Completando 30 anos, ‘Neon Genesis Evangelion’ revolucionou o anime ao misturar mechas gigantes com drama psicológico profundo, refletindo a visão e as lutas pessoais de seu criador, Hideaki Anno. Descubra como a série quebrou paradigmas, explorou a psique humana e moldou a indústria, deixando um legado duradouro que inspira até hoje.
Prepare-se para uma viagem no tempo e na mente, porque o Legado Evangelion completa 30 anos! É difícil acreditar que já faz tanto tempo que ‘Neon Genesis Evangelion’ surgiu no Japão, em 1995, e virou o mundo do anime de cabeça para baixo, misturando robôs gigantes, drama psicológico pesado e mistérios que a gente discute até hoje. Mas a grande questão é: como essa loucura toda aconteceu? E será que algo assim poderia rolar de novo?
Três décadas se passaram desde que a galera foi apresentada a Shinji, Rei, Asuka e aos Evas. Para celebrar, mergulhamos em entrevistas antigas e descobrimos um papo irado de 1996 com o mestre Hideaki Anno, o diretor e criador dessa obra-prima. Ele falou abertamente sobre o que o motivou a criar ‘Evangelion’, e a real é que tudo começou com uma vontade gigante de dar um chacoalhão no que ele via como uma indústria de anime meio parada, especialmente no gênero mecha.
“As pessoas que fazem anime e as que assistem sempre querem as mesmas coisas”, disse Anno na época. “Os criadores estão fazendo a mesma história há uns 10 anos; os espectadores parecem satisfeitos, e não há senso de urgência. Não há futuro nisso.” Essa insatisfação foi a faísca que acendeu a chama de ‘Evangelion’, uma série que provou que o anime de robô podia ser muito mais do que vender brinquedos ou seguir fórmulas prontas.
Os Primeiros Passos do Gênio: Influências e o Mercado dos Anos 80
Para entender o ‘Legado Evangelion’, a gente precisa voltar um pouco no tempo e conhecer o jovem Hideaki Anno. Ele cresceu no Japão na primeira geração que devorava anime e mangá como a gente devora pipoca no cinema. Anno era fissurado em ficção científica e nos detalhes mecânicos de séries como ‘Space Battleship Yamato’ (de 1974) e ‘Mobile Suit Gundam’ (de 1979). Essas séries não só moldaram o gosto dele, mas também acenderam a vontade de trabalhar no mundo da animação.
O debute profissional de Anno foi em uma série icônica: ‘Super Dimensional Fortress Macross’. Para a galera do Ocidente, essa série é mais conhecida como parte da saga ‘Robotech’. Nos bastidores de ‘Macross’, a equipe era uma mistura interessante: veteranos cascudos que tinham trabalhado em ‘Yamato’ e novatos cheios de paixão, tipo o Anno. A ideia original de ‘Macross’ era ser mais uma série de mecha para vender action figures, mas a coisa foi além.
‘Macross’ elevou o nível do anime com personagens marcantes, um drama que misturava romance e guerra (tipo uma novela espacial que pegava tanto homens quanto mulheres) e batalhas espaciais de tirar o fôlego. Parecia que ‘Macross’ ia inaugurar uma nova era de ouro para o anime na TV, mas não foi bem assim que aconteceu. Pelo menos, não de imediato.
Nos anos 80, a indústria de anime na TV japonesa era bem mais lenta do que é hoje. Estreavam umas 30 a 50 séries novas por ano, no máximo. Pensa bem: hoje, esse tanto de série pode estrear em uma única temporada! Com menos espaço nas grades de programação, as emissoras e os estúdios jogavam pelo seguro. Eles preferiam apostar no que já dava certo: fórmulas testadas de animes de mecha feitos para vender brinquedos, adaptações de mangás que bombavam ou continuações de franquias famosas como ‘Gundam’.
Claro, surgiram alguns sucessos gigantes nessa época, tipo ‘Dragon Ball’ e ‘Saint Seiya’. Mas a inovação criativa de verdade estava rolando mais nos filmes de cinema e nos OVAs (Original Video Animation), que eram lançados direto para o mercado de vídeo. A TV, em geral, seguia um caminho mais previsível.
A Rebelião da Gainax e a Ascensão de um Diretor
Depois de trabalhar em ‘Macross’ e ser um animador fundamental no filme ‘Nausicaä of the Valley of the Wind’ (de 1984), do mestre Hayao Miyazaki, Anno se juntou a outros otakus que viraram profissionais para fundar o Studio Gainax. Era um estúdio com uma energia diferente, criado por fãs para fazer o que eles realmente acreditavam.
O primeiro grande projeto da Gainax foi o filme de cinema ‘The Wings of Honnêamise’ (de 1987), dirigido por Hiroyuki Yamaga. Não foi um sucesso de bilheteria logo de cara, mas com o tempo virou um clássico cult, super respeitado pela qualidade da animação e da construção de mundo. E foi depois desse filme que Hideaki Anno assumiu a cadeira de diretor para o próximo grande projeto da Gainax. E que projeto!
