’10DANCE’: O live-action japonês que traduz a paixão do mangá para a Netflix

Analisamos como ’10DANCE’ na Netflix supera o desafio de adaptar o mangá de Satoh Inoue, usando a técnica da dança de salão para construir uma tensão erótica palpável. Descubra por que a direção de Keishi Otomo e a química do elenco elevam este live-action acima dos romances convencionais.

Existe um desafio hercúleo em adaptar obras onde a estética é o motor da narrativa. A dança de salão no mangá de Satoh Inoue permite corpos que desafiam a física, olhares que se alongam por páginas e uma tensão que habita o espaço em branco entre os quadros. ’10DANCE’ na Netflix não tenta apenas copiar essas imagens; o filme busca traduzir a sensação do papel para o live-action, e o resultado é um dos romances mais tecnicamente precisos do streaming recente.

O diretor Keishi Otomo (conhecido pela saga ‘Rurouni Kenshin’) prova que entende de movimento. Lançado em dezembro, o longa rapidamente escalou o Top 10 global, encontrando ressonância não apenas no Japão, mas em mercados diversos como Taiwan e Venezuela. O sucesso não é acidental: Otomo ignora os cortes frenéticos de videoclipe e filma a dança com a reverência de quem filma um duelo de samurais.

A técnica como tradução da alma

A técnica como tradução da alma

O coração de ’10DANCE’ reside no contraste entre o Standard (clássico, contido, aristocrático) e o Latin (explosivo, rítmico, sensual). Shinya Suzuki e Shinya Sugiki — os protagonistas — não estão apenas trocando passos; eles estão trocando filosofias de vida. Onde o mangá usava hachuras para demonstrar suor e esforço, o filme usa o som: o ranger dos sapatos no tablado e a respiração pesada que interrompe o silêncio do estúdio.

A escolha de Otomo por planos médios e abertos é fundamental. Em vez de esconder a falta de habilidade dos atores com edição picotada, ele permite que vejamos a linha completa dos corpos. Isso dá ao espectador a dimensão real do que está em jogo: a precisão técnica que mascara um desejo crescente.

Takeuchi e Machida: A anatomia da tensão

Se o filme sustenta o interesse mesmo em seus momentos mais lentos, é pela química entre Ryoma Takeuchi e Keita Machida. Eles compreendem que o subtexto de ’10DANCE’ é o que define a obra. Há uma cena de ajuste de postura — um momento puramente técnico no papel — que na tela se transforma em uma sequência de intimidade quase insuportável. As mãos que corrigem o ângulo de um quadril dizem mais do que qualquer linha de diálogo expositivo.

A presença de profissionais como Nadiya Bychkova e Pasquale La Rocca no elenco de apoio não serve apenas para o ‘espetáculo’. Eles estabelecem o padrão de excelência daquele universo, servindo de régua para a evolução dos protagonistas. Você sente a diferença de textura entre a dança competitiva ‘perfeita’ e a dança dos protagonistas, que é carregada de uma hesitação emocional humana.

O ‘Cliffhanger’ narrativo: Frustração ou promessa?

O 'Cliffhanger' narrativo: Frustração ou promessa?

O ponto mais divisivo da produção é sua estrutura. ’10DANCE’ não se comporta como um filme autocontido, mas como o ‘Ato 1’ de uma série ou franquia. Ele termina exatamente quando a tensão atinge o ponto de ebulição, deixando arcos emocionais e competitivos em aberto. Para o leitor do mangá, é uma introdução fiel; para o espectador casual, pode parecer uma interrupção brusca.

No entanto, essa ‘incompletude’ é o que salva o filme de cair nos clichês de romances esportivos genéricos. Ele não tem pressa de entregar o troféu ou o beijo. Ele está interessado no processo de reconhecimento mútuo através do suor. É um filme que confia que o público voltará para a continuação.

Veredito: A dança como confissão

Para quem busca um romance maduro que respeita a inteligência do espectador, ’10DANCE’ é obrigatório. Ele utiliza a linguagem corporal de forma que poucos filmes ocidentais do gênero conseguem. É uma obra que entende que, na dança de salão, o toque é técnico, mas a conexão é inevitável.

Se você aceitar que este é o início de uma jornada e não o destino final, encontrará uma das adaptações de mangá mais elegantes da Netflix. É cinema de sensações, onde o movimento diz tudo o que as palavras não conseguem articular.

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Perguntas Frequentes sobre ’10DANCE’ na Netflix

’10DANCE’ é baseado em um mangá?

Sim, o filme é uma adaptação do aclamado mangá de Satoh Inoue, que começou a ser publicado em 2012 e é conhecido por sua arte detalhada e foco técnico na dança de salão.

O filme da Netflix é um BL (Boys’ Love)?

Sim. ’10DANCE’ explora o romance e a tensão sexual entre dois homens, Shinya Suzuki e Shinya Sugiki, dentro do mundo competitivo da dança de salão.

’10DANCE’ terá uma continuação ou sequência?

Embora a Netflix ainda não tenha confirmado oficialmente uma sequência, o filme termina de forma aberta e cobre apenas os volumes iniciais do mangá, sugerindo que foi planejado como o primeiro capítulo de uma série de filmes.

Os atores principais realmente dançam no filme?

Ryoma Takeuchi e Keita Machida passaram por meses de treinamento intensivo. Embora dublês profissionais sejam usados em manobras extremamente complexas, a maior parte das sequências de dança em plano médio é executada pelos próprios atores para garantir a autenticidade emocional.

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Lucas Lobinco
Lucas Lobinco
Sou o Lucas, e minha paixão pelo cinema começou com as aventuras épicas e os clássicos de ficção científica que moldaram minha infância. Para mim, cada filme é uma nova oportunidade de explorar mundos e ideias, uma janela para a criatividade humana. Minha jornada não foi nos bastidores da produção, mas sim na arte de desvendar as camadas de uma boa história e compartilhar essa descoberta. Sou movido pela curiosidade de entender o que torna um filme inesquecível, seja a complexidade de um personagem, a inovação visual ou a mensagem atemporal. No Cinepoca, meu foco é trazer uma perspectiva única, mergulhando fundo nos detalhes que fazem um filme valer a pena, e incentivando você a ver a sétima arte com novos olhos.Tenho um apreço especial por filmes de ação e aventura, com suas narrativas grandiosas e sequências de tirar o fôlego. A comédia de humor negro e os thrillers psicológicos também me atraem, pela forma como subvertem expectativas e exploram o lado mais sombrio da psique humana. Além disso, estou sempre atento às novas vozes e tendências que surgem na indústria, buscando os próximos grandes talentos e as histórias que definirão o futuro do cinema.

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