‘Pretty Little Liars’: as verdades incômodas da 1ª temporada 15 anos depois

Revisitamos a 1ª temporada de ‘Pretty Little Liars’ sob a ótica de 2025 para analisar como a nostalgia mascara o relacionamento predatório de Ezra e Aria, a negligência parental sistêmica e por que a amizade das protagonistas era, na verdade, um pacto de sobrevivência traumático.

Quinze anos separam o lançamento de ‘Pretty Little Liars’ do momento em que decidi mergulhar novamente no mistério de Rosewood. Reassistir à 1ª temporada de ‘Pretty Little Liars’ em 2025 não é apenas um exercício de nostalgia; é um choque de realidade. O que em 2010 parecia um thriller adolescente glamoroso, hoje se revela como um catálogo de comportamentos predatórios e negligência sistêmica, camuflados por filtros de Instagram e figurinos de grife.

A série, que definiu a estética do canal ABC Family (futuro Freeform), fundamentou-se em uma premissa viciante: quatro amigas unidas pelo desaparecimento de sua abelha-rainha e atormentadas por um stalker onisciente. Mas, ao remover as camadas de suspense, o que sobra é uma análise perturbadora sobre como a cultura pop da década passada romantizava o perigo.

O ‘romance’ de Aria e Ezra: do épico ao predatório

O 'romance' de Aria e Ezra: do épico ao predatório

Não há como fugir do elefante na sala: o relacionamento entre Aria Montgomery e Ezra Fitz. Em 2010, a série usava baladas acústicas e uma iluminação difusa, quase onírica, para nos convencer de que estávamos diante de um amor proibido ao estilo ‘Romeu e Julieta’. Hoje, a lente é outra. Ezra Fitz não era um herói romântico; era um predador em posição de autoridade.

O fato de Ezra descobrir que Aria era sua aluna e, ainda assim, prosseguir com o envolvimento físico e emocional, é o exemplo definitivo de grooming (aliciamento). A narrativa da 1ª temporada trabalha ativamente para que o espectador sinta medo de que eles sejam pegos, em vez de sentir medo pelo bem-estar de uma menor de idade. Reassistir a cena do primeiro episódio no bar, agora sabendo que Ezra tinha plena consciência de quem Aria era (conforme revelado em temporadas futuras), transforma o romance em um thriller de horror psicológico.

Amizade ou pacto de sobrevivência?

Um dos pilares da série é a suposta amizade inquebrável entre as protagonistas. No entanto, a 1ª temporada deixa claro que Aria, Spencer, Emily e Hanna não tinham afinidade real; elas tinham Alison DiLaurentis. A dinâmica de grupo era baseada em como cada uma servia aos propósitos de manipulação de Ali.

Sem o desaparecimento e as mensagens de ‘A’, essas garotas provavelmente nunca mais se falariam após o funeral. O que a série vende como lealdade é, na verdade, uma resposta traumática coletiva. Elas se mantêm juntas porque são as únicas que conhecem as mentiras umas das outras. É um relacionamento transacional: o silêncio de uma garante a segurança da outra. Romantizar essa codependência como ‘amizade verdadeira’ é uma das verdades mais incômodas da obra.

A cinematografia do segredo: por que ainda funciona?

A cinematografia do segredo: por que ainda funciona?

Tecnicamente, a 1ª temporada ainda impressiona pelo uso de cores e enquadramentos. Rosewood é filmada como uma cidade de bonecas — perfeita por fora, oca e perigosa por dentro. O uso frequente de close-ups extremos nos olhos das atrizes enfatiza a paranoia constante. A trilha sonora, liderada pelo tema icônico ‘Secret’ de The Pierces, estabelece o tom de que em Rosewood, a verdade é a moeda mais cara.

Entretanto, essa mesma estética serve para esconder a ausência de adultos funcionais. Se você observar os planos de fundo, os pais estão sempre em salas adjacentes, fora de foco ou fisicamente distantes. A negligência parental não é apenas um furo de roteiro, é uma escolha estética que isola as Liars em um vácuo onde apenas o stalker tem poder real.

