Analisamos como o fenômeno ‘A Mentira’ com Emma Stone antecipou a genialidade técnica da atriz. Entenda por que a comédia teen de 2010 permanece relevante na era do cancelamento e como ela pavimentou o caminho de Stone até o topo do Oscar 2026.
Existe um tipo de filme que, ao ser revisitado quinze anos depois, revela camadas que a nossa percepção adolescente ignorou. Não porque a obra mudou, mas porque a trajetória de sua protagonista deu novo significado a cada frame. O sucesso renovado de Emma Stone em ‘A Mentira’ — que recentemente escalou o top 5 global do streaming — não é um mero exercício de nostalgia. É a validação de que o DNA de uma das maiores atrizes do século XXI já estava codificado naquela comédia teen de 2010.
Quando o filme estreou, Stone tinha 21 anos e o rótulo de ‘promessa’ após participações em ‘Superbad’ e ‘Zumbilândia’. Poucos críticos da época previram que aquela ruiva de voz rouca e olhos expressivos se tornaria a recordista de prêmios de sua geração. Mas assistindo ao filme hoje, sob a ótica de ‘La La Land: Cantando Estações’ e ‘Pobres Criaturas’, percebemos que Olive Penderghast não era apenas uma personagem cômica; era o primeiro grande experimento de Stone com a subversão de expectativas.
A gênese de uma vencedora: O que ‘A Mentira’ revelava em 2010
A premissa, inspirada livremente em ‘A Letra Escarlate’ de Nathaniel Hawthorne, coloca Olive no centro de um furacão de fofocas escolares. O roteiro de Bert V. Royal é afiado, mas é a performance de Stone que impede o filme de cair no genérico. Repare na famosa sequência de abertura com o cartão musical de ‘Pocketful of Sunshine’. O que poderia ser apenas um gag físico vira uma demonstração de entrega absoluta: Stone não tem medo de parecer ridícula, uma característica que Yorgos Lanthimos exploraria à exaustão anos depois.
Na cena do vídeo confessional, a câmera permanece estática. Stone precisa segurar o espectador apenas com o rosto e as variações de tom. Ela transita entre o sarcasmo defensivo e uma melancolia genuína em frações de segundo. Esse controle milimétrico do timing — saber exatamente quando deixar o silêncio pesar — é a mesma técnica que lhe rendeu dois Oscars. Em 2010, chamaram de ‘carisma’. Em 2026, chamamos de domínio técnico magistral.
A metamorfose de Stone: De Olive Penderghast a Bella Baxter
A trajetória de Emma Stone é um estudo sobre como gerir capital criativo. Ela evitou a armadilha de se tornar a ‘eterna namorada da América’. Após ‘A Mentira’, ela buscou o atrito. Em ‘Birdman’ (2014), sob a direção de Alejandro Iñárritu, ela abandonou o charme para entregar uma filha autodestrutiva em planos-sequência exaustivos. Ali, a indústria percebeu que sua versatilidade não tinha teto.
Sua parceria com Lanthimos, iniciada em ‘A Favorita’ e coroada com o fenômeno ‘Pobres Criaturas’, mostra uma atriz que usa sua beleza como ferramenta de desconstrução. Bella Baxter é o extremo oposto de Olive Penderghast, mas ambas compartilham a mesma essência: são mulheres que se recusam a ser definidas pelo olhar moralista da sociedade. Ver Stone em ‘Bugonia’ (seu próximo grande projeto para 2025/2026) é testemunhar uma artista no auge de sua audácia, escolhendo papéis que desafiam o conforto do público.
Por que ‘A Mentira’ é mais relevante na era do cancelamento
Reassistir ao filme em 2025 traz uma percepção desconfortável: o que era uma sátira escolar sobre fofocas antecipou o tribunal digital das redes sociais. Olive Penderghast lidando com uma reputação fabricada por rumores é a precursora das vítimas (e algozes) da cultura do cancelamento. A diferença é que Olive assume o controle da narrativa. Ela ‘vende’ sua má fama, lucra com o estigma e expõe a hipocrisia de quem a julga.
Essa agência feminina era rara em 2010. Stone interpreta Olive como alguém que entende as regras do jogo e decide quebrá-las. É essa força interna que faz com que o brilho da atriz resista ao tempo. Ela nunca foi uma vítima passiva em seus filmes; suas personagens — de ‘Cruella’ à Billie Jean King em ‘A Batalha dos Sexos’ — são arquitetas de seus próprios destinos.
O caminho para o Oscar 2026
Atualmente, Emma Stone figura novamente nas listas de apostas para o Oscar 2026. A disputa contra nomes como Cynthia Erivo e Chase Infiniti promete ser uma das mais acirradas da década. Mas, independente da estatueta, o fato de estarmos discutindo uma comédia de quinze anos atrás como ponto de partida crucial prova que Stone atingiu o status de ícone. Ela não apenas sobreviveu à transição de ídolo teen para atriz de prestígio; ela redefiniu o que significa ser uma estrela de cinema na era moderna: ser imprevisível, técnica e, acima de tudo, corajosa.
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Perguntas Frequentes sobre Emma Stone e ‘A Mentira’
Onde posso assistir ao filme ‘A Mentira’ em 2025?
O filme ‘A Mentira’ (Easy A) está disponível no catálogo da Max (antiga HBO Max) e para aluguel em plataformas como Apple TV+ e Google Play. Nos EUA, também pode ser encontrado no Pluto TV.
Emma Stone ganhou algum prêmio por ‘A Mentira’?
Embora não tenha vencido o Oscar por este papel, Emma Stone recebeu sua primeira indicação ao Globo de Ouro de Melhor Atriz em Comédia ou Musical por ‘A Mentira’, o que impulsionou sua carreira em Hollywood.
Qual a relação entre ‘A Mentira’ e o livro ‘A Letra Escarlate’?
O filme é uma releitura moderna e satírica do clássico ‘A Letra Escarlate’, de Nathaniel Hawthorne. A protagonista Olive inclusive costura a letra ‘A’ em suas roupas como forma de ironizar os boatos sobre sua promiscuidade, assim como a personagem Hester Prynne no livro.
Quantos Oscars Emma Stone tem atualmente?
Até o início de 2025, Emma Stone possui dois Oscars de Melhor Atriz: um por ‘La La Land: Cantando Estações’ (2017) e outro por ‘Pobres Criaturas’ (2024).
Qual o próximo filme de Emma Stone após ‘Pobres Criaturas’?
Emma Stone estrela ‘Bugonia’, uma ficção científica dirigida por Yorgos Lanthimos, com previsão de destaque para a temporada de premiações de 2026.

