Analisamos por que ‘Patriot’, a obra-prima de espionagem do Prime Video, foi sabotada pela própria Amazon. Entenda como o humor absurdo de Steven Conrad e a atuação de Michael Dorman criaram a série mais injustiçada da última década.
Existe um tipo de série que você descobre tarde demais. Geralmente, ela surge quando os fóruns já estão repletos de lamentos, o cancelamento já foi decretado e o algoritmo, em um espasmo de lucidez, finalmente resolve sugerir algo que deveria ter sido prioridade anos antes. ‘Patriot’, série original do Prime Video, é o caso mais emblemático — e doloroso — de como uma plataforma pode ignorar sua própria obra-prima em favor do genérico.
Vou ser direto: ‘Patriot’ é a melhor série de espionagem que a Amazon já produziu. Ela supera ‘Jack Ryan’ em profundidade, originalidade e execução técnica. No entanto, foi tratada como um erro de percurso desde o primeiro episódio.
A anatomia de um thriller existencialista
A premissa, se lida rapidamente, parece saída de um livro de aeroporto: um agente de inteligência americano precisa assumir uma identidade falsa em uma empresa de tubulações para impedir que o Irã obtenha armas nucleares. Mas ‘Patriot’ não está interessada no destino do mundo, e sim no peso que salvar o mundo coloca nos ombros de um homem comum.
John Tavner (interpretado por Michael Dorman com uma melancolia devastadora) é um espião que sofre de depressão clínica. Sua cobertura como funcionário da McMillan o obriga a lidar com o absurdo técnico da “Dinâmica Estrutural do Fluxo” — diálogos repletos de jargões sem sentido que servem como metáfora perfeita para a burocracia vazia da espionagem moderna. É uma comédia de erros vestida de drama político, onde a violência é súbita e as consequências são permanentes.
Por que a Amazon ‘escondeu’ sua melhor série?
O cancelamento de ‘Patriot’ não foi um acidente de audiência, mas uma falha de estratégia. Em 2015, o Prime Video operava sob o sistema de “temporada de pilotos”, onde o público votava no que queria ver. O piloto de ‘Patriot’ foi um sucesso de crítica, mas a primeira temporada completa só chegou em 2017. Dois anos de hiato matam qualquer momentum em uma era de consumo imediato.
Enquanto a Amazon despejava milhões em marketing para ‘Jack Ryan’ — uma aposta segura com John Krasinski e uma narrativa linear — ‘Patriot’ era deixada de lado. A série de Steven Conrad era “estranha” demais para os algoritmos de 2018. Ela exigia atenção, apreciava o silêncio e usava canções de folk music (compostas pelo próprio protagonista) como exposição narrativa. Cada vez que John Tavner sobe em um palco de bar para cantar, em detalhes literais, os crimes que cometeu durante o dia, a série atinge um nível de genialidade que o marketing convencional simplesmente não sabe como vender.
O estilo visual: de Buster Keaton a Wes Anderson
Tecnicamente, ‘Patriot’ é impecável. A fotografia de James Whitaker utiliza planos longos e estáticos que lembram a simetria de Wes Anderson, mas com uma paleta de cores fria e industrial. O timing cômico é puramente visual, bebendo da fonte de Buster Keaton — especialmente nas sequências de ação que frequentemente terminam em situações patéticas ou burocráticas.
Comparar ‘Patriot’ a outras séries de espionagem é injusto. Ela está mais próxima de ‘Fargo’ ou ‘Better Call Saul’ do que de ‘Bourne’. É uma análise sobre a fadiga do dever e o custo da lealdade familiar, personificada na figura do pai de John (Terry O’Quinn), que o empurra para o abismo em nome do patriotismo.
Vale a pena assistir uma série sem final?
A segunda temporada termina em um cliffhanger emocional, não necessariamente narrativo. Embora muitas perguntas fiquem sem resposta, a jornada de 18 episódios é tão recompensadora que o destino se torna secundário. ‘Patriot’ é uma experiência sensorial e intelectual sobre o que significa estar exausto e, ainda assim, ter que dar o próximo passo.
Se você busca adrenalina barata e heróis inabaláveis, o Prime Video tem opções de sobra. Mas se você quer ver o que acontece quando o gênero de espionagem é desconstruído por um autor com voz própria, ‘Patriot’ é obrigatória. É o lembrete de que, às vezes, as melhores histórias são aquelas que o sistema tentou silenciar.
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Perguntas Frequentes sobre a série ‘Patriot’
Onde posso assistir à série ‘Patriot’?
‘Patriot’ é uma produção original da Amazon e está disponível exclusivamente no catálogo do Prime Video em todo o mundo.
Por que ‘Patriot’ foi cancelada na 2ª temporada?
A série ‘Patriot’ tem um final satisfatório?
Não há uma conclusão definitiva para a trama de espionagem, pois a série termina em um cliffhanger. No entanto, o arco emocional do protagonista na segunda temporada oferece um fechamento temático poderoso.
‘Patriot’ é baseada em uma história real ou livro?
Não. A série é uma criação original de Steven Conrad, que também escreveu e dirigiu grande parte dos episódios, imprimindo seu estilo único de humor absurdo.
Qual é a classificação indicativa de ‘Patriot’?
A série é recomendada para maiores de 16 ou 18 anos (dependendo da região), devido a cenas de violência gráfica, uso de drogas e linguagem adulta.
