Descubra por que ‘Relay: Contrato Perigoso’ resgatou o suspense de conspiração clássico. Analisamos como David Mackenzie e Riz Ahmed transformaram um serviço de telefonia analógico na maior arma contra a vigilância digital moderna neste hit da Netflix.
Existe uma gramática específica nos thrillers de conspiração que parece ter se perdido na transição para o cinema de algoritmos. Aquela tensão que não nasce de uma contagem regressiva digital, mas do suor frio de não saber quem está do outro lado da linha. ‘Relay: Contrato Perigoso’, dirigido por David Mackenzie, é o raro exemplar contemporâneo que entende que o silêncio e a limitação técnica são ferramentas mais poderosas que qualquer CGI de perseguição.
A tecnologia como barreira, não como solução
A trama nos apresenta Ash (Riz Ahmed), um ‘fixer’ especializado em mediar negociações entre denunciantes e corporações corruptas. O diferencial de Ash é seu isolamento absoluto: ele opera através de um serviço de retransmissão telefônica (relay) para surdos, garantindo que sua voz nunca seja ouvida diretamente e que seu rastro digital seja inexistente. Quando Sarah (Lily James) o contrata para entregar provas contra uma gigante agroquímica, o filme se transforma em um jogo de xadrez analógico.
Mackenzie, que já provou sua maestria em lidar com espaços e isolamento no excelente ‘A Qualquer Custo’ (Hell or High Water), usa a arquitetura urbana para enclausurar os personagens. A escolha de Ahmed por um estilo de vida off-grid não é apenas um detalhe de roteiro; é o que dita o ritmo do filme. Sem a conveniência de um GPS ou mensagens instantâneas, cada movimento exige planejamento e cada erro é potencialmente fatal.
O resgate da paranoia clássica de Coppola e Pollack
Com 84% de aprovação no Rotten Tomatoes, ‘Relay: Contrato Perigoso’ tem sido frequentemente comparado a clássicos como ‘A Conversação’ e ‘A Trama’. A comparação é justa, mas há uma atualização necessária. Enquanto os filmes dos anos 70 refletiam a desconfiança pós-Watergate, o filme de Mackenzie foca na ansiedade da vigilância invisível de 2025.
A fotografia de Giles Nuttgens evita o brilho artificial dos thrillers modernos, optando por uma paleta sóbria que reforça a sensação de que o perigo está nas sombras de escritórios genéricos. Não é um filme nostálgico que tenta emular o passado; é um filme ‘punk rock’, como o próprio diretor definiu, que usa a estrutura clássica para criticar a onipresença das corporações atuais.
Riz Ahmed: a força da economia gestual
Riz Ahmed entrega aqui uma de suas performances mais cerebrais. Ash é um personagem que vive de protocolos e mantras de segurança. Ahmed utiliza micro-expressões para mostrar a rachadura nessa armadura quando a situação foge do controle. É uma atuação que depende menos do diálogo e mais da presença física — algo que ele já havia explorado com maestria em ‘O Som do Silêncio’.
Lily James também foge do estereótipo da ‘donzela em perigo’. Sua personagem tem motivações turvas e uma agência que desafia a lógica de proteção de Ash. A química entre os dois não é romântica, mas sim uma tensão de sobrevivência que mantém o espectador em dúvida sobre as reais intenções de cada um até o último ato.
Do fracasso comercial ao topo da Netflix
É fascinante observar o trajeto de ‘Relay: Contrato Perigoso’. Com uma bilheteria modesta de 4 milhões de dólares nos cinemas, o filme parecia condenado ao esquecimento. No entanto, sua chegada ao streaming provou que o público ainda tem apetite por suspenses que exigem atenção plena.
O sucesso na Netflix é um sintoma de um público saturado de produções genéricas. O boca a boca digital transformou o ‘fracasso’ de bilheteria em um hit de crítica e audiência. É a prova de que, às vezes, a melhor estratégia de marketing é simplesmente entregar um roteiro inteligente que não subestima a capacidade do espectador de ligar os pontos.
Veredito: vale a pena assistir?
‘Relay: Contrato Perigoso’ é recomendado para quem busca um thriller de ideias. Se você espera sequências de ação ininterruptas, pode se frustrar com o ritmo deliberado de Mackenzie. Mas, se você valoriza a construção de atmosfera e um protagonista que vence pela inteligência em vez da força bruta, este é o melhor suspense disponível no catálogo atualmente. É um filme que recompensa o silêncio em um mundo barulhento.
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Perguntas Frequentes sobre ‘Relay: Contrato Perigoso’
O que é o serviço de ‘Relay’ mostrado no filme?
O serviço de retransmissão (Relay) é um sistema real usado por pessoas com deficiência auditiva ou na fala. Um operador humano digita o que é dito e lê o que é digitado, servindo como ponte. No filme, o protagonista usa isso para manter o anonimato total.
‘Relay: Contrato Perigoso’ é baseado em uma história real?
Não, o roteiro é uma ficção original escrita por Justin Piasecki. No entanto, ele se inspira em táticas reais de espionagem industrial e na cultura de denunciantes (whistleblowers) corporativos.
Onde posso assistir ao filme?
O filme está disponível no catálogo da Netflix, tendo chegado à plataforma após uma breve passagem pelos cinemas internacionais.
Qual a classificação indicativa de ‘Relay: Contrato Perigoso’?
A classificação costuma ser de 14 a 16 anos (dependendo da região), devido a temas adultos, tensão psicológica e violência pontual.
O filme tem cenas de ação pesada?
Não. ‘Relay’ é focado em suspense psicológico e intelectual. Embora haja momentos de perigo físico, o foco é na tensão e no jogo de gato e rato entre os personagens.

