Além dos filmes: 9 séries que provam que os zumbis pertencem à TV

Por que o formato episódico superou o cinema no gênero de horror? Analisamos como séries como ‘The Walking Dead’, ‘Kingdom’ e ‘Black Summer’ utilizam o tempo narrativo para criar uma profundidade emocional e uma tensão técnica que filmes de duas horas simplesmente não conseguem alcançar.

Existe uma limitação física no cinema que o gênero de horror raramente admite: 120 minutos não bastam para processar o fim do mundo. Em um filme, você conhece o protagonista, presencia o surto e assiste aos créditos rolarem antes mesmo de decorar o nome dos sobreviventes secundários. É entretenimento de impacto, mas raramente é uma experiência transformadora.

As séries de zumbi operam sob uma lógica de desgaste. Elas têm o luxo do tempo para nos forçar a criar raízes com os personagens antes de arrancá-los de nós com uma brutalidade que o cinema, em sua pressa narrativa, raramente alcança. É a diferença entre o susto de um jump scare e o pavor existencial de perceber que, no apocalipse, o tempo é o maior inimigo da moralidade.

Abaixo, selecionamos nove produções que não apenas usam mortos-vivos, mas provam que a televisão é o habitat natural para a decomposição da civilização.

‘The Walking Dead’: a fundação do épico de sobrevivência

'The Walking Dead': a fundação do épico de sobrevivência

Impossível ignorar a série que transformou o nicho em fenômeno global. Embora tenha sofrido com irregularidades de ritmo em suas 11 temporadas, ‘The Walking Dead’ realizou algo inédito: permitiu que víssemos Rick Grimes (Andrew Lincoln) evoluir de um xerife idealista a um sobrevivente pragmático e, por vezes, aterrorizante.

O trunfo aqui não são os efeitos de maquiagem de Greg Nicotero — embora sejam referências na indústria —, mas a capacidade de explorar o “depois”. Enquanto o cinema foca no colapso, ‘TWD’ foca na reconstrução. Episódios como ‘The Grove’ (4×14) entregam um peso dramático que nenhum filme de duas horas conseguiria sustentar sem parecer apressado.

‘Black Summer’: a ansiedade em plano-sequência

Se ‘The Walking Dead’ é uma novela épica, ‘Black Summer’ é um ataque de pânico filmado. A série da Netflix ignora as explicações pseudocientíficas e foca na mecânica da sobrevivência imediata. O uso de planos-sequência longos e uma câmera que persegue os personagens de perto elimina qualquer sensação de segurança.

Aqui, os zumbis são rápidos e implacáveis, mas o verdadeiro horror reside no silêncio e na incerteza. Não há trilha sonora heróica para avisar quando o perigo acabou. É o realismo brutal elevado à potência máxima, mostrando que na TV, a tensão pode ser mantida por 40 minutos ininterruptos de perseguição.

‘Kingdom’: o horror político sul-coreano

‘Kingdom’ é, talvez, a produção visualmente mais refinada desta lista. Ao situar um apocalipse zumbi na Dinastia Joseon da Coreia do Sul, a série cria uma intersecção brilhante entre drama de época, intriga palaciana e horror visceral. A fotografia utiliza as cores vibrantes das vestes reais em contraste com o cinza da morte, criando um espetáculo estético raro.

A série entende que o vírus é apenas um catalisador para expor a podridão da aristocracia. A dinâmica de como os mortos se movem (e quando acordam) adiciona uma camada estratégica que transforma cada batalha em um jogo de xadrez sangrento.

‘Dead Set’: a metalinguagem de Charlie Brooker

Antes de ‘Black Mirror’, Charlie Brooker entregou esta minissérie ácida. A premissa é genial: o apocalipse zumbi estoura enquanto os participantes do Big Brother UK estão confinados, alheios ao mundo exterior. É uma sátira feroz sobre o consumo da imagem e o vazio da celebridade.

Com um ritmo frenético que lembra ‘Extermínio’, ‘Dead Set’ usa o formato episódico para apertar o cerco claustrofóbico dentro da casa. O final é um dos mais niilistas e corajosos do gênero, algo que dificilmente sobreviveria aos filtros de um grande estúdio de cinema.

‘All of Us Are Dead’: o microcosmo escolar

Mais uma prova do domínio sul-coreano, esta série transforma uma escola de ensino médio em um campo de batalha. Ao focar em adolescentes, a narrativa ganha uma urgência emocional única: as amizades, os primeiros amores e os traumas familiares pesam tanto quanto a ameaça dos mortos.

