Kate Winslet dirige pela 1ª vez roteiro do próprio filho

Kate Winslet estreia como diretora em ‘Adeus, June’, filme baseado no roteiro que seu filho Joe Alfie escreveu como trabalho de faculdade. A atriz conta por que não conseguiu entregar o projeto para outro diretor e como criou um set focado em dar espaço aos atores.

Existe algo profundamente irônico em Kate Winslet diretora. Depois de quase três décadas sendo dirigida por James Cameron, Sam Mendes, Michel Gondry e tantos outros mestres do cinema, a atriz britânica finalmente sentou na cadeira de comando — e precisou de um trabalho de escola do filho para dar esse passo.

‘Adeus, June’ marca a estreia de Winslet na direção, mas a história de como o filme chegou às telas é quase tão interessante quanto o próprio longa. Joe Alfie Winslet Mendes, filho da atriz com o diretor Sam Mendes, escreveu o roteiro como um projeto de faculdade de roteirismo. Não era para virar filme. Era para ser uma tarefa entregue, avaliada e arquivada.

Só que a mãe leu.

De trabalho escolar a produção Netflix: como tudo começou

Segundo Winslet, Joe estava claramente nervoso quando mencionou o roteiro. “Ele ficava tentando se convencer a não me deixar ler”, contou a atriz em entrevista. “Dizia que era só o primeiro rascunho, que não tinha terminado completamente, que provavelmente não era bom o suficiente.” A resposta dela foi direta: “Para. Me dá o roteiro.”

O que Winslet encontrou naquelas páginas a surpreendeu. Os personagens estavam completamente formados. Os diálogos eram extraordinários — tão naturais que ela se pegou lendo em voz alta, querendo falar aquelas falas. “Eu podia ver que ele sabia escrever, mas ele realmente sabia escrever”, explicou.

Joe tinha 20 páginas ainda para finalizar quando a mãe decidiu que aquilo não podia ficar guardado numa pasta de faculdade. “Você escreveu um filme e nós vamos produzi-lo”, disse a ele. A reação do filho foi previsível: “Do que você está falando? É só uma tarefa, mãe.”

Kate Winslet diretora: uma decisão que ela não planejava

O plano original era simples: Winslet produziria o filme e interpretaria uma das irmãs protagonistas. Andrea Riseborough, ao saber do projeto, quis o papel de Molly. Com Riseborough a bordo, Winslet decidiu que precisava interpretar Julia — perder a chance de contracenar com ela seria “tolice”, nas palavras da própria atriz.

Faltava apenas o diretor.

O roteiro foi enviado para diversos nomes. E então Winslet travou. “Eu simplesmente não conseguia fazer isso”, admitiu. “Eu disse ao Joe: não podemos deixar isso escapar. Não podemos entregar para outra pessoa. É lindo demais. Não quero que você perca a experiência de ver essa história e esses personagens ganharem vida nas mãos desses atores incríveis que todos disseram sim.”

Foi assim que Kate Winslet, aos 49 anos, após uma carreira que inclui Oscar, Globos de Ouro e praticamente todos os prêmios que existem para atrizes, se tornou diretora pela primeira vez.

Um set diferente: menos equipe, mais foco nos atores

Winslet não quis apenas dirigir — quis criar um ambiente específico. Menos pessoas no set. Uma equipe de apoio focada em eliminar distrações. O objetivo era claro: dar aos atores o espaço que ela, como atriz, sempre desejou ter.

“Mesmo que eu nunca tenha a chance de dirigir novamente na minha vida, essa foi uma experiência extraordinária”, disse. “Amei cada segundo. Nunca quis que terminasse.”

O elenco que ela reuniu impressiona: além de Riseborough, ‘Adeus, June’ conta com Toni Collette, Helen Mirren, Timothy Spall, Johnny Flynn e Stephen Merchant. A história acompanha uma mãe com doença terminal durante o Natal, forçando seus filhos a lidarem com luto e questões familiares não resolvidas.

Cinema como assunto de família

O que torna essa história ainda mais curiosa é o contexto familiar. Joe Alfie já tinha experiência como ator — apareceu em ‘1917’ (dirigido pelo próprio pai), ‘Lee’ e ‘Bonus Track’. Mia Threapleton, filha de Winslet com Jim Threapleton, também seguiu carreira de atriz, conseguindo seus primeiros papéis sem que ninguém fizesse a conexão com a mãe famosa. Wes Anderson, segundo Winslet, a escalou pensando que era apenas “uma jovem chamada Mia que ele nunca tinha visto antes”.

Existe algo de tocante nessa dinâmica. Uma família onde o trabalho criativo é compartilhado, mas cada um precisa provar seu valor independentemente. Joe não queria mostrar o roteiro para a mãe justamente porque sabia que seria julgado como escritor, não como filho. E quando Winslet leu, foi exatamente isso que fez: avaliou o trabalho pelo que era.

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O veredito (até agora)

‘Adeus, June’ estreou em cinemas selecionados antes de chegar à Netflix em 24 de dezembro de 2025. Com 64% no Rotten Tomatoes, as reações estão divididas — o que, para um filme de estreia na direção, não é necessariamente má notícia. Críticas mistas significam que há algo ali para discutir, para além do óbvio “Kate Winslet dirigiu um filme”.

O mais interessante talvez seja o que esse projeto representa para a carreira dela. Winslet passou décadas sendo uma das atrizes mais respeitadas do mundo, de ‘Titanic’ a ‘Mare of Easttown’, de ‘Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças’ aos filmes de ‘Avatar’. Ela não precisava provar mais nada. E ainda assim, escolheu se arriscar — não por ambição, mas porque não conseguia entregar o trabalho do filho para outra pessoa conduzir.

Se ‘Adeus, June’ vai marcar o início de uma nova fase como diretora ou será uma experiência única, só o tempo dirá. Mas a história de como chegamos até aqui — um trabalho de faculdade, uma mãe orgulhosa, uma decisão tomada por amor ao material — é o tipo de coisa que Hollywood adoraria transformar em roteiro. Ironia das ironias: esse roteiro, pelo menos, já existe.

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