Jenna Ortega antes de ‘Wandinha’: 10 papéis que moldaram sua carreira

De ‘Jane a Virgem’ a ‘X: A Marca da Morte’, a trajetória de Jenna Ortega revela uma construção de carreira surpreendentemente estratégica. Analisamos como cada papel — do Disney Channel ao terror adulto — funcionou como laboratório para a contenção emocional que definiu Wandinha Addams.

Existe um tipo de trajetória em Hollywood que parece óbvia em retrospecto, mas que só faz sentido quando você conecta os pontos. A carreira de Jenna Ortega é exatamente isso: uma construção meticulosa que, vista de longe, parece um caminho direto até Wandinha — mas que, analisada de perto, revela escolhas surpreendentemente estratégicas para uma atriz que começou na Disney Channel.

O que impressiona não é apenas o volume de trabalho acumulado antes dos 20 anos. É a clareza de intenção. Ortega não ficou presa no limbo que engole tantos ex-atores mirins. Ela usou cada papel como laboratório, testando registros, gêneros e níveis de intensidade até encontrar seu território natural: o terror psicológico e os dramas que exigem contenção emocional. ‘Wandinha’ não foi um acidente. Foi consequência.

Da Disney ao terror: uma transição que poucos conseguem

Da Disney ao terror: uma transição que poucos conseguem

A maioria dos atores que saem de séries infantis passa anos tentando se livrar da imagem construída. Ortega fez diferente. Em vez de rejeitar completamente o período Disney, ela extraiu dele o que precisava — timing cômico, experiência com protagonismo, resistência física de gravações extensas — e partiu para o próximo estágio sem olhar para trás.

‘A Irmã do Meio’ (2016-2018) foi seu primeiro papel principal. Como Harley Diaz, a filha do meio de uma família com sete crianças, Ortega carregou uma série inteira nas costas aos 13 anos. O programa era leve, familiar, previsível. Mas exigia algo que poucos percebem: a capacidade de ser o centro gravitacional de um elenco caótico sem parecer forçada. Ela aprendeu a liderar.

O salto seguinte foi ‘Jane a Virgem’. Interpretar a versão jovem de Gina Rodriguez parece simples no papel — flashbacks, algumas cenas por episódio. Na prática, exigia algo tecnicamente difícil: espelhar maneirismos, ritmo de fala e nuances emocionais de outra atriz de forma convincente. Ortega fez isso ao longo de cinco temporadas, aparecendo com frequência suficiente para que a continuidade dependesse dela. Foi um curso intensivo em precisão.

O ponto de virada: ‘A Vida Depois’ e a descoberta do registro dramático

Se existe um filme que divide a carreira de Ortega em “antes” e “depois”, é ‘A Vida Depois’ (2021). O longa de Megan Park sobre o trauma de sobreviventes de um tiroteio escolar colocou Ortega em território completamente diferente de tudo que ela havia feito.

Como Vada, uma adolescente processando culpa e luto, Ortega demonstrou algo raro: a capacidade de comunicar devastação emocional através de contenção. Não há cenas de choro catártico ou explosões dramáticas. O que existe é uma jovem tentando funcionar enquanto algo dentro dela está quebrado. A atuação é quase toda interna, e funciona precisamente por isso.

Críticos notaram. ‘A Vida Depois’ estabeleceu Ortega como uma atriz dramática séria, não apenas uma ex-Disney com potencial. Foi também o primeiro sinal claro de que ela gravitava em direção a material mais sombrio — não por rebeldia adolescente, mas por afinidade genuína.

‘Você’ e a arte de roubar cenas de Penn Badgley

Aparecer na segunda temporada de ‘Você’ poderia ter sido apenas mais um papel coadjuvante em série de streaming. Ortega transformou em vitrine. Como Ellie Alves, a vizinha adolescente que se envolve na órbita perturbadora de Joe Goldberg, ela conseguiu algo difícil: parecer vulnerável e inteligente ao mesmo tempo, sem que uma característica anulasse a outra.

