‘Filme Eddington’: O Pesadelo Cômico de Ari Aster Pós-COVID

Ari Aster, diretor de ‘Hereditário’ e ‘Midsommar’, retorna com ‘Filme Eddington’, uma obra que explora a fundo as divisões e absurdos da sociedade pós-pandemia. Com Joaquin Phoenix e Pedro Pascal, o filme mistura faroeste moderno, comédia ácida e drama social para retratar a América fraturada, prometendo ser tão impactante quanto seus trabalhos anteriores, mas de uma forma nova e incômoda.

Se você é fã do cinema que te deixa pensando por dias, provavelmente já ouviu falar de Ari Aster. Depois de nos presentear com pérolas perturbadoras como ‘Hereditário’, ‘Midsommar: O Mal Não Espera a Noite’ e o inusitado ‘Beau Tem Medo’, o diretor está de volta com seu mais novo trabalho, e prepare-se: o Filme Eddington promete ser tão divisivo quanto seus antecessores, mas por razões bem diferentes.

Em um mundo que ainda tenta entender as cicatrizes deixadas pela pandemia de COVID-19, Aster mergulha de cabeça nas mudanças mais profundas que essa experiência forçada nos trouxe. Não se trata apenas de distanciamento social ou máscaras, mas sim de como fomos fundamentalmente alterados ao sermos confinados, deixados com nossos próprios pensamentos (e dispositivos) enquanto o caos se instalava lá fora.

A paranoia, a hostilidade entre comunidades e comportamentos simplesmente bizarros já estavam em ascensão, mas a pandemia agiu como um acelerador brutal. Substituiu qualquer resquício de normalidade por uma divisão permanente, um abismo no que antes era terreno comum. É nesse cenário que ‘Eddington’ parece ser um dos primeiros filmes a realmente captar essa essência, a tentar entender essa nova (e perturbadora) realidade.

‘Eddington’ e a Essência da Sociedade Pós-Pandemia

Enquanto muitos filmes tentaram retratar a pandemia nos últimos anos, poucos conseguiram ir além da superfície. Vimos tentativas que focavam apenas no aspecto da saúde pública ou do confinamento físico. Mas ‘Eddington’ de Ari Aster, com sua mistura peculiar de gêneros e tons, parece mirar em algo mais profundo: a alteração fundamental do tecido social.

O filme não tem medo de olhar para o espelho e mostrar o reflexo de uma sociedade fraturada, onde a desconfiança e as teorias da conspiração floresceram em solo fértil. É uma obra que, para o bem ou para o mal, se sente genuinamente reflexiva desse período conturbado que vivemos. É como se Aster pegasse o sentimento latente de “o mundo enlouqueceu” e o transformasse em narrativa.

Diferente de filmes pandêmicos que pareciam apressados e superficiais, como o terror ‘Isolados: Medo Invisível’ (que, ironicamente, poderia gerar teorias da conspiração entre os personagens de ‘Eddington’) ou a comédia ‘A Bolha’ da Netflix, que muitos acharam sem graça, Aster tenta dizer algo novo. Ele não oferece respostas fáceis, mas apresenta um diagrama bem construído da nossa perturbadora realidade.

Um Retrato da América Dividida no Coração do Novo México

A trama de ‘Eddington’ nos leva a uma pequena cidade no Novo México, um cenário que evoca a atmosfera de um faroeste moderno. É aqui que conhecemos o Xerife Joe Cross, interpretado magistralmente por Joaquin Phoenix. Joe é uma figura polarizadora, anti-máscara e adepto de teorias da conspiração, com a vida embalada por podcasts duvidosos e as alfinetadas constantes de sua sogra, Dawn (Deirdre O’Connell).

Do outro lado do espectro ideológico está o Prefeito Ted Garcia (Pedro Pascal, que muitos sentiram estar subaproveitado em seu papel), cuja postura positiva e pró-máscara claramente irritam Joe. Há uma tensão palpável entre os dois líderes comunitários, um reflexo das divisões que se instalaram por todo o país.

O filme se desenrola tendo como pano de fundo os primeiros dias da pandemia, um período que também viu os protestos do movimento Black Lives Matter varrerem um país que, pouco antes, estava confinado em suas casas. ‘Eddington’ se torna um retrato amplo e implacável do que a América era e do que rapidamente se tornaria, com campanhas políticas acirradas, agitação social e, eventualmente, violência e tiroteios no meio do deserto.

Entre o Cômico e o Confronto: A Tonalidade de ‘Eddington’

Uma das marcas de Ari Aster é sua capacidade de misturar gêneros e tons de formas inesperadas. Em ‘Eddington’, ele expande ainda mais seus músculos cômicos, já demonstrados em ‘Beau Tem Medo’. Em certos momentos, o filme é histericamente amargo, encontrando humor nas situações mais sombrias e no comportamento absurdo dos personagens.

No entanto, essa acidez cômica convive com momentos de confronto brutal e comentários sociais que podem parecer, por vezes, excessivamente diretos. Aster toca em questões complexas como privilégio branco, relações com tribos indígenas, religião e teorias da conspiração. A crítica sugere que, em alguns pontos, o filme apenas arranha a superfície desses temas sem se aprofundar completamente.

A estrutura narrativa também surpreende. Aster utiliza o enquadramento de um faroeste clássico no início, para depois mergulhar em algo que foi descrito como ‘Onde os Fracos Não Têm Vez’ misturado com ‘Os Mercenários’. É quando a história atinge níveis verdadeiramente insanos, com uma escalada de violência que contrasta com a comédia inicial.

