O episódio 7 de ‘Pluribus’ coloca seus dois protagonistas em caminhos paralelos de autodestruição: Manousos recusa qualquer ajuda alienígena por princípio, Carol desmorona após 36 dias de isolamento absoluto. Analisamos como a série transforma virtudes humanas — integridade, convicção, resistência — em obstáculos para a própria salvação.
Existe um tipo de episódio de TV que funciona como um espelho incômodo. Você assiste achando que está julgando os personagens, e de repente percebe que está julgando a si mesmo. “The Gap”, o sétimo episódio de ‘Pluribus’, é exatamente isso — uma meditação de 50 minutos sobre como as mesmas qualidades que nos definem como humanos podem ser precisamente o que nos destrói.
Manousos e Carol são, provavelmente, as duas únicas pessoas no planeta que ainda resistem à colmeia alienígena. Deveriam ser aliados naturais. Mas enquanto um atravessa o país a pé para encontrar a outra, ela está desmoronando em tempo real. E o mais perturbador? Ambos estão falhando pelo mesmo motivo.
O orgulho de Manousos: quando princípios viram prisão
Nos episódios anteriores, era fácil interpretar a recusa de Manousos em aceitar qualquer ajuda da colmeia como medo ou desconfiança racional. “The Gap” corrige essa leitura. Quando ele finalmente verbaliza sua posição — “Nada neste planeta é seu. Nada. Você não pode me dar nada porque tudo que você tem é roubado. Você não pertence aqui” — fica claro que estamos diante de algo mais profundo. Não é paranoia. É convicção.
E convicção, em ‘Pluribus’, é uma faca de dois gumes.
A colmeia oferece água. Ele recusa. Oferece transporte instantâneo até Carol. Ele recusa. Oferece informações que poderiam mudar tudo. Ele recusa. Manousos prefere comer ração de cachorro enlatada e sifonar gasolina de carros abandonados a aceitar qualquer coisa de uma entidade que considera invasora. É, de certa forma, admirável. Também é potencialmente suicida.
A ironia que o episódio 7 de ‘Pluribus’ constrói com precisão cirúrgica é esta: sem os vídeos de Carol — que ele só recebeu porque a colmeia permitiu — Manousos nem saberia que “salvar o mundo” era uma possibilidade. Sua resistência absoluta quase o impediu de descobrir que havia algo pelo que lutar.
A jornada física como metáfora do impasse interno
Carlos Manuel Vesga entrega uma performance que é 80% física e 100% devastadora. Assistir Manousos abandonar o carro e partir para uma caminhada que a própria colmeia alerta ser perigosa demais é assistir a teimosia humana em sua forma mais pura — e mais autodestrutiva.
O episódio não romantiza essa escolha. Não há música triunfante enquanto ele escala terrenos impossíveis. Há exaustão, desidratação, e a inevitável necessidade de aceitar ajuda no final. A colmeia estava certa. Ele precisou deles. E esse é o ponto.
‘Pluribus’ está fazendo uma pergunta incômoda: e se a resistência heroica for, na verdade, um luxo que a humanidade não pode mais se dar? E se o caminho para salvar o mundo exigir engolir o orgulho junto com a ração de cachorro?
Carol e os 36 dias que quebraram uma resistência
Enquanto Manousos enfrenta obstáculos físicos, Carol enfrenta algo pior: o vazio absoluto. Rhea Seehorn, que já provou em ‘Better Call Saul’ que consegue comunicar universos inteiros com micro-expressões, aqui tem a tarefa ainda mais difícil de mostrar uma pessoa se dissolvendo em tempo real.
Trinta e seis dias. Completamente sozinha. Não porque está presa — ela pode ir aonde quiser, fazer o que quiser. Mas ninguém quer interagir com ela. Nem a colmeia, nem Diabaté, nem os outros sobreviventes. É a forma mais cruel de isolamento: a que vem com liberdade total e conexão zero.
O episódio mostra Carol comendo em restaurantes vazios, tacando bolas de golfe em prédios, e finalmente sentada no centro de um círculo de fogos de artifício, imóvel mesmo quando um deles tomba em sua direção. Não é tentativa de suicídio no sentido tradicional. É algo mais perturbador: indiferença completa sobre continuar existindo.
O paradoxo que define o episódio 7 de ‘Pluribus’
Carol e Manousos compartilham a mesma convicção fundamental: o que a colmeia fez — essa “junção” forçada da humanidade — foi errado. Essa crença é o que os mantém humanos em um mundo onde a humanidade, como conceito, está sendo reescrita. Mas “The Gap” revela o custo dessa posição.