Spencer Hastings e a meritocracia do trauma

Spencer é frequentemente citada como a personagem mais inteligente, mas a 1ª temporada revela uma faceta cruel. Sua competitividade, herdada de uma família disfuncional que mede amor por troféus, a leva a trair a própria irmã repetidamente. A série tenta suavizar as ações de Spencer focando em seu intelecto, mas o padrão de comportamento — roubar o noivo de Melissa e plagiar ensaios — mostra uma personagem que, naquele momento, não era muito diferente da vilania que ela tentava combater.

O legado ambíguo de Rosewood

‘Pretty Little Liars’ foi pioneira na interação com fãs via redes sociais, mas seu conteúdo envelheceu como leite em vários aspectos. Desde a morte descartável de Maya — que inaugurou o tropo de eliminar personagens LGBTQ+ sem propósito narrativo real — até a normalização de Caleb espionando Hanna por dinheiro, a 1ª temporada é um lembrete de que o que consumimos como entretenimento leve há 15 anos era, na verdade, profundamente problemático.

Ainda é possível se divertir com os mistérios de Rosewood? Sim. Mas fazê-lo sem uma visão crítica em 2025 é ignorar o quanto evoluímos na compreensão de relacionamentos, consentimento e saúde mental na adolescência.

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Perguntas Frequentes sobre a 1ª temporada de ‘Pretty Little Liars’

Onde posso assistir à 1ª temporada de ‘Pretty Little Liars’ atualmente?

Atualmente, todas as sete temporadas de ‘Pretty Little Liars’ estão disponíveis no catálogo da Max (antiga HBO Max) e para compra/aluguel em plataformas como Amazon Prime Video.

Qual é a idade de Aria e Ezra na primeira temporada?

Na trama, Aria Montgomery tem 16 anos e está no segundo ano do ensino médio, enquanto Ezra Fitz tem cerca de 22 a 23 anos e é seu professor de literatura. Essa diferença e a posição de poder tornam a relação ilegal e antiética.

Quem é o verdadeiro ‘A’ na 1ª temporada?

Embora o mistério se estenda, a revelação final da segunda temporada confirma que Mona Vanderwaal foi a ‘A’ original durante toda a primeira temporada, motivada pelo bullying sofrido por Alison e pelas outras meninas.

A série é baseada em livros?

Sim, a série é uma adaptação da popular saga literária homônima escrita por Sara Shepard. Embora a 1ª temporada siga fielmente o início dos livros, a série de TV tomou rumos muito diferentes nas temporadas posteriores.

Por que a relação de Ezra e Aria é considerada problemática hoje?

Hoje a relação é vista como predatória devido ao ‘grooming’. Ezra era um adulto em posição de autoridade sobre uma menor de idade. Além disso, revelações posteriores mostram que ele se aproximou dela intencionalmente para escrever um livro, o que configura exploração emocional.

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Lucas Lobinco
Lucas Lobinco
Sou o Lucas, e minha paixão pelo cinema começou com as aventuras épicas e os clássicos de ficção científica que moldaram minha infância. Para mim, cada filme é uma nova oportunidade de explorar mundos e ideias, uma janela para a criatividade humana. Minha jornada não foi nos bastidores da produção, mas sim na arte de desvendar as camadas de uma boa história e compartilhar essa descoberta. Sou movido pela curiosidade de entender o que torna um filme inesquecível, seja a complexidade de um personagem, a inovação visual ou a mensagem atemporal. No Cinepoca, meu foco é trazer uma perspectiva única, mergulhando fundo nos detalhes que fazem um filme valer a pena, e incentivando você a ver a sétima arte com novos olhos.Tenho um apreço especial por filmes de ação e aventura, com suas narrativas grandiosas e sequências de tirar o fôlego. A comédia de humor negro e os thrillers psicológicos também me atraem, pela forma como subvertem expectativas e exploram o lado mais sombrio da psique humana. Além disso, estou sempre atento às novas vozes e tendências que surgem na indústria, buscando os próximos grandes talentos e as histórias que definirão o futuro do cinema.

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