Ao longo dos séculos, quem acompanha filmes de terror afirma com certeza que os negros sempre morrem primeiro, entretanto, será que isso é verdade? A teoria permanece viva no imaginário coletivo das pessoas até os dias de hoje, e se observarmos títulos como ‘O Iluminado’, ‘Sexta-Feira 13: Parte 8, ‘A Noite dos Mortos-Vivos’, dentre outros, vamos perceber que eles realmente não chegam vivos até o final.
O site ‘Black Horror Movies’, a maior referência sobre o assunto, analisou quase mil produções do gênero e corroborou tal tendência. Cerca de um em cada dois negros morreu durante a história. Sobretudo, vale destacar que nos dias atuais a realidade é diferente, pois com o aumento da diversidade no audiovisual, personagens negros ganham mais complexidade, e perdem menos a vida.
Pode-se pegar como exemplo o tão aclamado ‘Corra’, de 2017, com Daniel Kaluuya dando vida ao protagonista. O filme teve orçamento de apenas 4,5 milhões de dólares, e nas bilheterias surpreendeu absurdamente: arrecadou 250 milhões, conquistou 98% de críticas positivas no ‘Rotten Tomatoes’ e, acima de tudo, levou pra casa o Oscar de melhor roteiro original.

Em 2019, os negros ganharam ainda mais destaque com ‘Nós’, sucesso absoluto que ocupa o primeiro lugar em muitos rankings que classificam os melhores filmes de terror. Além dele, ‘Black Box’, ‘Them’, e as produções brasileiras ‘M-8: Quando a morte socorre a vida’ e ‘Egum’, destacam o horror negro.
Os filmes ainda precisam dar ‘voz decisiva’ para os negros
Nos últimos anos, atores pretos ficaram em evidência nas telinhas, e isso não se prende apenas às histórias de terror. Em outras palavras, os gêneros estão criando oportunidades que ultrapassam a barreira da cor da pele. Em 2020, ‘Lovecraft Country’, escrita por Misha Green, foi uma das maiores apostas da HBO. Entretanto, o canal cancelou a produção na primeira temporada, mas ainda assim o título recebeu 18 indicações ao Emmy, incluindo a de melhor seriado dramático. Claro, não podemos esquecer, também, do fenômeno ‘Pantera Negra’.
Noel dos Santos Carvalho, professor do departamento de multimeios, mídia e comunicação da Unicamp, afirma que ‘O Nascimento de Uma Nação’, de 1915, foi o responsável pela linguagem do cinema clássico americano. O longa em questão carrega o peso por ‘reviver’ a Ku Klux Klan, grupo supremacista branco que torturava e assassinava os negros.

Para o professor, o horror negro não inova sua fórmula, mas apresenta um diferencial significativo: a construção dos personagens. “A grande mudança é trazer negros para o primeiro plano. Personagens complexos são construídos e colocados nesses corpos”.
Sendo assim, os negros estão conquistando seu espaço, mas ainda há ajustes que precisam ser feitos, conforme afirmou o cineasta brasileiro Jeferson De. “Toda empresa sabe que a diversidade é lucrativa. Mas precisa colocar isso em prática e ter pretos decidindo o jogo”.
“De objetos, estamos passando a sujeitos das narrativas. Não nos vemos como massa, mas como indivíduos. Podemos falar em primeira pessoa sobre nossas histórias”, finalizou. Então, você acredita que os negros estão deixando de ser os primeiros a morrer? Para ficar por dentro de tudo que acontece no universo dos filmes, séries e streamings, acompanhe o Cinepoca também pelo Facebook e Instagram!