Três filmes no Prime Video que merecem revisita ou descoberta tardia: o whodunit afiado de ‘Entre Facas e Segredos’, a ficção científica visualmente deslumbrante de ‘Resistência’ e a polêmica continuação musical de ‘Coringa’. Uma seleção para quem cansou das recomendações óbvias do algoritmo.
Fim de semana chegando e você já passou por todas as recomendações óbvias do algoritmo. Entendo. O Prime Video tem um catálogo extenso, mas encontrar algo que realmente valha as duas horas de investimento exige garimpo. Por isso, montei uma seleção diferente: três filmes Prime Video fim de semana que merecem uma segunda chance — seja porque você pulou na época do lançamento, seja porque a recepção inicial não fez justiça ao que eles oferecem.
E olha, não estou falando de “clássicos esquecidos” ou “pérolas escondidas” no sentido clichê. São filmes recentes, com elencos de peso, que por um motivo ou outro não encontraram seu público na hora certa. O fim de ano é época de revisitar, reconsiderar, dar aquela chance que a correria do dia a dia não permitiu. Vamos lá.
‘Entre Facas e Segredos’: o whodunit que reacendeu um gênero inteiro
Vou começar pelo mais seguro da lista porque, se você ainda não viu ‘Entre Facas e Segredos’, está perdendo um dos filmes mais divertidos da última década. Rian Johnson pegou a estrutura do mistério de assassinato clássico — mansão, família rica disfuncional, detetive excêntrico — e injetou uma energia que o gênero não tinha desde Agatha Christie em seu auge.
O que faz o filme funcionar não é apenas o elenco estelar (Daniel Craig, Ana de Armas, Chris Evans, Jamie Lee Curtis, Toni Collette, Christopher Plummer — a lista não para). É a forma como Johnson subverte suas expectativas. Você pensa que sabe quem é o assassino. Depois pensa que estava errado. Depois descobre que a pergunta certa nem era essa. A estrutura narrativa revela o “quem fez” cedo demais — e aí você percebe que o filme nunca foi sobre isso.
Reassisti recentemente e o roteiro continua afiado. Cada linha de diálogo carrega peso, cada personagem secundário tem camadas. A cena do interrogatório em grupo, por exemplo, funciona como masterclass de exposição: Johnson apresenta oito personagens distintos em dez minutos sem que pareça despejo de informação. É o tipo de filme que recompensa atenção — e que funciona ainda melhor na segunda vez, quando você percebe todas as pistas plantadas desde o início.
Com ‘Vivo ou Morto: Um Mistério Knives Out’ chegando à Netflix este mês, agora é a hora perfeita para revisitar (ou descobrir) o original. E entre nós: ‘Entre Facas e Segredos’ continua sendo o melhor da franquia. Às vezes o primeiro acerto é mesmo insuperável.
‘Resistência’: ficção científica que faz muito com pouco
Se você está esperando ‘Avatar: Fogo e Cinzas’ nos cinemas mas quer uma dose de ficção científica visual antes, ‘Resistência’ é a resposta. Gareth Edwards — o mesmo diretor de ‘Godzilla’ (2014) e ‘Rogue One: Uma História Star Wars’ — entregou um dos filmes mais bonitos do gênero nos últimos anos. E fez isso com um orçamento de $80 milhões, uma fração do que blockbusters similares custam.
O visual é impressionante, mas não é só isso. Edwards e o diretor de fotografia Greig Fraser (o mesmo de ‘Duna’) construíram um mundo que parece habitado, vivido, sujo da maneira certa. A estética mistura o Sudeste Asiático com tecnologia retrofuturista — imagine ‘Blade Runner’ se passasse em vilarejos tailandeses em vez de Los Angeles chuvosa. A guerra entre humanos e inteligência artificial não é apresentada como espetáculo vazio — há peso nas escolhas, ambiguidade moral genuína.
John David Washington interpreta Joshua, um soldado em missão para destruir uma arma devastadora. O problema? A arma é uma IA no corpo de uma criança, interpretada por Madeleine Yuna Voyles em uma estreia que rouba cenas de atores veteranos. A dinâmica entre os dois carrega o filme, especialmente na segunda metade quando as certezas de Joshua começam a ruir.
