“Filmes não são divertidos”: Por que ‘Melancolia’ é o favorito de Kirsten Dunst?

Kirsten Dunst revelou por que o sombrio ‘Melancolia’ foi sua melhor experiência profissional, apesar de afirmar que “filmes não são divertidos”. Analisamos a conexão da atriz com o set de Lars von Trier e por que este é o retrato mais honesto da depressão no cinema.

Existe uma contradição fascinante na trajetória de Kirsten Dunst. Após décadas estrelando blockbusters e produções de estúdio, a atriz revelou que sua experiência favorita de filmagem foi justamente em ‘Melancolia’, um épico intimista sobre depressão e o fim do mundo. No podcast SmartLess, Dunst foi enfática: “Filmes não são divertidos de fazer”. Para ela, a obra de Lars von Trier foi a exceção que provou a regra.

Vindo de quem estreou aos 12 anos em ‘Entrevista com o Vampiro’ e carregou o peso da trilogia original do ‘Homem-Aranha’, a declaração não é cinismo, mas um diagnóstico da indústria. O que torna Kirsten Dunst Melancolia uma combinação tão poderosa não é o brilho de Hollywood, mas a crueza de um set que operava sob regras humanas, e não corporativas.

Por que o set de um apocalipse foi o ‘lugar feliz’ de Kirsten Dunst

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Dunst descreve os sets convencionais como maratonas de exaustão: esperas intermináveis, repetições mecânicas e a pressão constante do cronograma. Em contraste, as filmagens de ‘Melancolia’ em uma pequena cidade na Suécia pareciam, segundo ela, uma peça de teatro. O elenco — que incluía Alexander Skarsgård e Charlotte Gainsbourg — vivia no mesmo hotel, criando um senso de comunidade raro em grandes produções.

Essa atmosfera “aconchegante” é irônica quando pensamos no diretor Lars von Trier, conhecido por métodos que beiram o sadismo psicológico com suas atrizes (como visto em ‘Dançando no Escuro’). Contudo, com Dunst, houve uma simbiose técnica. O uso da câmera na mão pelo diretor de fotografia Manuel Alberto Claro permitiu que os atores se movessem livremente pelo cenário, sem as marcações rígidas que engessam a performance em filmes de heróis.

A depressão como superpoder diante do fim

O filme é dividido em dois atos que espelham a psique de Justine (Dunst). No primeiro, durante um casamento luxuoso, ela sucumbe a uma depressão paralisante. No segundo, enquanto o planeta Melancolia se aproxima da Terra, Justine é a única que mantém a calma. Há uma tese brilhante aqui: quem já vive em estado de catástrofe interna está mais preparado para o apocalipse real.

Dunst entrega uma atuação física, onde o peso do corpo parece desafiar a gravidade. A trilha sonora, dominada pelo prelúdio de ‘Tristão e Isolda’ de Richard Wagner, amplifica essa sensação de fatalismo inevitável. Foi essa entrega que lhe rendeu o prêmio de Melhor Atriz em Cannes, mas para Dunst, o valor estava no processo: um ambiente onde a intensidade do tema permitia uma honestidade emocional que o cinema comercial raramente tolera.

O padrão de colaborações autorais de Dunst

O padrão de colaborações autorais de Dunst

Se analisarmos a filmografia da atriz, ‘Melancolia’ não é um ponto fora da curva, mas o ápice de sua busca por diretores com visões fortes. Sua parceria de longa data com Sofia Coppola (‘As Virgens Suicidas’, ‘Maria Antonieta’) e trabalhos recentes com Alex Garland (‘Guerra Civil’) e Jane Campion (‘Ataque dos Cães’) mostram uma preferência clara: Dunst prefere ser uma colaboradora criativa a ser apenas uma peça na engrenagem de marketing.

Em ‘Melancolia’, ela encontrou o equilíbrio perfeito entre o minimalismo sueco e a grandiosidade do tema. O filme arrecadou apenas 21 milhões de dólares, mas sua relevância cultural como o retrato definitivo da depressão clínica só cresce com o tempo. Justine não busca redenção ou cura; ela busca aceitação do inevitável.

Veredito: Por que ‘Melancolia’ ainda é essencial

Quando Kirsten Dunst diz que filmes não são divertidos, ela está nos convidando a olhar para o cinema como trabalho e arte, não apenas entretenimento descartável. ‘Melancolia’ é um filme difícil, denso e visualmente arrebatador, mas para Dunst, foi onde ela finalmente sentiu que o cinema poderia ser algo mais do que apenas “fazer um filme”.

Para o espectador, a recomendação da atriz serve como um aviso: não assista esperando alívio cômico ou uma jornada de herói. Assista para entender por que, às vezes, o fim do mundo pode ser o lugar mais honesto para se estar.

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Perguntas Frequentes sobre Kirsten Dunst e ‘Melancolia’

Onde posso assistir ao filme ‘Melancolia’?

Atualmente, ‘Melancolia’ está disponível para streaming em plataformas como a MUBI e para aluguel ou compra no Prime Video e Apple TV.

Kirsten Dunst ganhou algum prêmio por ‘Melancolia’?

Sim, Kirsten Dunst venceu o prestigiado prêmio de Melhor Atriz no Festival de Cannes em 2011 por sua interpretação de Justine.

O filme ‘Melancolia’ é baseado em uma história real?

Não. O filme é uma obra de ficção escrita e dirigida por Lars von Trier, inspirada em suas próprias experiências pessoais com episódios depressivos.

Qual é o significado do planeta Melancolia no filme?

O planeta é uma metáfora física para a depressão. Assim como o corpo celeste, a depressão é algo imenso e inevitável que ameaça consumir todo o mundo da protagonista.

Por que o filme usa a música de Richard Wagner?

Lars von Trier utiliza o prelúdio de ‘Tristão e Isolda’ para evocar um sentimento de romantismo trágico e fatalismo, reforçando a escala épica do sofrimento interno de Justine.

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Lucas Lobinco
Lucas Lobinco
Sou o Lucas, e minha paixão pelo cinema começou com as aventuras épicas e os clássicos de ficção científica que moldaram minha infância. Para mim, cada filme é uma nova oportunidade de explorar mundos e ideias, uma janela para a criatividade humana. Minha jornada não foi nos bastidores da produção, mas sim na arte de desvendar as camadas de uma boa história e compartilhar essa descoberta. Sou movido pela curiosidade de entender o que torna um filme inesquecível, seja a complexidade de um personagem, a inovação visual ou a mensagem atemporal. No Cinepoca, meu foco é trazer uma perspectiva única, mergulhando fundo nos detalhes que fazem um filme valer a pena, e incentivando você a ver a sétima arte com novos olhos.Tenho um apreço especial por filmes de ação e aventura, com suas narrativas grandiosas e sequências de tirar o fôlego. A comédia de humor negro e os thrillers psicológicos também me atraem, pela forma como subvertem expectativas e exploram o lado mais sombrio da psique humana. Além disso, estou sempre atento às novas vozes e tendências que surgem na indústria, buscando os próximos grandes talentos e as histórias que definirão o futuro do cinema.

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