Analisamos por que ‘Divisão Criminal’ (The Closer) virou fenômeno na Netflix 20 anos após sua estreia. Entenda como o carisma de Kyra Sedgwick e a precisão de J.K. Simmons provam que o bom e velho procedural ainda supera os thrillers sombrios da atualidade.
Há um fenômeno curioso acontecendo no streaming: enquanto as plataformas investem bilhões em thrillers sombrios e experimentais, o público parece estar buscando refúgio no passado. ‘Divisão Criminal’ (‘The Closer’) na Netflix é o mais novo exemplo dessa tendência. A série, que estreou originalmente em 2005, escalou o Top 10 com uma velocidade que muitos originais da casa invejariam. E o motivo é simples: Brenda Leigh Johnson entrega algo que a TV moderna, em sua busca incessante por ser ‘artística’, acabou negligenciando — o carisma puro.
O ‘Efeito Suits’ e o triunfo do procedural clássico
Não é coincidência que ‘Divisão Criminal’ esteja resgatando números expressivos. Vivemos o auge da ‘TV de conforto’. Após o sucesso estrondoso de ‘Suits’, a Netflix entendeu que o espectador quer histórias com começo, meio e fim, ancoradas em personagens que você realmente deseja convidar para entrar na sua sala. Brenda Leigh Johnson (Kyra Sedgwick) é a antítese do detetive moderno torturado e silencioso.
Vice-chefe de polícia de Los Angeles com treinamento da CIA, Brenda traz um sotaque sulista carregado que funciona como uma camuflagem tática. Ela não usa a força; ela usa a palavra. A série entende que o interrogatório é uma peça de teatro, e Brenda é a diretora. É fascinante observar como ela desarma suspeitos com uma cortesia sulista quase exagerada, apenas para fechar a armadilha no último minuto — justificando o título original, ‘The Closer’.
J.K. Simmons: A autoridade antes da explosão de ‘Whiplash’
Para quem conhece J.K. Simmons apenas pelos gritos rítmicos de ‘Whiplash’ ou pelo cinismo de J. Jonah Jameson, sua performance como Will Pope em ‘Divisão Criminal’ é uma aula de contenção. Ele interpreta o superior (e ex-amante) de Brenda, navegando na burocracia política de Los Angeles com uma precisão cirúrgica.
A química entre Simmons e Sedgwick é o que sustenta o núcleo administrativo da série. Ele não precisa gritar para impor autoridade; sua presença é sentida no silêncio e nas trocas de olhares que revelam anos de história compartilhada. É um lembrete do porquê Simmons é um dos atores mais versáteis de sua geração, capaz de ser o porto seguro ou a maior ameaça em cena sem alterar o tom de voz.
A ‘arma secreta’ de Brenda Leigh Johnson: Chocolate e Contradição
Um dos elementos que mais humaniza a série — e que se tornou sua marca registrada — é a relação de Brenda com o açúcar. Em momentos de crise extrema ou após um interrogatório brutal, ela recorre compulsivamente a doces escondidos em suas gavetas. É um detalhe de roteiro brilhante: mostra que mesmo a mente mais brilhante do LAPD tem suas fissuras e mecanismos de escape mundanos.
Tecnicamente, a série mantém o padrão das grandes produções da TNT daquela década. A montagem é ágil, focada nas expressões faciais durante os confrontos na sala de vidro, e a fotografia evita os filtros excessivamente amarelados ou azuis das séries policiais atuais, optando por uma claridade que reflete a luz de Los Angeles, mas mantém a sobriedade do gênero criminal.
Por que maratonar as 7 temporadas agora?
Diferente das produções atuais que sofrem com hiatos de dois anos entre temporadas, ‘Divisão Criminal’ oferece 109 episódios de uma jornada completa. Há uma satisfação narrativa em acompanhar o arco de Brenda, desde sua chegada como uma ‘intrusa’ rejeitada pela equipe até se tornar a espinha dorsal da unidade.
Para quem busca uma análise técnica de como se constrói um caso criminal sem depender de tecnologia milagrosa (o famoso ‘efeito CSI’), a série é um prato cheio. O foco aqui é a psicologia, a mentira e a falha humana. Se você precisa de algo que equilibre o peso do crime com o humor de personagens secundários bem construídos — como a dupla Provenza e Flynn —, ‘Divisão Criminal’ é a escolha lógica para a sua próxima maratona.
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Perguntas Frequentes sobre ‘Divisão Criminal’
Qual o nome original de ‘Divisão Criminal’?
O nome original da série é ‘The Closer’, uma referência à habilidade da protagonista Brenda Leigh Johnson em fechar casos e conseguir confissões de suspeitos difíceis.
Quantas temporadas de ‘Divisão Criminal’ estão na Netflix?
A Netflix disponibilizou todas as 7 temporadas da série, totalizando 109 episódios. A história tem um final definitivo para a protagonista.
‘Divisão Criminal’ e ‘Major Crimes’ são a mesma série?
‘Major Crimes’ é um spin-off direto de ‘Divisão Criminal’. Após a saída de Kyra Sedgwick, a série continuou com quase todo o elenco original, mas focada na personagem Sharon Raydor (Mary McDonnell).
Por que Brenda Leigh Johnson come tantos doces na série?
A compulsão por doces é um traço de personalidade criado para humanizar a personagem e mostrar como ela lida com o estresse de lidar com crimes brutais e a pressão do cargo.
Kyra Sedgwick ganhou prêmios por este papel?
Sim, Kyra Sedgwick foi amplamente aclamada, vencendo o Emmy de Melhor Atriz em Série Dramática em 2010 e o Globo de Ouro na mesma categoria em 2007.