Gemma Chan, Allison Janney e Ken Watanabe completam um elenco que eleva o material. Mas o verdadeiro protagonista aqui é a direção de arte. Cada frame poderia ser um quadro. Se você curte ficção científica que prioriza atmosfera sobre explosões constantes — pense ‘Chegada’ mais que ‘Transformers’ — ‘Resistência’ vai te conquistar.
‘Coringa: Delírio a Dois’: o filme que ninguém esperava (literalmente)
Agora, a entrada polêmica. ‘Coringa: Delírio a Dois’ foi um dos maiores fracassos comerciais de 2024, e a recepção crítica foi dividida, para ser gentil. Mas aqui está minha defesa: o filme não falhou por ser ruim. Falhou por não ser o que as pessoas queriam.
O primeiro ‘Coringa’ virou fenômeno cultural, rendeu um Oscar de Melhor Ator para Joaquin Phoenix e se tornou o filme com classificação R de maior bilheteria da história. Todo mundo esperava uma continuação que dobrasse a aposta no caos e na violência. Todd Phillips entregou um musical de tribunal. A dissonância foi brutal.
Mas se você conseguir deixar as expectativas de lado, há algo genuinamente interessante aqui. A abordagem musical não é gratuita — ela reflete o delírio do protagonista, a forma como Arthur Fleck processa realidade através de fantasia. Os números musicais acontecem na cabeça dele, não no mundo real, e essa distinção importa. É menos ‘La La Land’ e mais ‘Dançando no Escuro’ de Lars von Trier.
Lady Gaga como Harley “Lee” Quinn traz uma energia diferente para a personagem, menos caricata que versões anteriores. A química com Phoenix é estranha, desconfortável — e deveria ser. Não é uma história de amor; é uma codependência tóxica entre duas pessoas quebradas.
Não estou dizendo que é uma obra-prima. O ritmo é irregular, algumas escolhas narrativas frustram mais do que provocam, e o terceiro ato divide opiniões por boas razões. Estou dizendo que merece ser visto pelo que é, não pelo que deveria ter sido. O fim de ano é época de segundas chances, certo? Talvez ‘Coringa: Delírio a Dois’ seja o filme perfeito para assistir sem a pressão de corresponder ao hype — e descobrir se funciona para você.
Por que essa seleção para o fim de semana?
Cada um desses filmes oferece algo diferente. ‘Entre Facas e Segredos’ é diversão garantida, o tipo de filme que você pode ver com a família inteira (maiores de 14, por algumas cenas) e todo mundo sai satisfeito. ‘Resistência’ é para quando você quer ser transportado para outro mundo e sair pensando sobre o que viu — reserve para uma noite em que você possa prestar atenção de verdade. ‘Coringa: Delírio a Dois’ é o curinga da seleção — pode não funcionar para você, mas se funcionar, vai ser uma experiência que fica na cabeça.
Três filmes, três propostas distintas, todos disponíveis no Prime Video agora. O algoritmo não vai te indicar essa combinação. Mas talvez seja exatamente o que seu fim de semana precisa.
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Perguntas Frequentes sobre Filmes no Prime Video
‘Entre Facas e Segredos’ está no Prime Video?
Sim, ‘Entre Facas e Segredos’ (Knives Out, 2019) está disponível no catálogo do Prime Video. As sequências ‘Glass Onion’ e ‘Vivo ou Morto’ são exclusivas da Netflix.
Preciso ter visto o primeiro ‘Coringa’ para entender ‘Delírio a Dois’?
Sim, é recomendado. A sequência continua diretamente a história de Arthur Fleck e assume que você conhece os eventos do primeiro filme, especialmente o julgamento que é central na trama.
Quanto tempo dura ‘Resistência’ (The Creator)?
‘Resistência’ tem 2 horas e 13 minutos de duração. O ritmo é contemplativo, então reserve um momento em que você possa prestar atenção sem interrupções.
‘Coringa: Delírio a Dois’ é um musical?
Parcialmente. O filme tem cerca de 15 números musicais, mas eles acontecem como sequências de fantasia na mente de Arthur Fleck, não como musical tradicional onde personagens cantam no mundo real.
Qual a classificação indicativa desses filmes?
‘Entre Facas e Segredos’ é 14 anos (violência e linguagem). ‘Resistência’ é 14 anos (violência de guerra). ‘Coringa: Delírio a Dois’ é 16 anos (violência, temas adultos e conteúdo perturbador).