O mais impressionante foi segurar cenas com Penn Badgley, um ator com décadas de experiência que domina completamente o tom da série. Ortega não tentou competir. Encontrou seu espaço, trouxe uma camada de realismo emocional que contrastava com a teatralidade controlada de Badgley, e saiu do papel mais visível do que entrou.

A consolidação no terror: de ‘X: A Marca da Morte’ a ‘Pânico’

2022 foi o ano em que Ortega plantou sua bandeira definitivamente no território do horror. E fez isso não com um filme, mas com três — cada um exigindo algo diferente dela.

‘X: A Marca da Morte’, de Ti West, é um slasher setentista que homenageia o cinema de exploração da época. Ortega interpreta Lorraine, uma jovem religiosa que passa por uma transformação ao longo do filme. O arco vai de repressão a curiosidade a terror absoluto, e Ortega navega cada estágio com comprometimento total. Não é fácil atuar em um filme que flerta conscientemente com o trash sem parecer que você está acima do material. Ela encontrou o equilíbrio.

No mesmo ano, ‘Pânico’ (2022) a colocou no centro de uma das franquias mais importantes do gênero. A sequência de abertura — onde Tara Carpenter é atacada e sobrevive — foi desenhada para ecoar a icônica cena de Drew Barrymore no original de 1996. É muita pressão para qualquer atriz. Ortega não apenas sobreviveu à comparação; entregou uma das aberturas mais tensas da franquia.

‘Pânico VI’ (2023) expandiu o papel de Tara, dando a Ortega mais espaço para explorar as consequências emocionais do trauma. Se o primeiro filme exigia intensidade física, o segundo pediu profundidade psicológica. Ela entregou ambos.

Os experimentos menores: ‘Terror no Estúdio 666’ e ‘Pânico Americano’

Os experimentos menores: 'Terror no Estúdio 666' e 'Pânico Americano'

Nem todo filme na trajetória de Ortega é uma obra-prima. Alguns são claramente experimentos — e isso também faz parte de uma carreira bem construída.

‘Terror no Estúdio 666’ é um horror-comédia estrelado pelo Foo Fighters que não deveria funcionar, e de fato divide opiniões. Ortega aparece como uma vizinha pega no caos sobrenatural que cerca o estúdio de gravação da banda. O filme é irregular, mas sua performance consegue ancorar as cenas mais absurdas com tensão genuína. É o tipo de projeto que permite testar limites sem grandes riscos.

‘Pânico Americano’ (2022), um thriller político sobre imigração e violência, teve recepção mista. Mas, novamente, críticos destacaram Ortega como o elemento mais consistente do filme. Sua capacidade de transmitir medo e resiliência sem exagero manteve o material aterrado quando o roteiro ameaçava derrapar.

‘A Garota de Miller’: o papel mais arriscado

Se ‘A Vida Depois’ mostrou que Ortega podia fazer drama sério, ‘A Garota de Miller’ (2024) mostrou que ela não tinha medo de controvérsia. O thriller psicológico sobre dinâmicas de poder entre uma aluna e seu professor (Martin Freeman) dividiu audiências pela natureza do tema.

O filme em si recebeu críticas polarizadas. A performance de Ortega, não. Críticos reconheceram sua capacidade de carregar material difícil com controle e complexidade, sem transformar a personagem em caricatura ou vítima unidimensional. É o tipo de papel que muitas atrizes evitariam. Ortega abraçou.

O padrão que emerge: contenção como superpoder

O padrão que emerge: contenção como superpoder

Olhando para o conjunto de filmes de Jenna Ortega antes de ‘Wandinha’, um padrão fica evidente. Ela gravita consistentemente para papéis que exigem o que muitos atores jovens não conseguem: menos, não mais.

Em ‘A Vida Depois’, o luto é interno. Em ‘Você’, a inteligência é silenciosa. Em ‘X: A Marca da Morte’, a transformação é gradual. Mesmo nos filmes de ‘Pânico’, onde gritos são parte do contrato, Ortega encontra momentos de quietude que amplificam o terror ao redor.

Wandinha Addams, no fim das contas, é a síntese perfeita dessa abordagem. Uma personagem definida pela ausência de expressão emocional óbvia, que comunica tudo através de microexpressões e timing. Ortega não precisou aprender a fazer isso para a série. Ela passou anos praticando.

