De Rian Johnson a Tessa Thompson, estrelas e diretores de Hollywood revelam seus filmes de Natal favoritos — e o que suas escolhas dizem sobre nostalgia, memória afetiva e por que ‘Duro de Matar’ é, sim, filme de Natal.
Todo dezembro, a mesma discussão ressurge: qual é o melhor filme de Natal? Mas existe uma pergunta mais interessante — e mais reveladora: o que as pessoas que fazem filmes assistem quando querem entrar no clima natalino? As respostas, coletadas pelo Screen Rant em sua série de entrevistas de fim de ano, mostram que os filmes de Natal favoritos de Hollywood vão do óbvio ao surpreendente, do clássico ao controverso.
E o mais fascinante não são apenas as escolhas em si, mas o que elas revelam sobre como artistas se relacionam com nostalgia, memória afetiva e aquela sensação específica que só dezembro consegue evocar.
O clássico que une gerações: ‘Uma História de Natal’ domina as escolhas
Se existe um padrão entre as respostas, é a presença constante de ‘Uma História de Natal’ (1983). Brendan Fraser foi direto ao ponto: “Eu sempre vou assistir ‘Uma História de Natal’. Red Ryder BB gun. ‘You’ll shoot your eye out, kid.’ Amo.” Rian Johnson compartilha não apenas a preferência, mas uma memória específica: “Lembro de ver ‘Uma História de Natal’ com meu pai no cinema, e esse filme tem algumas memórias primordiais maravilhosas, como pedir uma espingarda de chumbinho de Natal naquele ano.”
O diretor Michael Showalter, que acaba de lançar seu próprio filme natalino, também elegeu o filme de Bob Clark: “Amo a autenticidade daquela história, como ela parece real, e como é engraçada e nostálgica.” Existe algo interessante aqui — profissionais que passam o ano inteiro construindo ficções escolhem, para seu próprio consumo, um filme que se destaca justamente pela veracidade emocional. Não é sobre Papai Noel ou milagres; é sobre ser criança, querer algo desesperadamente e lidar com a decepção e a alegria que vêm junto.
A eterna batalha: ‘Duro de Matar’ é ou não é filme de Natal?
Tessa Thompson não hesitou nem por um segundo. Quando perguntada sobre seu filme de Natal favorito, a resposta veio em uma palavra: “‘Duro de Matar’!” Michael Showalter concorda: “‘Duro de Matar’ é um ótimo filme de Natal!” Robert Patrick, que esteve em ‘Duro de Matar 2’, menciona o clássico de John McTiernan como parte do repertório familiar.
A inclusão de ‘Duro de Matar’ nessas listas não é provocação — é reconhecimento de que filmes de Natal não precisam ser sobre Natal para funcionar como filmes de Natal. O que importa é a associação afetiva, a tradição de assistir todo ano, aquela sensação de “agora sim começou dezembro”. Se você assiste ‘Duro de Matar’ todo dia 24 desde 1988, ele é seu filme de Natal. Ponto.
Macaulay Culkin e o peso de ser sinônimo de dezembro
Ninguém carrega o fardo do Natal cinematográfico como Macaulay Culkin. Aos 44 anos, ele ainda é abordado sobre ‘Esqueceram de Mim’ — especialmente no quarto trimestre. “Honestamente, é meio que perene. Recebo isso o tempo todo, mas definitivamente tem um pico bem na época do Natal. Sou muito popular no quarto trimestre de todo ano, por algum motivo.”
O mais interessante da entrevista não foi a nostalgia, mas a especulação sobre o destino de Kevin McCallister adulto. A resposta óbvia seria segurança residencial, mas Culkin discorda: “Acho que ele é esperto demais para segurança residencial. Acho que é mais um cara de Quantico.” E então, a alternativa oposta: “Mas também consigo totalmente vê-lo sendo professor de jardim de infância, onde a maior aventura que ele já teve na vida foi quando tinha nove anos. Ele meio que pensou: ‘Beleza, isso foi tanta adrenalina quanto eu preciso. Vou sossegar e ser um romancista calmo e pacífico em algum lugar perto de Walden Pond.'”
É uma resposta que só alguém que viveu com esse personagem por 35 anos poderia dar — a compreensão de que trauma de infância pode levar tanto à hipervigilância quanto à busca por paz absoluta.
‘Esqueceram de Mim’ como fenômeno multigeracional
O filme de Chris Columbus aparece em praticamente todas as listas. Tom Felton escolheu especificamente ‘Esqueceram de Mim 2’, estando em Nova York durante a entrevista — “e acho que realmente vai nevar hoje. A ideia de um Natal branco é adorável.” Jason Fuchs, showrunner de ‘IT: Welcome to Derry’, inclui o filme em sua rotação anual junto com ‘The Holiday’ e ‘Enquanto Você Dormia’. Mike P. Nelson, diretor do novo ‘Silent Night, Deadly Night’, confessa: “Meu filho é fanático por ‘Esqueceram de Mim’, e eu sei que ele é meu filho porque eu era obcecado por ‘Esqueceram de Mim’.”
Jeff Rowe, produtor do curta das Tartarugas Ninja ‘Chrome Alone 2 – Lost in New Jersey’ (o título é uma homenagem direta), foi ainda mais enfático: “É um filme perfeito. Não erra uma batida. Comicamente, emocionalmente. É um mundo tão bonito e tão bem executado.”
O que explica essa unanimidade? ‘Esqueceram de Mim’ funciona em múltiplos níveis — é comédia física para crianças, fantasia de empoderamento para pré-adolescentes e, para adultos, uma história sobre família e pertencimento disfarçada de filme de armadilhas caseiras.