Apesar de algumas ressalvas, ‘Eddington’ merece reconhecimento por sua coragem em abordar assuntos que muitos cineastas prefeririam evitar. Quando acerta, o filme atinge em cheio, oferecendo momentos de profunda reflexão e desconforto, misturados com o riso nervoso provocado pelo absurdo da situação.

Personagens Memoráveis e a Ambição de Aster

O pequeno universo de ‘Eddington’ é povoado por personagens memoráveis que ajudam a dar vida à cidade e seus conflitos. Desde Austin Butler no papel de um pseudo-pastor suspeito até um jovem local que se envolve em ativismo para impressionar uma garota, cada figura tem seu papel na tapeçaria que Aster tece.

Esses personagens contribuem para a sensação de que a cidade é um microcosmo das divisões maiores que assolam o país. Suas interações e motivações, muitas vezes mesquinhas ou equivocadas, refletem a desorientação e a hostilidade que se instalaram na era pós-pandemia.

No entanto, a ambição de Aster em cobrir tantos temas e personagens em um único filme pode ser um dos pontos de debate. Com cerca de duas horas e meia de duração, ‘Eddington’ é extenso, mas alguns críticos sentiram que o tempo ainda foi insuficiente para amarrar todas as pontas soltas e explorar completamente cada subtrama ou tema abordado. É uma tapeçaria vasta, talvez grande demais para o tempo de tela disponível.

O Legado de Aster e a Recepção de ‘Eddington’

Para os fãs de longa data de Ari Aster, ‘Eddington’ representa uma evolução (ou talvez um desvio) em sua carreira. Conhecido por seus filmes de terror profundamente perturbadores e estilisticamente marcantes como ‘Hereditário’ e ‘Midsommar: O Mal Não Espera a Noite’, Aster agora explora um tipo diferente de medo – um que vem não do sobrenatural ou do horror corporal explícito, mas da própria realidade distorcida e dividida em que vivemos.

‘Eddington’ pode não ter os mesmos floreios estilísticos de seus trabalhos anteriores, mas lida com uma forma de pavor que atinge mais perto de casa. Ao tentar evocar a natureza divisiva do mundo pós-pandemia, Aster pode ter criado seu filme mais “ao centro” em termos de recepção, capaz de gerar tanto fascínio quanto repulsa.

O filme certamente reacenderá o diálogo sobre as consequências da pandemia e, em nível cinematográfico, é uma obra que lida com a realidade de uma forma que é ao mesmo tempo profundamente desconfortável e estranhamente palatável. É um filme que não tem medo de ser feio, assim como a realidade que ele tenta retratar.

‘Eddington’ teve sua estreia no Festival de Cinema de Cannes de 2025 e tem lançamento previsto nos cinemas para 18 de julho. Prepare-se para mais uma experiência cinematográfica que, vindo de Ari Aster, você sabe que não será comum.

Conclusão: Vale a Pena Assistir ao Filme Eddington?

‘Eddington’ de Ari Aster é, sem dúvida, uma das obras mais comentadas e esperadas do ano. Mergulhando de cabeça nas complexidades e absurdos da era pós-pandemia, o filme oferece um retrato amargo e, por vezes, hilário de uma sociedade dividida. Com um elenco estelar e a direção única de Aster, é um filme que provoca e desafia o espectador.

Embora possa não ser perfeito e sua ambição por vezes supere sua execução, ‘Eddington’ é um filme corajoso que ousa tocar em feridas recentes e ainda abertas. É uma peça cinematográfica que reflete nossa realidade de forma desconfortável, mas necessária. Se você busca um filme que vá além do entretenimento e o faça pensar (e talvez rir nervosamente), o Filme Eddington é uma adição essencial à sua lista de “tem que ver”. Prepare-se para o debate – ele está apenas começando.

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Perguntas Frequentes sobre o Filme Eddington

Qual é a premissa do Filme Eddington?

‘Filme Eddington’ se passa em uma pequena cidade no Novo México durante os primeiros dias da pandemia de COVID-19 e explora as profundas divisões sociais, a paranoia e os comportamentos bizarros que emergiram nesse período, misturando elementos de faroeste, comédia ácida e drama social.

Quem dirigiu o Filme Eddington?

O filme foi dirigido por Ari Aster, conhecido por seus trabalhos anteriores nos gêneros de terror e drama, como ‘Hereditário’, ‘Midsommar: O Mal Não Espera a Noite’ e ‘Beau Tem Medo’.

Qual o elenco principal de Filme Eddington?

O elenco conta com nomes notáveis como Joaquin Phoenix no papel do Xerife Joe Cross, Pedro Pascal como o Prefeito Ted Garcia, Deirdre O’Connell como Dawn e Austin Butler em um papel secundário.

Quando o Filme Eddington foi lançado ou será lançado?

‘Filme Eddington’ estreou no Festival de Cinema de Cannes em maio de 2025. O lançamento nos cinemas está previsto para 18 de julho de 2025.

Como Filme Eddington aborda a pandemia de COVID-19?

Em vez de focar apenas nos aspectos de saúde ou confinamento, o filme de Ari Aster mergulha nas consequências sociais e psicológicas da pandemia, explorando a ascensão da paranoia, a hostilidade e a fratura no tecido social que o período acelerou.

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