Além da nostalgia: Como a Disney deu novo fôlego a ‘Alien’ e ‘Predador’

Analisamos como a Disney revitalizou ‘Alien’ e ‘Predador’ ao abandonar fórmulas genéricas em favor de visões autorais. De ‘A Caçada’ a ‘Romulus’, explicamos por que o retorno aos efeitos práticos e ao horror contido salvou as franquias do esquecimento.

Quando a Disney concluiu a compra da 20th Century Fox em 2019, o pânico entre os entusiastas do gênero foi imediato. A ideia de que o ‘Mickey’ agora controlava o xenomorfo e o Yautja sugeria uma ‘higienização’ inevitável: menos sangue, menos pavor existencial e mais merchandising para a classificação PG-13. No entanto, cinco anos depois, o que vimos foi um movimento de contracultura dentro do próprio estúdio.

O fim da era dos ‘filmes de comitê’

O fim da era dos 'filmes de comitê'

Antes da aquisição, as franquias ‘Alien’ e ‘Predador’ sofriam de um mal comum em Hollywood: a expansão desordenada. Enquanto Ridley Scott se perdia em divagações filosóficas e mitológicas em ‘Prometheus’ e ‘Covenant’, o Predador de 2018 tentava ser uma comédia de ação genérica. O erro não era a falta de orçamento, mas o excesso de ‘lore’ em detrimento do medo puro.

A Disney, sob o selo 20th Century Studios, percebeu que o valor dessas propriedades não estava em explicar a origem de cada célula alienígena, mas em recuperar a sensação de vulnerabilidade humana. A estratégia mudou do ‘épico espacial’ para o ‘horror de sobrevivência contido’.

‘O Predador: A Caçada’ e a força do silêncio

Lançado em 2022, ‘O Predador: A Caçada’ (Prey) foi o primeiro grande acerto dessa nova fase. O diretor Dan Trachtenberg tomou uma decisão radical: removeu a tecnologia militar moderna e colocou uma guerreira Comanche (Amber Midthunder) contra o caçador.

O que torna este filme superior às sequências anteriores é a sua economia narrativa. Há longos trechos sem diálogos, onde a tensão é construída puramente através do sound design e da coreografia de caça. Ao voltar para os anos 1700, a franquia recuperou a pureza do original de 1987: o homem (ou mulher) usando o ambiente para superar uma força tecnologicamente superior. É cinema de gênero em seu estado mais visceral.

‘Alien: Romulus’: O triunfo do prático sobre o digital

Em 2024, Fede Álvarez provou com ‘Alien: Romulus’ que entende o que Ridley Scott havia esquecido. Enquanto os filmes anteriores abusavam de CGI que envelhecia mal, Álvarez insistiu no uso de animatrônicos e efeitos práticos. Ver o xenomorfo em tela, ocupando espaço físico e interagindo com a luz real do set, devolve ao espectador o pavor tátil que o digital raramente alcança.

A fotografia de Galo Olivares utiliza uma paleta industrial e suja, remetendo diretamente ao trabalho de H.R. Giger. O filme não tenta reinventar a roda; ele a lubrifica. A sequência do elevador, onde o silêncio é interrompido apenas pelo estalo metálico da criatura, é uma aula de como usar o espaço negativo para gerar claustrofobia. É o retorno ao ‘slasher espacial’ que definiu o clássico de 1979.

A aposta terrestre de Noah Hawley

O próximo passo, ‘Alien: Earth’ (2025), é talvez o mais arriscado. Trazer o xenomorfo para a Terra sempre foi o ‘beijo da morte’ em crossovers de baixa qualidade. No entanto, ter Noah Hawley (mente por trás de ‘Fargo’ e ‘Legion’) no comando muda o jogo.

Hawley é conhecido por subverter expectativas de franquias estabelecidas. Espera-se que a série explore a Weyland-Yutani não apenas como uma vilã de desenho animado, mas como uma entidade corporativa que reflete ansiedades contemporâneas sobre IA e automação. O terror aqui promete ser tanto psicológico quanto físico.

Veredito: A visão autoral salvou os monstros

O sucesso dessa ‘era Disney’ para ‘Alien’ e ‘Predador’ reside em um paradoxo: o estúdio mais corporativo do mundo deu liberdade para diretores autorais tratarem essas franquias como filmes menores, mais íntimos e mais cruéis.

Ao abandonar a necessidade de criar ‘universos compartilhados’ obrigatórios e focar em experiências cinematográficas isoladas e tecnicamente impecáveis, a Disney não apenas salvou essas marcas da irrelevância, mas as devolveu ao topo do panteão do horror moderno. O segredo, ao que parece, foi parar de tentar explicar o monstro e voltar a deixá-lo caçar nas sombras.

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Perguntas Frequentes sobre Alien e Predador na Disney

Os novos filmes de Alien e Predador são da Disney?

Sim. Após a compra da 20th Century Fox em 2019, a Disney detém os direitos de ambas as franquias, lançando os novos projetos através do selo 20th Century Studios.

Onde assistir ‘Alien: Romulus’ e ‘O Predador: A Caçada’?

No Brasil, ambos os filmes estão disponíveis no catálogo do Disney+. ‘A Caçada’ foi um lançamento direto para streaming, enquanto ‘Romulus’ passou primeiro pelos cinemas.

A série ‘Alien: Earth’ faz parte do mesmo universo dos filmes?

Sim, a série desenvolvida por Noah Hawley é canônica, mas se passa cerca de 30 anos antes dos eventos de ‘Alien: O Oitavo Passageiro’ (1979), explorando a chegada da ameaça à Terra.

Haverá um novo filme de Alien Vs. Predador (AVP)?

Embora não haja um anúncio oficial, rumores da indústria e o sucesso individual das franquias indicam que a Disney estuda um novo crossover, focado em uma abordagem de horror mais séria que as versões dos anos 2000.

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Lucas Lobinco
Lucas Lobinco
Sou o Lucas, e minha paixão pelo cinema começou com as aventuras épicas e os clássicos de ficção científica que moldaram minha infância. Para mim, cada filme é uma nova oportunidade de explorar mundos e ideias, uma janela para a criatividade humana. Minha jornada não foi nos bastidores da produção, mas sim na arte de desvendar as camadas de uma boa história e compartilhar essa descoberta. Sou movido pela curiosidade de entender o que torna um filme inesquecível, seja a complexidade de um personagem, a inovação visual ou a mensagem atemporal. No Cinepoca, meu foco é trazer uma perspectiva única, mergulhando fundo nos detalhes que fazem um filme valer a pena, e incentivando você a ver a sétima arte com novos olhos.Tenho um apreço especial por filmes de ação e aventura, com suas narrativas grandiosas e sequências de tirar o fôlego. A comédia de humor negro e os thrillers psicológicos também me atraem, pela forma como subvertem expectativas e exploram o lado mais sombrio da psique humana. Além disso, estou sempre atento às novas vozes e tendências que surgem na indústria, buscando os próximos grandes talentos e as histórias que definirão o futuro do cinema.

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