Sarah Connor Chronicles’ em 2025?

A disponibilidade varia por região. No Brasil, a série já esteve na Amazon Prime Video e ocasionalmente aparece em serviços como Globoplay. Vale verificar o JustWatch para opções atualizadas de streaming ou aluguel digital.

Quantas temporadas tem ‘Sarah Connor Chronicles’?

A série tem duas temporadas, totalizando 31 episódios. A primeira temporada tem 9 episódios (foi encurtada pela greve dos roteiristas de 2007-2008), e a segunda tem 22. A série foi cancelada pela Fox em 2009.

Preciso assistir ‘O Exterminador 3’ antes de ‘Sarah Connor Chronicles’?

Não. A série ignora completamente os eventos de ‘A Rebelião das Máquinas’ e funciona como continuação direta de ‘T2: Judgment Day’. Você só precisa ter visto os dois primeiros filmes.

‘Sarah Connor Chronicles’ tem um final conclusivo?

Infelizmente não. A série termina em um cliffhanger significativo que nunca foi resolvido devido ao cancelamento. Ainda assim, a jornada até lá vale a pena, e muitos fãs consideram o final aberto apropriadamente ambicioso para a franquia.

Quem interpreta Sarah Connor na série?

Lena Headey, que depois ficaria famosa como Cersei Lannister em ‘Game of Thrones’. Ela oferece uma interpretação própria de Sarah, mais vulnerável que a versão de Linda Hamilton, mas igualmente determinada.

Mais lidas

Marina Souza
Marina Souza
Oi! Eu sou a Marina, redatora aqui do Cinepoca. Desde os tempos de criança, quando as tardes eram preenchidas por maratonas de clássicos da Disney em VHS e as noites por filmes de terror que me faziam espiar por entre os dedos, o cinema se tornou um portal para incontáveis realidades. Não importa o gênero, o que sempre me atraiu foi a capacidade de um filme de transportar, provocar e, acima de tudo, contar algo.No Cinepoca, busco compartilhar essa paixão, destrinchando o que há de mais interessante no cinema, seja um blockbuster que domina as bilheterias ou um filme independente que mal chegou aos circuitos.Minhas expertises são vastas, mas tenho um carinho especial por filmes que exploram a complexidade da mente humana, como os suspenses psicológicos que te prendem do início ao fim. Meu objetivo é te levar em uma viagem cinematográfica, apresentando filmes que talvez você nunca tenha visto, mas que definitivamente merecem sua atenção.

Veja também