A coreografia dos zumbis aqui é impressionante — movimentos contorcidos e frenéticos que desafiam a anatomia humana. A série aproveita o tempo de tela para desenvolver cada aluno, tornando cada perda uma facada no espectador.

‘In the Flesh’: o luto e a reintegração social

Conhecida no Brasil como ‘Na Sua Carne’, esta produção britânica é a antítese da ação. Ela explora a vida após a cura: zumbis reabilitados (portadores da Síndrome do Falecido Parcial) tentando voltar para suas famílias e comunidades. É uma metáfora poderosa para depressão, luto e preconceito.

Kieren Walker (Luke Newberry) é um protagonista fascinante, carregando a culpa pelo que fez enquanto estava “sem vida”. É o tipo de drama introspectivo que o cinema costuma ignorar em favor de explosões, mas que na TV encontra espaço para florescer.

‘iZombie’: o procedural com alma

Misturando investigação policial com comédia romântica e horror, ‘iZombie’ parece uma ideia absurda que não deveria funcionar — mas funciona. Liv Moore (Rose McIver) come cérebros no necrotério para manter sua humanidade e, de quebra, resolve crimes herdando as memórias das vítimas.

A série brilha ao construir uma mitologia complexa ao longo das temporadas, tratando a existência zumbi como uma subcultura urbana com suas próprias regras éticas e políticas. É inteligente, divertida e surpreendentemente profunda em sua reta final.

‘Z Nation’: o prazer do absurdo

Enquanto outras séries buscam o realismo, ‘Z Nation’ abraça o caos. É uma produção que sabe exatamente o que é: uma jornada de estrada louca, cheia de humor negro e situações impossíveis (como tornados de zumbis). É o herdeiro espiritual do cinema B, mas com o fôlego de uma narrativa serializada que permite que os personagens se tornem genuinamente queridos apesar do ridículo ao redor.

‘Ash vs. Evil Dead’: sangue, suor e motosserra

Bruce Campbell reprisa seu papel icônico como Ash Williams nesta continuação da trilogia ‘Evil Dead’ de Sam Raimi. Embora lide mais com possessões demoníacas do que com zumbis clássicos (os Deadites), a estrutura é a mesma: sobrevivência contra hordas de mortos.

A série é uma aula de como equilibrar comédia slapstick com gore extremo. A liberdade da TV a cabo permitiu que as sequências de ação fossem mais inventivas e grotescas do que qualquer coisa vista nos cinemas recentemente, mantendo o espírito anárquico da obra original.

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Perguntas Frequentes sobre Séries de Zumbi

Qual é a série de zumbi mais realista?

‘Black Summer’, da Netflix, é amplamente considerada a mais realista devido ao seu foco na sobrevivência crua, ausência de heróis invencíveis e uso de planos-sequência que simulam a ansiedade de um colapso real.

Onde posso assistir à série coreana Kingdom?

‘Kingdom’ é uma produção original da Netflix e está disponível exclusivamente na plataforma, contando com duas temporadas e um filme especial de origem (‘Ashin of the North’).

The Walking Dead já terminou?

A série principal terminou em 2022 após 11 temporadas. No entanto, a franquia continua ativa através de diversos spin-offs como ‘Dead City’, ‘Daryl Dixon’ e ‘The Ones Who Live’.

Qual série de zumbi é boa para quem não gosta de muito horror?

‘iZombie’ é uma excelente opção. Ela foca mais no mistério policial e na comédia, tratando o tema de forma leve, embora ainda mantenha os elementos clássicos do gênero.

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Marina Souza
Marina Souza
Oi! Eu sou a Marina, redatora aqui do Cinepoca. Desde os tempos de criança, quando as tardes eram preenchidas por maratonas de clássicos da Disney em VHS e as noites por filmes de terror que me faziam espiar por entre os dedos, o cinema se tornou um portal para incontáveis realidades. Não importa o gênero, o que sempre me atraiu foi a capacidade de um filme de transportar, provocar e, acima de tudo, contar algo.No Cinepoca, busco compartilhar essa paixão, destrinchando o que há de mais interessante no cinema, seja um blockbuster que domina as bilheterias ou um filme independente que mal chegou aos circuitos.Minhas expertises são vastas, mas tenho um carinho especial por filmes que exploram a complexidade da mente humana, como os suspenses psicológicos que te prendem do início ao fim. Meu objetivo é te levar em uma viagem cinematográfica, apresentando filmes que talvez você nunca tenha visto, mas que definitivamente merecem sua atenção.

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