Estamos falando de ‘Gunbuster’, também conhecido como ‘Aim for the Top!’. Lançado como uma série de OVAs em três volumes entre 1987 e 1988, ‘Gunbuster’ começa de um jeito que parece até clichê: uma comédia leve ambientada em uma escola de treinamento para garotas que pilotam mechas. Tem as rivalidades típicas, a treinadora durona, tudo que a gente espera de um anime com essa pegada “esportiva”.
Mas ‘Gunbuster’ vai muito além. A história cresce em escala dramática e intensidade a cada episódio. No final, você está super conectado com os personagens, e o impacto emocional é GIGANTE. ‘Gunbuster’ foi, de certa forma, um laboratório de ideias para Anno. Ele experimentou com estrutura narrativa, com a mistura de humor e drama pesado, e com a ideia de começar em um território familiar para o público antes de levar a história para lugares inesperados e profundos. Era o embrião do que viria a ser o Legado Evangelion.
‘Gunbuster’: O Protótipo Inesperado do Legado Evangelion
É fascinante ver como ‘Gunbuster’ preparou o terreno para ‘Evangelion’. ‘Gunbuster’ começa com aquela vibe de anime de esporte, com foco no treinamento e nas competições. ‘Evangelion’, por outro lado, inicia com outro clichê famoso do gênero mecha: um garoto relutante que é forçado a pilotar o robô gigante do pai. Essa premissa já tinha sido vista em séries como ‘Mazinger Z’ (de 1972) e o próprio ‘Gundam’ (de 1979). As duas séries, ‘Gunbuster’ e ‘Evangelion’, usam pontos de partida familiares para o público de anime, mas rapidamente se desviam para explorar profundidades narrativas e emocionais inéditas.
O que tornou ‘Evangelion’ verdadeiramente especial, e a base do seu imenso Legado Evangelion, foi a forma como Anno usou a animação para explorar suas emoções mais profundas e suas lutas pessoais. Em uma confissão super sincera naquela entrevista de 1996, Anno revelou o quanto a série era um reflexo dele mesmo.
“Shinji reflete meu caráter, tanto as partes conscientes quanto as inconscientes…”, admitiu Anno. Ele continuou, mostrando uma vulnerabilidade rara para um criador: “Não fui expulso pelo meu pai nem nada do tipo. No processo de fazer ‘Evangelion’, descobri que tipo de pessoa eu sou. Eu reconheci que sou um tolo.”
Essa crueza e vulnerabilidade dos personagens principais – Shinji, Rei e Asuka – era algo praticamente inédito no mundo do anime de TV. Eles não eram heróis invencíveis ou estereótipos simples. Eram adolescentes complexos, cheios de traumas, medos e inseguranças. Essa honestidade emocional foi uma das chaves que revolucionaram o meio e criaram um vínculo profundo com o público, que se via refletido nas dores e dilemas dos personagens. O Legado Evangelion é, em grande parte, o legado dessa honestidade brutal.
Antes e Depois de Eva: Uma Linha Divisória na História do Anime
Olhando para trás, não dá para negar: existe um anime antes de ‘Evangelion’ e um anime depois de ‘Evangelion’. A série funcionou como um divisor de águas. Será que canais de TV e estúdios teriam dado sinal verde para séries ousadas e artisticamente complexas como ‘Revolutionary Girl Utena’ (de 1997) ou ‘Cowboy Bebop’ (de 1998) se ‘Evangelion’ não tivesse provado antes que o público estava pronto para conteúdo mais maduro, artístico e que desafiava as convenções? É uma pergunta justa, e a resposta mais provável é não.
‘Evangelion’ abriu as portas para uma nova onda de animes que não tinham medo de ser diferentes, de explorar temas psicológicos, sociais e existenciais, e de brincar com as estruturas narrativas. O sucesso (e a polêmica) de ‘Evangelion’ mostrou para a indústria que havia um apetite por algo além das fórmulas seguras.
O impacto do Legado Evangelion não se limitou ao Japão. A série ganhou o mundo, conquistou fãs fervorosos no Ocidente e influenciou gerações de animadores, diretores e roteiristas. A estética visual única, a trilha sonora marcante, a complexidade dos temas abordados… tudo isso se tornou referência e inspiração.
De repente, o “anime de robô” não era mais só sobre lutas épicas entre máquinas gigantes. Era sobre a fragilidade humana, sobre a busca por significado, sobre a dificuldade de se conectar com o outro. ‘Evangelion’ provou que o gênero mecha podia ser um veículo poderoso para explorar as profundezas da psique humana. E essa lição ressoa até hoje.
O Legado Evangelion é a prova de que correr riscos criativos pode valer a pena. Mesmo que a série tenha sido controversa e o final original tenha causado um bafafá danado, a ousadia de Anno em colocar tanto de si na obra e em desafiar as expectativas do público mudou o jogo para sempre. O anime ganhou novas cores, novas texturas e uma profundidade que antes era rara na TV.
Pense em quantos animes psicológicos, dramas complexos ou séries que misturam gêneros de forma inesperada surgiram depois de ‘Evangelion’. Muitos deles só existem porque Eva quebrou barreiras e mostrou que havia espaço para esse tipo de narrativa no mercado de massa. É um impacto que não pode ser subestimado.