As escolhas inesperadas: quando Natal não precisa ser sobre Natal
Kate Winslet surpreendeu com uma escolha britânica e específica: ‘O Fantástico Homem de Neve’ (1982). “É ilustração animada. E é na verdade silencioso, exceto por uma música linda quando um garotinho vai voar com o boneco de neve que ele fez no jardim, e assistimos todo ano. Não é muito longo também. São só uns 35 minutos.” A descrição carinhosa e detalhada revela algo sobre como memórias de infância se cristalizam — não é sobre o filme ser “bom” objetivamente, mas sobre o ritual de assisti-lo.
Lucy Liu mencionou ‘A Noviça Rebelde’ e ‘O Mágico de Oz’ — nenhum dos dois é filme de Natal, mas ambos passavam na TV americana em dezembro quando ela era criança. “Eu os conecto com as festas.” Jim O’Hanlon, diretor irlandês, compartilha a mesma relação com ‘O Mágico de Oz’: “Na Irlanda, onde só tínhamos dois canais, ‘O Mágico de Oz’ passava no Natal. Eu assistia todo ano, e continuei assistindo todo ano sozinho.” Tom Felton riu: “Agora tenho essa imagem de você lá com um conhaque ou algo assim, só assistindo ‘O Mágico de Oz’ este ano.”
Essas escolhas revelam uma verdade sobre filmes de Natal favoritos: eles são menos sobre o conteúdo e mais sobre o contexto em que foram assistidos pela primeira vez.
‘A Felicidade Não Se Compra’ e ‘Elf’: os consensos de Hollywood
Robert Patrick citou ‘A Felicidade Não Se Compra’ como favorito familiar. Rian Johnson o chamou de “provavelmente o clássico definitivo”. Michael Showalter disse que já viu “dezenas de vezes”. O filme de Frank Capra de 1946 permanece como o padrão-ouro do gênero — e sua presença constante nas listas de profissionais de Hollywood sugere que mesmo quem faz filmes reconhece que alguns clássicos são imbatíveis.
‘Elf’ (2003) aparece como o favorito moderno. Kent Seki, que trabalhou no filme, ainda o assiste todo ano: “Acho que há algo nele que é tão puro no que é. Não é cínico, e acho que isso é uma coisa que eu volto muito nas festas — não ser cínico e ser otimista.” Mike P. Nelson lembra de ter odiado os trailers antes de assistir: “E então eu assisti, e nunca vou esquecer, eu só pensei: ‘Esse pode ser um dos melhores filmes de Natal de todos os tempos.’ Não acreditei que tinha odiado isso.”
O que essas escolhas dizem sobre fazer e consumir cinema
Existe um padrão curioso quando você analisa as respostas em conjunto. Diretores e atores que passam o ano inteiro criando ficções elaboradas, com orçamentos milionários e tecnologia de ponta, escolhem para seu próprio consumo natalino filmes que são, em sua maioria, simples. Histórias de família, nostalgia de infância, comédia física, sentimentalismo sem ironia.
Não há escolhas de “cinema de arte” aqui. Ninguém citou Tarkovsky ou Bergman. As escolhas são populares, acessíveis, muitas vezes infantis. E isso não é contradição — é complemento. Quem trabalha com complexidade narrativa o ano inteiro talvez precise, em dezembro, de algo que funcione em um nível mais básico e emocional.
Lucy Liu capturou essa dinâmica ao falar sobre ‘Operação Natal’, o primeiro filme live-action que seu filho a viu fazer: “Não tento promover meu próprio filme, mas esse é o único filme que sempre vou lembrar porque ele conseguiu se conectar com ele sem eu ser uma voz em algo como Tinkerbell ou Kung Fu Panda. É o eu físico.” Para ela, o filme de Natal favorito não é sobre qualidade cinematográfica — é sobre conexão.
E talvez seja isso que todos esses filmes de Natal favoritos têm em comum: não são necessariamente os melhores filmes, mas são os que nos conectam a algo — uma memória, uma pessoa, uma versão de nós mesmos que ainda acredita em magia de dezembro.
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Perguntas Frequentes sobre Filmes de Natal Favoritos de Hollywood
Qual é o filme de Natal favorito de Macaulay Culkin?
Curiosamente, Macaulay Culkin não citou ‘Esqueceram de Mim’ como seu favorito pessoal nas entrevistas. O ator tem uma relação complexa com o filme que o tornou famoso, reconhecendo que é “muito popular no quarto trimestre” mas mantendo certa distância irônica do legado.
‘Duro de Matar’ é considerado filme de Natal?
Para muitos profissionais de Hollywood, sim. Tessa Thompson e Michael Showalter citaram ‘Duro de Matar’ como filme de Natal favorito. O consenso entre cineastas é que o que define um filme de Natal não é necessariamente o tema, mas a tradição de assisti-lo todo dezembro.
Qual filme de Natal mais aparece nas listas de favoritos de Hollywood?
‘Uma História de Natal’ (1983) e ‘Esqueceram de Mim’ (1990) são os mais citados. ‘A Felicidade Não Se Compra’ (1946) aparece como o clássico definitivo, enquanto ‘Elf’ (2003) é o favorito moderno mais mencionado.
Qual é o filme de Natal favorito de Kate Winslet?
Kate Winslet escolheu ‘O Fantástico Homem de Neve’ (The Snowman, 1982), uma animação britânica de 35 minutos quase totalmente silenciosa. A atriz descreveu como assiste o curta com a família todo ano como tradição.
Por que atores e diretores escolhem filmes simples para o Natal?
Profissionais que trabalham com narrativas complexas o ano inteiro tendem a buscar simplicidade emocional em dezembro. Nenhum entrevistado citou cinema de arte — as escolhas são populares, nostálgicas e conectadas a memórias de infância, não a critérios técnicos.