A cena em que Carol finalmente pede para a colmeia voltar, desabando em lágrimas nos braços de Zosia, é o momento mais honesto da temporada até agora. Não é rendição ideológica. É uma mulher descobrindo que princípios não substituem abraços. Que estar certo não aquece.
O título do episódio — “The Gap”, a lacuna — funciona em múltiplos níveis. É a distância física entre Manousos e Carol. É o abismo emocional que o isolamento criou nela. E é, talvez, a brecha entre quem esses personagens querem ser e quem eles precisam se tornar para sobreviver.
Quando Manousos chegar, o que vai encontrar?
A grande questão que o episódio deixa no ar é devastadoramente simples: e se ele chegar tarde demais? Não fisicamente — Carol ainda estará lá. Mas a Carol que gravou aqueles vídeos, que tinha fogo suficiente para desafiar uma entidade alienígena, essa pode ter se apagado.
Manousos está atravessando o país para encontrar uma aliada. Pode encontrar uma pessoa quebrada que já não quer mais lutar. E a culpa será, em parte, dele — de sua recusa em aceitar o transporte que o teria levado até ela em horas, não semanas.
É uma construção narrativa cruel e brilhante. Os dois únicos humanos que poderiam mudar alguma coisa estão se sabotando por motivos que, em outro contexto, seriam virtudes. Integridade. Princípios. Recusa em se curvar. Em ‘Pluribus’, essas qualidades não são celebradas — são examinadas com bisturi.
O que “The Gap” diz sobre resistência em tempos impossíveis
Há uma leitura fácil desse episódio: “vejam como a teimosia é ruim”. Mas ‘Pluribus’ é mais inteligente que isso. A série não está dizendo que Manousos e Carol estão errados em resistir. Está dizendo que resistência tem custos, e que ignorar esses custos é outra forma de se render.
Manousos poderia ter mantido seus princípios E aceitado o transporte. Poderia ter odiado a colmeia com cada fibra do seu ser enquanto usava os recursos dela para chegar mais rápido ao seu objetivo. Mas isso exigiria uma flexibilidade que ele não tem. Sua pureza ideológica é absoluta — e absolutamente contraproducente.
Carol, por sua vez, descobriu que resistência solitária tem prazo de validade. O ser humano não foi feito para existir sem conexão. Nem mesmo quando essa conexão vem de uma fonte que você considera fundamentalmente errada.
Para onde ‘Pluribus’ caminha agora
Se o episódio 7 estabelece alguma coisa, é que a eventual união de Manousos e Carol não será o momento triunfante que a estrutura narrativa tradicional prometeria. Ambos chegarão a esse encontro enfraquecidos — ele fisicamente destruído pela jornada desnecessariamente difícil, ela emocionalmente devastada pelo isolamento que sua própria postura criou.
A pergunta que ‘Pluribus’ parece determinada a responder é: pode a humanidade ser salva por pessoas que se recusam a comprometer? Ou salvar a humanidade exige, paradoxalmente, abrir mão de parte do que nos faz humanos?
Não tenho resposta. Suspeito que a série também não — pelo menos não uma resposta simples. E é exatamente por isso que “The Gap” funciona tão bem. Não oferece soluções fáceis. Oferece um espelho. O que você vê nele diz mais sobre você do que sobre Manousos ou Carol.
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Perguntas Frequentes sobre ‘Pluribus’ Episódio 7
Onde assistir ‘Pluribus’?
‘Pluribus’ é uma série original da Apple TV+, disponível exclusivamente na plataforma. Novos episódios são lançados semanalmente às sextas-feiras.
Qual o título original do episódio 7 de ‘Pluribus’?
O episódio 7 se chama “The Gap” (A Lacuna), título que funciona como metáfora para a distância física entre Manousos e Carol, o vazio emocional de Carol, e a brecha entre quem os personagens são e quem precisam se tornar.
Quem interpreta Manousos e Carol em ‘Pluribus’?
Manousos é interpretado por Carlos Manuel Vesga, enquanto Carol é vivida por Rhea Seehorn, conhecida por seu papel como Kim Wexler em ‘Better Call Saul’.
Quantos episódios tem a primeira temporada de ‘Pluribus’?
A primeira temporada de ‘Pluribus’ tem 10 episódios no total. O episódio 7, “The Gap”, marca o início do terço final da temporada.
Preciso assistir os episódios anteriores para entender o episódio 7?
Sim. ‘Pluribus’ tem narrativa serializada e o episódio 7 depende diretamente do desenvolvimento dos personagens e da mitologia estabelecida nos episódios anteriores. Não é recomendável começar por este episódio.

