Kevin Spacey retorna à TV após 8 anos em ‘Minimarket’, comédia italiana onde interpreta a si mesmo como mentor imaginário. Analisamos o que esse projeto revela sobre o limbo profissional de artistas acusados mas não condenados.
Oito anos. Esse é o tempo que Kevin Spacey ficou longe da televisão desde que foi demitido de ‘House of Cards’ em 2017, após as primeiras acusações de má conduta sexual que derrubariam sua carreira. Agora, o ator de dois Oscars reaparece em ‘Minimarket’, uma comédia italiana onde interpreta… a si mesmo. Ou melhor, uma versão imaginária de si mesmo que serve como mentor artístico de um jovem aspirante a estrela.
A escolha é, no mínimo, curiosa. E levanta uma pergunta que Hollywood (ou, neste caso, a indústria italiana) ainda não conseguiu responder de forma satisfatória: o que fazer com artistas cujo legado foi manchado por acusações graves, mas que nunca foram condenados criminalmente?
O que é ‘Minimarket’ e por que Kevin Spacey está nela
‘Minimarket’ acompanha Manlio Viganò (Filippo Laganà), um italiano que trabalha em uma loja de conveniência em Roma enquanto sonha em se tornar uma estrela. Spacey aparece como sua “consciência artística” — um mentor imaginário que existe apenas na cabeça do protagonista. A sinopse oficial descreve a relação entre os dois como marcada por “implicâncias, mal-entendidos e provocações mútuas”.
Há algo de meta-textual impossível de ignorar aqui. A série mistura, segundo a produção, “a experiência de um homem que esteve nos sets mais importantes do mundo” com “a imprudência de alguém que não percebe que tem um vencedor do Oscar ao seu lado”. É o tipo de premissa que só funciona se o público reconhecer quem Kevin Spacey foi — e, inevitavelmente, o que aconteceu com ele.
A comédia terá 10 episódios e será lançada no RaiPlay, serviço de streaming italiano, em 26 de dezembro de 2025.
O contexto que a série não pode ignorar
Em 2017, o ator Anthony Rapp acusou Spacey de avanços sexuais quando Rapp tinha apenas 14 anos. A acusação abriu uma comporta: outras alegações surgiram, a Netflix o demitiu de ‘House of Cards’, e Ridley Scott chegou a substituí-lo por Christopher Plummer em ‘Todo o Dinheiro do Mundo’ — refazendo cenas inteiras semanas antes da estreia.
Nos anos seguintes, Spacey enfrentou investigações em múltiplas jurisdições. Os resultados foram mistos: foi considerado não responsável por abuso sexual em um processo civil em Nova York e absolvido de agressão sexual em um caso criminal em Londres. Nenhuma acusação resultou em condenação. Ainda assim, em 2026, ele enfrentará mais três processos civis por agressão sexual em Londres.
Legalmente, Spacey permanece um homem não condenado. Profissionalmente, tornou-se um pária. Essa dissonância é o que torna ‘Minimarket’ tão difícil de categorizar.
Uma carreira em modo de sobrevivência
Desde ‘House of Cards’, Spacey não ficou completamente parado — mas seus projetos revelam o tamanho da queda. Apareceu em produções de baixo orçamento como ‘Control: O Poder da Mente’ (2023), ‘Peter Five Eight’ (2024) e ‘The Contract’ (2024). Dirigiu ‘Holiguards’ (2025), que até agora não conseguiu distribuição de nenhum estúdio relevante. Nenhum desses filmes chegou perto do alcance que seus trabalhos anteriores tinham.
Recentemente, em entrevista ao The Telegraph, Spacey afirmou estar “sem casa” — vivendo em hotéis e Airbnbs, seguindo para onde há trabalho. “Os custos nos últimos sete anos foram astronômicos. Tive muito pouco entrando e tudo saindo”, disse. Depois, em vídeo no Instagram, esclareceu que não estava “sem-teto no sentido coloquial” e que seu coração está com aqueles que realmente vivem nas ruas.
É uma imagem distante do ator que, em seu auge, comandava salários de oito dígitos e escolhia projetos a dedo.
O que ‘Minimarket’ significa para o futuro de Spacey
‘Minimarket’ não é um retorno triunfante. É uma produção italiana para streaming, não uma série da HBO ou Netflix. Mas é televisão — o meio que definiu a segunda fase da carreira de Spacey com ‘House of Cards’, papel que lhe rendeu um Globo de Ouro e transformou a Netflix em produtora séria de conteúdo original.
A escolha de interpretar a si mesmo adiciona uma camada de complexidade. Spacey não está tentando desaparecer em um personagem; está colocando sua persona — com toda a bagagem que ela carrega — no centro da narrativa. É uma aposta arriscada. Para alguns, pode parecer falta de autoconsciência. Para outros, uma tentativa de ressignificar sua imagem através do humor.
O que fica claro é que Spacey não desistiu de trabalhar. E que há produtores dispostos a escalá-lo, mesmo que apenas em mercados periféricos ao mainstream hollywoodiano.
A pergunta que não quer calar
Casos como o de Spacey expõem uma tensão que a indústria do entretenimento ainda não resolveu. Ele nunca foi condenado criminalmente. Mas as acusações foram numerosas e detalhadas o suficiente para destruir sua reputação. Onde fica a linha entre presunção de inocência e responsabilidade moral? Quem decide quando — ou se — um artista pode voltar?
Hollywood parece ter dado sua resposta: portas fechadas. A Itália, aparentemente, está disposta a entreabrir uma fresta.
Se ‘Minimarket’ será um passo em direção à reabilitação ou apenas uma nota de rodapé em uma carreira em declínio, só o tempo dirá. Por enquanto, é um lembrete de que, no mundo do entretenimento, a distância entre o topo e o esquecimento pode ser medida em acusações — não necessariamente em condenações.
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Perguntas Frequentes sobre Kevin Spacey em ‘Minimarket’
Onde assistir ‘Minimarket’ com Kevin Spacey?
‘Minimarket’ será lançada no RaiPlay, serviço de streaming italiano, em 26 de dezembro de 2025. Ainda não há confirmação de distribuição internacional.
Quantos episódios tem ‘Minimarket’?
A primeira temporada terá 10 episódios. Spacey aparece como personagem recorrente — uma versão imaginária de si mesmo que serve como mentor do protagonista.
Kevin Spacey foi condenado por algum crime?
Não. Spacey foi absolvido em um caso criminal de agressão sexual em Londres e considerado não responsável em um processo civil em Nova York. Porém, ele ainda enfrentará três processos civis em Londres em 2026.
Qual foi o último trabalho de Kevin Spacey na TV?
‘House of Cards’ (2013-2017). Spacey foi demitido da série da Netflix após as acusações de má conduta sexual em 2017. A sexta e última temporada foi produzida sem ele.
Quem interpreta Kevin Spacey em ‘Minimarket’?
O próprio Kevin Spacey. Ele interpreta uma versão fictícia de si mesmo — um mentor imaginário que existe apenas na mente do protagonista Manlio Viganò (Filippo Laganà).