O que a trajetória revela sobre o futuro

A carreira pré-Wandinha de Ortega não é apenas uma lista de créditos. É um mapa de intenções. Ela escolheu terror quando poderia ter ficado em comédias teen. Escolheu dramas difíceis quando poderia ter jogado seguro. Escolheu papéis coadjuvantes em projetos interessantes em vez de protagonismos em projetos genéricos.

O resultado é uma atriz que chegou ao estrelato mainstream com um repertório que a maioria dos colegas de geração não tem. Ela sabe fazer comédia (Disney), drama contido (‘A Vida Depois’), terror físico (‘Pânico’), terror atmosférico (‘X’), e personagens moralmente ambíguas (‘A Garota de Miller’). Não é versatilidade forçada. É construção deliberada.

Para quem quer entender por que ‘Wandinha’ funcionou tão bem, a resposta não está apenas no roteiro ou na direção de Tim Burton. Está nos dez anos anteriores. Cada papel que Ortega fez antes contribuiu com uma peça do quebra-cabeça. Quando a oportunidade certa apareceu, ela já tinha todas as ferramentas necessárias. Só precisava usá-las.

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Perguntas Frequentes sobre Jenna Ortega

Qual foi o primeiro filme de Jenna Ortega?

O primeiro filme de Jenna Ortega foi ‘Iron Man 3’ (2013), onde ela teve uma pequena participação como a Vice-Presidente Rodriguez. Antes disso, ela já havia aparecido em séries de TV como ‘Rob’ (2012) e ‘CSI: NY’.

Quantos anos Jenna Ortega tinha quando fez ‘Wandinha’?

Jenna Ortega tinha 19 anos durante as gravações de ‘Wandinha’ em 2022. A série estreou na Netflix em novembro do mesmo ano, quando ela já havia completado 20 anos.

Jenna Ortega está em quais filmes de terror?

Os principais filmes de terror de Jenna Ortega são: ‘Pânico’ (2022), ‘Pânico VI’ (2023), ‘X: A Marca da Morte’ (2022), ‘Terror no Estúdio 666’ (2022) e ‘Pânico Americano’ (2022). Ela também estará em ‘Beetlejuice Beetlejuice’ (2024).

Onde assistir os filmes de Jenna Ortega?

‘Wandinha’ e ‘Você’ estão na Netflix. ‘X: A Marca da Morte’ está disponível no Prime Video. Os filmes da franquia ‘Pânico’ podem ser alugados no Prime Video e Apple TV. ‘A Vida Depois’ está disponível no Paramount+.

Jenna Ortega foi atriz da Disney?

Sim. Jenna Ortega protagonizou a série ‘A Irmã do Meio’ (Stuck in the Middle) no Disney Channel de 2016 a 2018, interpretando Harley Diaz. Também dublou a Princesa Isabel em ‘Elena de Avalor’.

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Lucas Lobinco
Lucas Lobinco
Sou o Lucas, e minha paixão pelo cinema começou com as aventuras épicas e os clássicos de ficção científica que moldaram minha infância. Para mim, cada filme é uma nova oportunidade de explorar mundos e ideias, uma janela para a criatividade humana. Minha jornada não foi nos bastidores da produção, mas sim na arte de desvendar as camadas de uma boa história e compartilhar essa descoberta. Sou movido pela curiosidade de entender o que torna um filme inesquecível, seja a complexidade de um personagem, a inovação visual ou a mensagem atemporal. No Cinepoca, meu foco é trazer uma perspectiva única, mergulhando fundo nos detalhes que fazem um filme valer a pena, e incentivando você a ver a sétima arte com novos olhos.Tenho um apreço especial por filmes de ação e aventura, com suas narrativas grandiosas e sequências de tirar o fôlego. A comédia de humor negro e os thrillers psicológicos também me atraem, pela forma como subvertem expectativas e exploram o lado mais sombrio da psique humana. Além disso, estou sempre atento às novas vozes e tendências que surgem na indústria, buscando os próximos grandes talentos e as histórias que definirão o futuro do cinema.

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