A Era do Streaming e o Senso de Urgência Perdido?
Trinta anos depois que ‘Evangelion’ foi ao ar, o mundo do anime mudou radicalmente. Ele se expandiu muito além da TV, dos cinemas e dos vídeos caseiros. Com o streaming, temos acesso a uma quantidade absurda de títulos. São mais de 100 novas séries estreando por ano, e praticamente todas encontram um público, por mais nicho que seja.
Essa fartura é incrível para os fãs, mas será que ela também trouxe um lado negativo? Hideaki Anno, lá em 1996, já falava sobre a falta de senso de urgência na indústria. E talvez, na era do streaming infinito, a gente tenha voltado para onde Anno alertou: “Os espectadores parecem satisfeitos, e não há senso de urgência.”
Com tanta coisa nova saindo o tempo todo, é fácil se perder na quantidade. Será que ainda existe espaço para um anime que cause o impacto sísmico que ‘Evangelion’ causou? Um anime que force a indústria a repensar suas fórmulas, que gere discussões acaloradas por anos e que mude a forma como as pessoas veem a animação?
Talvez, para um anime ser verdadeiramente revolucionário hoje, ele não precise ser o mais barulhento ou o mais cheio de efeitos especiais. Talvez, assim como ‘Evangelion’ fez, ele precise ser… honesto. Disposto a ser vulnerável, a desafiar as expectativas do público e a tocar em algo mais profundo dentro de nós. O Legado Evangelion nos lembra que as histórias mais poderosas nem sempre são aquelas que olham para o futuro com otimismo tecnológico ou batalhas espaciais grandiosas.
Às vezes, as histórias que mais nos impactam são aquelas que olham para dentro. Que exploram a bagunça que somos por dentro, nossos medos, nossas dúvidas, nossa solidão e nossa busca por conexão. É isso que ‘Evangelion’ fez de forma magistral. Ele nos mostrou que a luta mais épica pode acontecer dentro da mente de um adolescente.
O Legado Evangelion Vive!
Trinta anos se passaram, e o Legado Evangelion continua forte. A série ainda conquista novos fãs, gera debates e inspira artistas. O impacto de Hideaki Anno em desafiar as convenções do anime, em injetar profundidade psicológica e vulnerabilidade em um gênero dominado por robôs gigantes, é inegável.
‘Evangelion’ não foi apenas um anime. Foi um fenômeno cultural que ressoou com uma geração e abriu caminho para a diversidade e a ousadia que vemos no anime hoje. A visão de Anno, nascida da insatisfação com a estagnação da indústria, resultou em uma obra atemporal que nos força a pensar, a sentir e a questionar.
O Legado Evangelion é a prova de que a arte, quando feita com honestidade e coragem, tem o poder de revolucionar, de conectar e de permanecer relevante por décadas. Que venham mais 30 anos de discussões, análises e maratonas dessa série que simplesmente mudou tudo!
No fim das contas, o maior ensinamento de ‘Evangelion’ talvez seja que a jornada mais importante é a que fazemos dentro de nós mesmos. E o Legado Evangelion é o mapa que nos guia nessa exploração.
E você, qual a sua memória mais marcante de ‘Evangelion’? Conta pra gente nos comentários!
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Perguntas Frequentes sobre o Legado Evangelion
Qual a motivação de Hideaki Anno para criar ‘Evangelion’?
Hideaki Anno criou ‘Evangelion’ motivado pela insatisfação com a estagnação da indústria de anime na época, buscando fazer algo que “chacoalhasse” o gênero mecha e fosse além das fórmulas prontas e da venda de brinquedos.
Como ‘Gunbuster’ influenciou ‘Evangelion’?
‘Gunbuster’ (Aim for the Top!), dirigido por Anno antes de ‘Evangelion’, serviu como um laboratório para experimentar com estrutura narrativa, mistura de humor e drama pesado, e a ideia de começar com clichês para depois subverter as expectativas, levando a história para lugares profundos.
Qual o impacto de ‘Evangelion’ na indústria de anime?
‘Evangelion’ atuou como um divisor de águas, abrindo portas para animes mais ousados, artisticamente complexos e que exploravam temas psicológicos, sociais e existenciais. Mostrou para a indústria que havia público para narrativas que desafiavam as convenções e exploravam a profundidade da psique humana, muito além de apenas batalhas de robôs.
Por que ‘Evangelion’ é considerado tão revolucionário?
É revolucionário pela sua honestidade emocional brutal e a vulnerabilidade de seus personagens principais (Shinji, Rei, Asuka), que eram complexos e cheios de traumas, algo inédito no anime de TV da época. A série usou o gênero mecha para explorar temas profundos da psique humana, desafiando as expectativas do público e da indústria.
O que o Legado Evangelion representa hoje?
O Legado Evangelion representa a prova de que a arte feita com honestidade e coragem pode revolucionar um meio. Ele continua inspirando artistas, conquistando novos fãs e gerando debates, sendo um marco que abriu caminho para a diversidade e a profundidade no anime moderno. Lembra que as histórias mais poderosas muitas vezes exploram a jornada interna.