‘Last Samurai Standing’: por que a série da Netflix é o ápice do gênero samurai

Analisamos como ‘Last Samurai Standing’ redefine o gênero na Netflix através da maestria técnica de Junichi Okada. Descubra por que a série supera ‘Xógum’ na fidelidade ao combate e como a Era Meiji serve de palco para o thriller samurai mais visceral da década.

Existe uma diferença fundamental entre assistir a um filme de ação e testemunhar uma arte marcial em sua forma mais pura. ‘Last Samurai Standing’, a nova aposta da Netflix, pertence à segunda categoria. Após um 2024 dominado pela grandiosidade política de ‘Xógum: A Gloriosa Saga do Japão’, a série dirigida por Michihito Fujii surge como o contraponto necessário: um mergulho visceral na técnica, no suor e na obsolescência da classe samurai durante a Era Meiji.

A gramática da espada: Por que a coreografia aqui é diferente

A adaptação do mangá de Shogo Imamura acerta onde produções como ‘Rurouni Kenshin’ (live-action) às vezes flertam com o fantástico: ela mantém os pés no chão e as mãos firmes no tsuka (cabo). Em ‘Last Samurai Standing’, o combate não é um interlúdio entre diálogos; é a própria narrativa. Cada golpe desferido por Shujiro Saga carrega o peso de um homem que sabe que sua existência é um anacronismo.

A direção de Fujii abandona os cortes frenéticos que costumam esconder a falta de habilidade dos atores. Em vez disso, a câmera se torna uma observadora técnica, capturando a biomecânica real do kenjutsu. A tensão não vem da edição, mas da distância (maai) entre os lutadores. É uma aula de suspense físico que remete aos melhores momentos de Hideo Gosha em ‘The Mute Samurai’.

O fator Junichi Okada: A verdade por trás da lâmina

O grande trunfo da série atende pelo nome de Junichi Okada. Diferente de astros que treinam por alguns meses para um papel, Okada é um artista marcial legítimo e coreógrafo veterano. Isso elimina a ‘barreira do dublê’. Quando vemos Shujiro enfrentar Bukotsu sob uma chuva torrencial, não há truques de câmera. É a postura real de Okada, a distribuição de peso exata para um corte diagonal e a exaustão genuína de quem executa movimentos complexos em terreno adverso.

Uma cena específica define a série: o duelo no corredor estreito do templo Tenryū-ji. Okada utiliza as limitações do espaço — as colunas, o teto baixo — para ditar o ritmo da luta. É uma aula de aproveitamento de cenário que só alguém com profundo entendimento de combate poderia conceber. Para o espectador, a sensação é de perigo real; para o purista, é um deleite técnico raro na televisão moderna.

Meiji: O cenário de um mundo que não quer mais samurais

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A série não se sustenta apenas no metal. A ambientação na Era Meiji — especificamente o período após o decreto Haitōrei, que proibiu o uso de espadas em público — dá à trama uma camada de melancolia necessária. ‘Last Samurai Standing’ captura a sujeira, a confusão e o conflito de identidade de um Japão que tentava se ocidentalizar à força.

Enquanto ‘Xógum’ focava na ascensão do sistema feudal, esta série foca na sua queda dolorosa. O templo Tenryū-ji em Kyoto não é apenas um cenário bonito; ele representa o último refúgio de uma tradição que está sendo varrida pela modernidade. Essa autenticidade histórica, aliada à fotografia fria e pouco saturada, afasta a série do brilho artificial de Hollywood e a aproxima do jidaigeki clássico.

‘Last Samurai Standing’ vs. ‘Xógum’: Qual assistir?

A comparação é inevitável, mas os propósitos são distintos. ‘Xógum’ é um drama de tribunal e estratégia onde as espadas raramente saem das bainhas. É cerebral. Já ‘Last Samurai Standing’ é instintivo. Se a série da FX é sobre quem detém o poder, a da Netflix é sobre o preço de manter a honra quando o poder já não importa mais.

Para quem cresceu assistindo às obras de Akira Kurosawa ou Masaki Kobayashi, a série é um retorno às raízes. Ela não tenta ser ‘cool’ para o público jovem através de efeitos visuais; ela se torna fascinante pela precisão. É uma obra que exige atenção aos detalhes: o som do metal, o deslizar dos pés no tatame e o silêncio que precede o golpe fatal.

Veredito: O novo padrão de ouro do gênero

‘Last Samurai Standing’ é o ápice do gênero na era do streaming porque entende que o samurai não é definido pelo que ele diz, mas por como ele se move. Com uma segunda temporada já confirmada, a Netflix tem em mãos não apenas um sucesso de audiência, mas uma obra que será referência técnica por anos. Se você busca a verdade do aço e o peso da história, o seu lugar é no torneio de Shujiro Saga.

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Perguntas Frequentes sobre ‘Last Samurai Standing’

‘Last Samurai Standing’ é baseada em uma história real?

Não diretamente. A série é uma adaptação do mangá ‘Ikusagami’ de Shogo Imamura. No entanto, ela utiliza o contexto histórico real da Era Meiji e locações autênticas como o templo Tenryū-ji para dar verossimilhança à trama.

Junichi Okada realmente faz as cenas de luta?

Sim. Junichi Okada é um artista marcial treinado e também atua como coreógrafo de lutas da série. Sua experiência permite que a produção utilize planos mais longos e realistas, sem a necessidade constante de dublês.

Preciso ter assistido ‘Xógum’ para entender a série?

Não. As histórias são independentes e se passam em períodos diferentes. Enquanto ‘Xógum’ foca no início do período feudal (ano 1600), ‘Last Samurai Standing’ se passa no final do século XIX, durante a transição para a era moderna.

Onde a série foi filmada?

A produção teve acesso sem precedentes ao templo Tenryū-ji em Kyoto, um Patrimônio Mundial da UNESCO, além de outras locações históricas no Japão, o que garante o visual autêntico da obra.

‘Last Samurai Standing’ terá 2ª temporada?

Sim, a Netflix já confirmou a renovação da série para uma segunda temporada, dado o sucesso de crítica e a vasta quantidade de material original do mangá ainda disponível para adaptação.

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Marina Souza
Marina Souza
Oi! Eu sou a Marina, redatora aqui do Cinepoca. Desde os tempos de criança, quando as tardes eram preenchidas por maratonas de clássicos da Disney em VHS e as noites por filmes de terror que me faziam espiar por entre os dedos, o cinema se tornou um portal para incontáveis realidades. Não importa o gênero, o que sempre me atraiu foi a capacidade de um filme de transportar, provocar e, acima de tudo, contar algo.No Cinepoca, busco compartilhar essa paixão, destrinchando o que há de mais interessante no cinema, seja um blockbuster que domina as bilheterias ou um filme independente que mal chegou aos circuitos.Minhas expertises são vastas, mas tenho um carinho especial por filmes que exploram a complexidade da mente humana, como os suspenses psicológicos que te prendem do início ao fim. Meu objetivo é te levar em uma viagem cinematográfica, apresentando filmes que talvez você nunca tenha visto, mas que definitivamente merecem sua atenção.

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