Enquanto o mundo via ‘Stranger Things’, Star Trek vivia seu maior renascimento

Enquanto ‘Stranger Things’ apostou na escassez para criar hype, Star Trek executou o maior plano de expansão da história do streaming. Analisamos por que a estratégia de abundância da Frota Estelar, com mais de 200 episódios em 9 anos, venceu a batalha da longevidade contra o fenômeno da Netflix.

O streaming nos vendeu uma mentira conveniente: a de que a relevância de uma franquia é medida apenas pelo barulho que ela faz no X (antigo Twitter) ou pelo volume de funkos nas prateleiras. ‘Star Trek vs Stranger Things’ não é apenas uma comparação de nichos; é o choque entre a ‘Ditadura do Evento’ e a ‘Fábrica de Cânone’. Enquanto o mundo parava para ver Eleven sangrar pelo nariz em Hawkins, a Frota Estelar realizava uma ocupação silenciosa e massiva que redefiniu o que significa longevidade na era digital.

A Ditadura do Evento vs. A Fábrica de Cânone

A Ditadura do Evento vs. A Fábrica de Cânone

Vamos aos fatos que a Netflix prefere que você ignore. Entre a estreia de ‘Stranger Things’ em 2016 e o seu encerramento planejado para o final de 2025, os Duffer Brothers entregaram exatos 38 episódios. É uma estratégia de escassez cirúrgica. Cada temporada é tratada como um advento messiânico, com hiatos que duram anos e episódios que incham para durações de longa-metragem — uma escolha que, embora mantenha o hype, sacrifica a consistência narrativa em prol do espetáculo visual e do fan service oitentista.

Do outro lado da galáxia, a Paramount+ operou em regime de guerra. Desde a estreia de ‘Star Trek: Discovery’ em 2017, a franquia despejou mais de 200 episódios no mercado. Estamos falando de uma disparidade de quase 6 para 1. Enquanto a Netflix polia cada frame de luz neon em Hawkins, a marca Trek se diversificava: o terror existencial de ‘Discovery’, a nostalgia crepuscular de ‘Picard’, a sátira ácida de ‘Lower Decks’ e o otimismo episódico de ‘Strange New Worlds’.

Escassez Planejada vs. Abundância de Sobrevivência

A diferença estética é gritante. ‘Stranger Things’ aposta na fotografia granulada, sombras densas e uma trilha de sintetizadores que evoca um passado que nunca existiu. É conforto disfarçado de perigo. Já o renascimento de Star Trek sob o comando de Alex Kurtzman abraçou o visual de blockbuster cinematográfico — o famigerado lens flare de J.J. Abrams tornou-se o padrão ouro, especialmente em ‘Strange New Worlds’, onde o design de produção da Enterprise consegue ser, simultaneamente, um tributo aos anos 60 e uma peça de tecnologia futurista de ponta.

A ironia técnica é que Star Trek produziu muito mais, com orçamentos frequentemente menores por minuto de tela, sem perder a dignidade visual. Enquanto ‘Stranger Things’ se tornou uma série de ‘momentos para o TikTok’, Star Trek voltou a ser o que sempre foi: televisão de ideias, feita para ser consumida semanalmente, construindo um universo tijolo por tijolo.

O resgate pela Netflix: O inimigo dorme ao lado

O resgate pela Netflix: O inimigo dorme ao lado

É impossível analisar essa trajetória sem mencionar a relação parasitária entre as duas marcas. Por anos, a Netflix foi o berço que alimentou a nova geração de trekkies. Ao hospedar o catálogo clássico e co-produzir as primeiras temporadas de ‘Discovery’, a plataforma de Reed Hastings preparou o terreno para que a Paramount+ pudesse, eventualmente, tentar caminhar sozinha.

A prova final dessa interdependência veio com ‘Star Trek: Prodigy’. Cancelada pela Paramount em uma manobra contábil brutal, a série encontrou refúgio justamente na Netflix. Ver a Enterprise dividir o ‘Top 10’ com o Demogorgon em 2024 e 2025 foi o lembrete definitivo de que, no ecossistema do streaming, a quantidade de conteúdo é o que mantém as luzes acesas, mas o prestígio é o que atrai os investidores.

O veredito do tempo

Ao chegarmos em 2026, o cenário será claro: ‘Stranger Things’ deixará um vácuo cultural imenso, uma cicatriz de nostalgia que a Netflix tentará preencher com derivados duvidosos. Já Star Trek sairá deste ciclo com uma fundação de aço. Com ‘Starfleet Academy’ e novas temporadas de ‘Strange New Worlds’ no horizonte, a Frota Estelar provou que a onipresença vence a intermitência.

Se você passou os últimos nove anos achando que a ficção científica se resumia ao Upside Down, você estava olhando para o lado errado do telescópio. O maior renascimento do gênero não aconteceu em uma cidadezinha de Indiana, mas em cada quadrante da galáxia que a Paramount ousou explorar enquanto a concorrência tirava um cochilo de dois anos entre temporadas.

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Perguntas Frequentes sobre Star Trek vs Stranger Things

Qual franquia produziu mais episódios nos últimos anos?

Star Trek produziu mais de 200 episódios desde 2017, abrangendo cinco séries live-action e duas animações. Em comparação, ‘Stranger Things’ entregou apenas 38 episódios em suas cinco temporadas totais.

Por que Star Trek saiu da Netflix?

A maioria das séries de Star Trek migrou para a Paramount+ (antigo CBS All Access) para fortalecer o serviço de streaming próprio da detentora dos direitos. No entanto, a série ‘Prodigy’ foi resgatada pela Netflix após ser cancelada na plataforma original.

Stranger Things é baseada em Star Trek?

Não diretamente, mas os criadores (Duffer Brothers) citam Star Trek como uma influência fundamental na construção de grupos de personagens e no senso de exploração, embora não possam usar nomes da marca por questões de direitos autorais.

Onde assistir Star Trek em 2026?

A casa principal de Star Trek continua sendo a Paramount+. Algumas produções específicas, como ‘Prodigy’, podem permanecer no catálogo da Netflix dependendo de acordos de licenciamento vigentes.

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Marina Souza
Marina Souza
Oi! Eu sou a Marina, redatora aqui do Cinepoca. Desde os tempos de criança, quando as tardes eram preenchidas por maratonas de clássicos da Disney em VHS e as noites por filmes de terror que me faziam espiar por entre os dedos, o cinema se tornou um portal para incontáveis realidades. Não importa o gênero, o que sempre me atraiu foi a capacidade de um filme de transportar, provocar e, acima de tudo, contar algo.No Cinepoca, busco compartilhar essa paixão, destrinchando o que há de mais interessante no cinema, seja um blockbuster que domina as bilheterias ou um filme independente que mal chegou aos circuitos.Minhas expertises são vastas, mas tenho um carinho especial por filmes que exploram a complexidade da mente humana, como os suspenses psicológicos que te prendem do início ao fim. Meu objetivo é te levar em uma viagem cinematográfica, apresentando filmes que talvez você nunca tenha visto, mas que definitivamente merecem sua atenção.

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