Analisamos por que a formação original dos X-Men de 1963 falhou comercialmente e como a era de Chris Claremont transformou o título em um fenômeno global. Entenda por que a diversidade internacional e o drama de equipe são o único caminho viável para o sucesso dos mutantes no MCU.
Existe uma verdade que historiadores de quadrinhos conhecem bem, mas que o grande público raramente discute: os X-Men originais eram, em sua concepção, um fracasso criativo. Diferente do Quarteto Fantástico ou do Homem-Aranha, a primeira incursão de Stan Lee e Jack Kirby no mundo mutante em 1963 carecia daquela faísca de humanidade que definiu a Marvel. Eles eram anêmicos, monocromáticos e, por quase uma década, o título foi mantido no ‘suporte de vida’ apenas com reprises.
A verdadeira alma dos mutantes que amamos hoje não nasceu em 1963, mas em 1975, com a chegada de Chris Claremont e a lendária edição ‘Giant-Size X-Men #1’. Entender por que a formação original falhou — e por que a ‘Era Claremont’ se tornou o padrão ouro — é essencial para prever o que Kevin Feige fará com o grupo no MCU.
O erro genético da formação de 1963
Stan Lee admitiu abertamente que a origem mutante foi uma saída preguiçosa: ele estava cansado de inventar acidentes radioativos e decidiu que eles apenas ‘nasciam assim’. O problema não era o conceito, mas a execução. Cyclops, Jean Grey, Beast, Angel e Iceman eram cinco jovens brancos, americanos e de classe média-alta vivendo em uma mansão em Westchester.
Visualmente, eram indistinguíveis. Os uniformes azuis e amarelos idênticos — os chamados ‘training suits’ — eliminavam qualquer individualidade. Enquanto o Quarteto Fantástico era uma família disfuncional, os X-Men originais pareciam uma boy band de superpoderes sem um vocalista principal carismático. Faltava o conflito interno que tornava a Marvel real. Eles eram bons alunos obedecendo a um mentor; faltava-lhes a urgência de quem realmente é odiado e temido.
1975: O dia em que os X-Men se tornaram globais
Quando Chris Claremont assumiu (herdando o pontapé inicial de Len Wein), ele entendeu algo que Lee ignorou: a mutação deveria ser uma metáfora para a marginalização. Para isso, o time precisava de diversidade real, não apenas de poderes diferentes.
A entrada de Wolverine (canadense), Tempestade (queniana), Noturno (alemão) e Colossus (soviético, em plena Guerra Fria) mudou a gramática visual e narrativa da revista. De repente, tínhamos um católico devoto com aparência de demônio, uma deusa africana que nunca tinha visto um arranha-céu e um mutante russo que era o coração gentil do grupo. Os uniformes individuais de Dave Cockrum não eram apenas estéticos; eles eram declarações de identidade. A mansão Xavier deixou de ser uma escola preparatória para se tornar um refúgio de exilados.
A química do ‘Fastball Special’ vs. o Vazio de 63
A era Claremont introduziu o que chamamos de ‘dinâmica de equipe orgânica’. O ‘fastball special’ (a manobra onde Colossus arremessa Wolverine) é o exemplo técnico perfeito. Não é apenas um golpe; é uma demonstração de confiança absoluta entre dois homens de mundos opostos.
Nos originais, os diálogos eram expositivos e as tensões eram superficiais. Com Claremont, as brigas entre Cyclops e Wolverine sobre liderança e ética eram viscerais porque vinham de filosofias de vida conflitantes. Scott Summers era o soldado que só conhecia a disciplina de Xavier; Logan era o sobrevivente cínico que já tinha visto o pior da humanidade. Essa fricção é o que gera as melhores histórias, e os originais simplesmente não tinham essas arestas.
Por que Hollywood foge dos cinco fundadores
Observe a trajetória da Fox: eles nunca tiveram coragem de fazer um filme focado apenas nos cinco originais. Mesmo em ‘X-Men: Primeira Classe’, que deveria ser a origem, o diretor Matthew Vaughn precisou injetar personagens da era Claremont ou formações posteriores (como Emma Frost e Azazel) para dar textura ao filme. Eles sabiam que cinco adolescentes idênticos em uniformes de ginástica não sustentariam o interesse do público moderno.
As animações, de 1992 a ‘X-Men ’97’, também fazem o mesmo: usam a base de Claremont como o ‘elenco definitivo’. A força da marca X-Men reside na sua capacidade de ser um espelho do mundo — e o mundo de 1963 de Lee e Kirby era pequeno demais para a grandiosidade da metáfora mutante.
O futuro no MCU: A lição de Kevin Feige
A Marvel Studios não cometerá o erro de tentar um ‘reboot’ purista de 1963. Kevin Feige já provou com ‘Guardiões da Galáxia’ que adora grupos de desajustados com personalidades conflitantes. O caminho para o sucesso dos mutantes no cinema passa obrigatoriamente pela internacionalização e pelo drama interpessoal denso que Claremont aperfeiçoou.
Veremos Cyclops e Jean? Certamente. Mas eles serão o centro de um furacão de culturas e egos, não apenas líderes de uma turma de escola bem-comportada. A era Claremont não foi apenas uma fase; ela foi a verdadeira fundação do que torna os X-Men a franquia mais importante da Marvel quando o assunto é profundidade humana.
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Perguntas Frequentes sobre os X-Men
Quem são os 5 X-Men originais de 1963?
A formação original criada por Stan Lee e Jack Kirby contava com: Cyclops (Scott Summers), Jean Grey (Garota Marvel), Beast (Fera), Angel (Anjo) e Iceman (Homem de Gelo).
Por que a fase de Chris Claremont é considerada a melhor?
Claremont escreveu os X-Men por 16 anos consecutivos, introduzindo diversidade internacional (Wolverine, Tempestade, Noturno) e arcos lendários como ‘A Saga da Fênix Negra’ e ‘Dias de um Futuro Esquecido’, focando no desenvolvimento emocional e social dos personagens.
Qual é a melhor porta de entrada para os quadrinhos dos X-Men?
Para novos leitores, recomenda-se começar por ‘Giant-Size X-Men #1’ (1975) ou pela fase moderna ‘House of X/Powers of X’ de Jonathan Hickman, que redefine os mutantes para a atualidade.
Onde posso assistir à nova série X-Men ’97?
X-Men ’97, que continua a história da clássica animação dos anos 90 e utiliza a formação da era Claremont, está disponível exclusivamente no Disney+.

