Como ‘Yu Yu Hakusho’ da Netflix deu uma aula de ação para Hollywood

Enquanto Hollywood abusa de cortes rápidos e CGI para mascarar lutas mal coreografadas, o live-action de ‘Yu Yu Hakusho’ na Netflix entrega uma aula de ação física. Analisamos como o uso de planos abertos e o foco no peso real dos golpes elevam o nível das adaptações de anime.

Existe uma cena em ‘Yu Yu Hakusho’ que resume o abismo técnico entre as produções japonesas e os blockbusters de Hollywood. Yusuke Urameshi está encurralado, o suor mistura-se ao sangue de um corte na sobrancelha e a respiração é pesada, audível. Quando ele finalmente conecta um soco, o espectador sente o impacto — não por um tremor artificial de câmera ou um efeito sonoro ensurdecedor, mas porque a coreografia de Takahito Ouchi (o mestre por trás de ‘Rurouni Kenshin’) construiu aquela tensão em planos abertos e movimentos contínuos.

Cheguei à adaptação da Netflix com o cinismo habitual de quem sobreviveu a ‘Death Note’ e ‘Cowboy Bebop’. O que encontrei, no entanto, foi uma lição de gramática cinematográfica aplicada ao combate. Enquanto Hollywood se esconde atrás de cortes frenéticos, ‘Yu Yu Hakusho’ celebra a fisicalidade.

A ‘ditadura do corte’ e o fracasso da ação ocidental

A 'ditadura do corte' e o fracasso da ação ocidental

O cinema de ação americano contemporâneo padece de uma doença crônica: a insegurança visual. Para mascarar a falta de treinamento do elenco ou a pressa no set, diretores recorrem a montagens hiperativas onde um único soco é fatiado em três ângulos diferentes. O resultado é uma massa amorfa de pixels que cansa a vista e esvazia o drama.

‘Yu Yu Hakusho’ faz o caminho inverso. A direção de Sho Tsukikawa confia na capacidade atlética de Takumi Kitamura (Yusuke) e Shuhei Uesugi (Kuwabara). Quando Kuwabara entra em uma briga de rua, a câmera recua. Ela permite que vejamos o equilíbrio, a transferência de peso e o erro. É uma abordagem quase documental da violência fantástica, onde o espaço geográfico da luta faz sentido para quem assiste.

Por que as lutas de ‘Yu Yu Hakusho’ têm peso real?

A diferença fundamental reside na prioridade: em Hollywood, a ação é um problema para a pós-produção; aqui, a ação é o núcleo da narrativa. Os atores não apenas ‘fazem poses’ para que o CGI complete o trabalho. A velocidade sobrenatural de Hiei (Kanata Hongō), por exemplo, não é apenas um borrão digital. Ela é construída através de frames de impacto e uma coordenação precisa entre o dublê e a lente, criando a ilusão de rapidez sem sacrificar a nitidez.

Mesmo os elementos mais lúdicos, como o Chicote de Rosa de Kurama (Jun Shison), possuem uma inércia convincente. Não é apenas um efeito visual sobreposto; há uma reação física no cenário e nos oponentes que ancora o poder na realidade da cena. O Rei Gun de Yusuke não é apenas um raio laser; é o clímax de um esforço muscular que vemos tensionar cada fibra do braço do protagonista.

O contraste necessário com ‘ONE PIECE: A Série’

É impossível não comparar com o outro grande acerto da Netflix. ‘ONE PIECE’ vence pelo carisma e fidelidade ao tom, mas empalidece tecnicamente quando o assunto é o combate ‘corpo a corpo’. As lutas de Zoro, interpretado por Mackenyu, sofrem com a edição picotada que impede o espectador de apreciar a técnica de três espadas em sua plenitude.

‘Yu Yu Hakusho’ demonstra que, para um live-action de anime funcionar, os poderes devem ser o tempero, não o prato principal. Ao focar na luta corporal e usar o sobrenatural para pontuar os momentos decisivos, a série cria uma urgência que falta em produções onde tudo é resolvido com raios de energia genéricos. A lição para futuras adaptações, como ‘Naruto’, é clara: contrate coreógrafos que entendam de luta real antes de investir em fazendas de renderização.

Veredito: A dor como ferramenta de imersão

Animações podem ignorar a gravidade; live-actions devem abraçá-la. A grande vitória desta série é a certeza visceral de que cada golpe dói. Personagens mancam, perdem o fôlego e exibem hematomas que permanecem na cena seguinte. Essa vulnerabilidade física torna a determinação de Yusuke muito mais poderosa do que qualquer monólogo sobre amizade.

Hollywood gasta fortunas tentando impressionar com escala. ‘Yu Yu Hakusho’ investe em precisão e impacto. É um lembrete de que, no cinema de ação, menos cortes e mais suor sempre entregam um resultado superior. Se você quer saber como adaptar um shonen de porrada, este é o novo manual.

Para ficar por dentro de tudo que acontece no universo dos filmes, séries e streamings, acompanhe o Cinepoca também pelo Facebook e Instagram!

Perguntas Frequentes sobre o Live-Action de Yu Yu Hakusho

O live-action de ‘Yu Yu Hakusho’ é fiel ao anime?

A série é fiel à essência e aos personagens, mas condensa vários arcos da história em poucos episódios. As lutas e o tom sobrenatural são muito próximos do material original de Yoshihiro Togashi.

Quem é o responsável pelas lutas na série?

A direção de ação ficou a cargo de Takahito Ouchi, renomado coreógrafo japonês que também trabalhou na trilogia de filmes ‘Rurouni Kenshin’, conhecida por ter uma das melhores ações de espada do cinema.

Onde assistir ao live-action de ‘Yu Yu Hakusho’?

A série é uma produção original da Netflix e está disponível exclusivamente na plataforma de streaming com opções de áudio original, dublagem e legendas.

A série terá uma segunda temporada?

Até o momento, a Netflix não confirmou oficialmente uma segunda temporada. A primeira temporada cobre eventos que vão até o arco do Torneio das Trevas de forma adaptada.

Mais lidas

Marina Souza
Marina Souza
Oi! Eu sou a Marina, redatora aqui do Cinepoca. Desde os tempos de criança, quando as tardes eram preenchidas por maratonas de clássicos da Disney em VHS e as noites por filmes de terror que me faziam espiar por entre os dedos, o cinema se tornou um portal para incontáveis realidades. Não importa o gênero, o que sempre me atraiu foi a capacidade de um filme de transportar, provocar e, acima de tudo, contar algo.No Cinepoca, busco compartilhar essa paixão, destrinchando o que há de mais interessante no cinema, seja um blockbuster que domina as bilheterias ou um filme independente que mal chegou aos circuitos.Minhas expertises são vastas, mas tenho um carinho especial por filmes que exploram a complexidade da mente humana, como os suspenses psicológicos que te prendem do início ao fim. Meu objetivo é te levar em uma viagem cinematográfica, apresentando filmes que talvez você nunca tenha visto, mas que definitivamente merecem sua atenção.

Veja também